Lula defende Dilma e critica oportunismo de sindicatos


Acordo do mínimo deve ser mantido, diz petista; sindicalistas ameaçam greves

Para Lula, negociação agora é com o governo, mas sugere que pode ajudar, pois é amigo dos dirigentes das centrais

BERNARDO MELLO FRANCO – ENVIADO ESPECIAL A DACAR
DANIELA LIMA – DE SÃO PAULO

O ex-presidente Lula saiu ontem em defesa de Dilma Rousseff e acusou as centrais sindicais de oportunismo na disputa com o governo pelo reajuste do salário mínimo. Foi a primeira vez que ele rebateu críticas à atual gestão.

Na última sexta-feira, sem acordo sobre o aumento do salário mínimo, dirigentes das seis maiores entidades do país acusaram Dilma de romper a política de valorização salarial de Lula e ameaçaram romper as negociações. Ontem, fecharam um calendário prevendo greves.

“Não entendo a reação do presidente. Estamos defendendo o legado do governo dele e o compromisso que ele assumiu, ao lado de Dilma, no segundo turno, com as centrais”, disse Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical.

Para ele, não há possibilidade de acordo sem um valor superior a R$ 545: “Às vezes, é melhor perder lutando”.

Em Dacar (Senegal), onde participou do Fórum Social Mundial, Lula afirmou que as entidades tentam desrespeitar acordo fechado em sua gestão que impôs uma regra para o cálculo do reajuste, baseada na inflação mais a variação do PIB de dois exercícios anteriores ao cálculo.

“O que não pode é os nossos companheiros sindicalistas, a cada momento, quererem mudar a regra do jogo”, disse o ex-presidente.

“Ou você tem uma regra e todo mundo fica tranquilo, ou você fica com o oportunismo”, completou.

O governo quer reajustar o mínimo para R$ 545, com base em acordo firmado na gestão de Lula, que previa aumento anual com base na inflação e na variação do PIB de dois exercícios anteriores.

As centrais tentam elevar a negociação cobrando R$ 580, alegando que neste ano não haverá aumento real por conta da crise em 2009.

Aparentando irritação, Lula sugeriu que os sindicalistas estão rasgando acordos firmados em sua gestão. “Na política, muitas vezes vale o cumprimento da palavra. Não é uma boa política querer mudar a cada ano um acordo que a gente faça.”

Ele ressaltou que a regra não foi imposta pelo governo, mas negociada com as centrais sindicais.

“Seria prudente que os nossos companheiros soubessem que a proposta foi combinada entre todos nós.”

REAÇÃO

Mesmo após o pito do ex-presidente, as centrais asseguram que não vão recuar. Ontem, em reunião, os dirigentes das seis maiores entidades fecharam um calendário que prevê paralisações se a negociação não avançar.

A pressão será feita em três frentes: aposentados iniciarão uma mobilização nacional na próxima semana e neste mês trabalhadores de várias categorias farão protestos pela revisão da tabela do Imposto de Renda.

Sem acordo, as centrais prometem paralisações nacionais defendendo, além das duas bandeiras, um reajuste maior para o mínimo. O reajuste dos aposentados, a revisão da tabela e o aumento do mínimo são pleiteados em pacote pelas centrais.

Questionado se iria interferir, Lula declarou: “Não é mais minha tarefa”. Mas a seguir disse que pode ajudar.

“Me sinto à vontade porque sou amigo dos dirigentes sindicais. Mas eles estão conversando com o governo.”