anderson passos
DCI
Numa demonstração de unidade, as centrais sindicais reuniram ontem dez mil pessoas na região central da capital paulista na 8ª edição da Marcha dos Trabalhadores. A mobilização saiu da Praça da Sé, passou pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio e chegou ao vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, centro financeiro do País.
A pauta, consolidada em 2010 e apresentada aos candidatos naquela eleição, contempla itens como a redução da jornada semanal de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais – sem redução salarial – a correção da tabela do Imposto de Renda, o fim do fator previdenciário, a derrubada do Projeto 4330 que, segundo as centrais, amplia a precarização do trabalho, entre outros.
O ato de ontem, enfatizaram os dirigentes, não representava uma cobrança exclusiva ao governo Dilma Rousseff, mas a todos os demais Poderes. Tanto que um documento único com as demandas será levado ao Planalto, mas também ao Senado e à Câmara Federal.
A divergência apareceu quando um tema que assombra o governo Dilma Rousseff foi colocado aos sindicalistas: a CPI da Petrobras.
Na oposição
Egresso da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (SDD-SP) se uniu a expoentes da oposição como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para viabilizar a investigação.
“Estamos fazendo o possível e o impossível. Ontem [terça-feira] entramos lá no Supremo Tribunal Federal. O processo caiu nas mãos da ministra Rosa Weber que, historicamente, tem uma relação com o mundo do trabalho, e nós queremos que possa decidir o mais rápido possível com uma liminar. Estive conversando com o senador Aécio Neves e o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) para pedirmos uma audiência com ela [Rosa Weber] e explicar a importância da CPI”, disse o deputado federal, que também é presidente nacional do Solidariedade.
Sobre a leitura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que os fatos que motivam hoje o pedido de CPI da Petrobras já vieram à tona em 2009 e que a motivação do pedido é eleitoreira, Paulinho reagiu dizendo que os fatos desmentem o petista.
“Acho que o Lula anda falando muita besteira. Você pega, por exemplo, o valor da Petrobras em 2009 e o valor dela hoje. Em 2009, valia R$ 510 bilhões e hoje vale R$ 179 bilhões. O custo da obra de Abreu Lima, em Pernambuco, era de R$ 3 bilhões e hoje já tem gente falando em R$ 38 bilhões”.
Paulinho questionou ainda a compra da refinaria em Pasadena (EUA) pela Petrobras comentando que um ano antes a refinaria localizada no Texas foi comprada por US$ 42 milhões e a Petrobras, ao adquirir a refinaria, pagou US$ 1,2 bilhão. “São fatos graves e a gente tem visto uma roubalheira generalizada numa empresa que é um símbolo do Brasil. O meu partido, que é o Solidariedade, vai fazer todo o esforço para ter essa CPI para poder investigar”, completou.
Paulinho confidenciou à reportagem que investiu seu Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) na compra de ações da Petrobras e que está perdendo dinheiro.
“Eu investi R$ 18 mil. São 310 mil pessoas que têm ações na Petrobras. Eu cheguei a ter R$ 298 mil em 2010. Essa semana eu estou com R$ 47 mil. É o maior assalto que já fizeram no meu dinheiro”, relatou o deputado.
Contraponto
Vagner Freitas, da Central Única dos Trabalhadores, disse que a entidade vai defender a Petrobras e deve divulgar em breve um documento de orientação para os quatro mil sindicatos e sete milhões de filiados à CUT.
“A CUT vai sair em defesa da Petrobras. Estamos fazendo uma nota hoje [ontem]. A nossa Federação dos Petroleiros já fez uma nota em defesa da Petrobras, que é um patrimônio público nacional”, enfatizou. Freitas defendeu a apuração das denúncias pelos órgãos competentes e atacou frontalmente os tucanos por tentar ganhar visibilidade política com o pedido de CPI.
“O PSDB, o Serra, o Alckmin, o Aécio deviam ter vergonha na cara de falar da Petrobras. Se o Aécio tivesse o mínimo de decência e vergonha na cara, ele não tocaria no tema Petrobras. Os governos tucanos sucatearam a Petrobras. Eles prepararam a Petrobras para a privatização, como queriam fazer com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. A Petrobras é hoje cinco vezes maior do que ela era em 2002. Obviamente tem que se fazer a apuração com os órgãos competentes. Se houve qualquer tipo de equívoco, tem que ser punido substancialmente. Agora, o debate da Petrobras não tem nada a ver com a importância que os tucanos dão à Petrobras. Tem, sim, o debate político eleitoral. O candidato não decola, nem o Aécio decola, nem o Dudu Capriles [Eduardo Campos] decola. Eles não sabem o que fazer e ficam arrumando fato político para tentar colocar o Brasil em retrocesso”.
O presidente da CUT destacou que o ato é um manifesto sindical. “A pauta praticamente ficou estagnada. Com essa demonstração de força, queremos fazer a pauta avançar”, justificou.