Mais categorias aceitam parcelar reajuste salarial

Folha de S. Paulo

Com a inflação e o desemprego em alta, cresce a tendência de negociar reajustes parcelados nas campanhas salarias deste ano.

O parcelamento já ocorreu em acordos firmados por 12 categorias profissionais de oito Estados, com data-base entre março e maio, segundo dados do Dieese.

Entre os que negociaram reajuste parcelado estão os metalúrgicos de GO, MG e RS; os operários da construção, mármore e granito do RJ; empregados do setor plástico de SC; professores de SP e do PA, e eletricitários e empregados de usinas e empresas do setor do álcool de SP.

De um total de 67 acordos realizados com usinas ou empresas do álcool, por exemplo, 27% (ou 18 acordos) foram fechados com INPC pago em duas vezes -em maio e novembro. Há ainda 20 negociações em andamento ou esperando decisão da Justiça e outras 29 foram fechadas com reajuste pago em uma única vez. A maior parte deles prevê correção de 8,34%, que corresponde a inflação medida pelo INPC no acumulado de maio de 2014 a abril de 2015.

“O que se busca, quando ocorre o parcelamento dos reajustes, é negociar uma correção maior para outros benefícios ou para a participação nos lucros para compensar o fracionamento. Mas, para o trabalhador, ainda é melhor receber o reajuste parcelado do que uma correção inferior à inflação”, diz Edson Dias Bicalho, secretário-geral da Fequimfar, federação estadual dos químicos.

PARCELAMENTO

Nos dados do Dieese deste ano, o percentual de negociações com reajuste parcelado passou para 6%. No ano passado, foram 4,3% e em 2008 representaram apenas 2,6% da amostra com 302 negociações feitas pelas mesmas categorias em todos esses anos.

“Em momentos de adversidade para o emprego, cresce o número de acordos com a inflação paga de forma parcelada, com escalonamento por faixa salarial [correção integral do INPC até um limite salarial e acima dessa faixa um valor fixo, geralmente inferior à inflação] e pagamento de abonos”, diz José Silvestre de Oliveira, coordenador do Dieese.

Cálculo do departamento mostra que, no caso de um salário de R$ 1.000 e um reajuste único de 8,34%, por exemplo, o trabalhador receberá R$ 13.000,80 em um período de 12 meses.

Com o reajuste parcelado de 4,34% em maio e 3,834% em novembro, receberá R$ 12.800,80 em 12 meses. Nesse caso, a perda nominal (sem correção da inflação) será de R$ 200 ou de 1,54% no período.

A tendência de negociar reajustes parcelados ou reposições inferiores à inflação tem sido usada também para a manutenção de empregos, dizem sindicalistas e analistas de mercado de trabalho.

Na Mercedes-Benz, de São Bernardo do Campo, por exemplo, em troca do cancelamento de 1.500 demissões, o acordo feito com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC -e aprovado pelos trabalhadores- prevê redução de 20% da jornada de trabalho, com redução de 10% dos salários.

Além disso o acordo prevê, o congelamento da tabela salarial até dezembro de 2016 e metade do reajuste salarial previamente negociado para 2016. Será incorporado em maio, aos salários 50% do INPC, e a outra metade será paga em forma de abono, em duas parcelas, no valor total de R$ 3.000.

CENÁRIO DESFAVORÁVEL

Oito em cada dez sindicatos admitem estar mais pessimistas e qualificam o cenário atual de demissões como desfavorável às negociações.

Os dados constam de pesquisa feita em julho pela Força Sindical com 235 sindicatos associados, que reúnem 23% do total de trabalhadores que a central informa representar. São entidades de todo o país e que representam trabalhadores de sete setores.

“A ideia é, a partir da pesquisa, criar um índice de percepção dos sindicalistas, como já existe entre os consumidores e os empresários. Inicialmente o indicador deve ser bimestral e no futuro passará a ser mensal”, diz Miguel Torres, presidente da central.

MAPA DE DESEMPREGO

Para mostrar de forma mais simples ao trabalhador os efeitos da recessão e intensificar a ação sindical, a central vai lançar em seu site o mapa do desemprego, com dados oficiais do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho.

A ideia é estimular, entre os sindicalistas, o debate sobre políticas locais e públicas para evitar mais demissões.

A entidade instalará um telão em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, no bairro da Liberdade, para permitir que os trabalhadores possam interagir com os dados.