FONTE: Abong
Para discutir o direito à comunicação e à liberdade de expressão, cerca de 300 comunicadores, blogueiros e representantes de movimentos sociais do Brasil se unem a milhares de participantes do mundo inteiro no Fórum Social Mundial 2015, na Universidade El Manar, em Túnis, capital da Tunísia. O evento acontece de 24 a 28 de março e foi antecedido pelo atentado terrorista do dia 18 deste mês, no Museu do Bardo, que deixou 23 mortos.
A diretora Euzilene Nogueira, a Leninha (no centro), do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi e coordenadora do Departamento da Mulher, participa do fórum junto com outros representantes da Força Sindical.
O Fórum Social Mundial – que teve sua primeira edição em 2001, em Porto Alegre (RS) – é um espaço de debate democrático de ideias, reflexão, formulação de propostas de ação, atividades e troca de experiências e articulação entre organizações e movimentos da sociedade civil. 3.500 organizações e movimentos já estão inscritos e 1.900 atividades foram sugeridas para esta edição do evento. As expectativas superam as do último FSM, realizado em 2013. São aguardadas mais de 5 mil organizações e 70 mil pessoas no evento deste ano.
Pela quinta vez no continente africano (edição policêntrica no Mali em 2006, 2007 no Quênia, 2011 no Senegal, 2013 na Tunísia e 2015 na Tunísia novamente), o FSM é o momento para intercâmbio cultural e de experiências entre militantes de coletivos diversos. Alaa Talbi, antropólogo tunisiano e um dos principais organizadores do comitê local do FSM, lembra que a Tunísia começou o processo conhecido como Primavera Árabe, que depois se estendeu para outros países. “Em 2013, o líder opositor tunisiano Chokri Belaid foi assassinado e o FSM conseguiu dar suporte para que o processo democrático continuasse. O papel do FSM é de extrema importância para a consolidação dos movimentos sociais e da participação da socieda de civil nesse contexto.”
Tunísia
A Tunísia vive um complexo processo de transição democrática. Precursor das revoltas árabes que levaram às ruas milhares de pessoas para lutar contra ditaduras, pela liberdade e direitos sociais, cinco anos depois conquistou uma nova Constituição, elegeu democraticamente um novo governo e um novo parlamento. Mas as contradições desse processo são muitas, visíveis nas ruas e presentes nos dados econômicos, que dão conta de mais de um milhão de desempregados, o que num país com 10 milhões de habitantes representa bem mais que 10% da população economicamente ativa. Mais de 25% dos tunisianos vivem abaixo da linha da miséria, com menos de dois dólares por dia.
A nova constituição, considerada uma das mais avançadas do Oriente Médio, dividiu o poder entre o Presidente e o Primeiro Ministro. Pela nova Constituição, a lei islâmica não pode influenciar na legislação. Ao mesmo tempo que reconhece o Islã como religião oficial da Tunísia, permite as punições religiosas. Prevê a liberdade de expressão e a igualdade entre homens e mulheres, mas mantém a pena de morte.
Na esfera política, derrubar a ditadura de Ben Ali foi uma conquista de todos, mas muitos Ministérios e estruturas do Estado ainda permanecem ocupados por representantes do antigo regime. Não é à toa que o resultado das eleições de dezembro de 2014 tenha sido a eleição de Beji Caid Essebsi, representante laico do principal partido secular — o Nidá Tunis. É neste cenário que se desenrolará o Fórum Social Mundial 2015 (FSM 2015), agravado pelo ataque contra turistas promovido pelo Estado Islâmico no dia 18 de março, uma semana antes da chegada de cerca de 60 mil ativistas sociais de todo o mundo para o FSM. O ataque atinge, também, uma das principais áreas econômicas do país: o turismo representa cerca de 7% do PIB do país.
Este texto é resultado de cobertura colaborativa.