FELIPE GUTIERREZ
DO RIO
Diariamente, em todo o Brasil, 7,4 milhões de pessoas se deslocam da cidade onde moram para trabalhar ou estudar em municípios vizinhos. Em São Paulo, este trânsito chega a 1,75 milhão e no Rio, 1 milhão de pessoas.
A estimativa foi realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), baseada no Censo de 2010, que apresentou um estudo sobre como as cidades do país são afetadas pelo movimento pendular, aquele pelo qual um morador de um município viaja a outro para trabalhar ou estudar e volta no fim do dia.
Cerca de 107 milhões de pessoas, o que representa 56% da população, moram nesses conglomerados. O maior deles, o que tem como referência a cidade de São Paulo, tem 19,6 milhões de habitantes. O segundo, o Rio de Janeiro, tem 11,9 milhões.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) passou a usar esse critério para definir a interação entre cidades – se entre duas ou mais delas há intercâmbio significativo de população, elas passam a formar o que os pesquisadores chamam de arranjo urbano.
O novo conceito usa um mesmo critério para apontar quais são as conglomerações urbanas no país inteiro, já que as regiões metropolitanas eram definidas por cada Estado.
Um arranjo pode ser de duas ou mais cidades -o de São Paulo tem 36 e é o maior. No total, são 294 arranjos populacionais, formados por 938 municípios (são 5.570 no país inteiro).
As cidades não precisam ser grandes para estarem nesse tipo de relacionamento. A maioria (63,6%) dos arranjos é de populações pequenas, com menos de 100 mil habitantes.
E nem todas as grandes concentrações de população são arranjos – Manaus e Campo Grande, por exemplo, não recebem uma quantia significativa de estudantes ou trabalhadores de cidades vizinhas, portanto são considerados municípios isolados.
SUDESTE
O deslocamento feito pela maior quantidade de pessoas no país é entre Guarulhos e São Paulo. São 146 mil pessoas que oscilando entre as duas. O segundo maior volume de pessoas não é entre São Gonçalo e Niterói.
A secretária Sheila Pastor, 41, vai todos os dias de São Gonçalo a Niterói, ambas cidades na baía de Guanabara. Ela tem dois irmãos que fazem o mesmo trajeto, que dura cerca de uma hora e meia de ônibus.
“Eu nasci e cresci em São Gonçalo e sempre trabalhei em Niterói. Não mudo de cidade porque o custo de vida é muito alto”, diz.
No Sudeste, a população que vive em arranjos é proporcionalmente maior do que no resto do país. Os moradores nesses conglomerados representam 72% do total dos moradores dessa região.
Isso acontece porque esses conjuntos se formam, principalmente, por questões econômicas, diz Maurício Gonçalves e Silva, um dos pesquisadores do IBGE responsáveis pelo estudo.
“A atividade econômica faz com que as pessoas circulem mais, e o Sudeste tem uma economia mais pujante”, explica.
É no Sudeste também que está a única cidade-região do país, a de São Paulo. O arranjo que tem seu núcleo nessa cidade interage fortemente com outros 11.
A cidade-região soma 98 municípios e tem uma população de 27,5 milhões, quase o tamanho da Venezuela.
“A partir de São Paulo se distribuem atividades ao longo da região metropolitana e de outros núcleos que se especializam em alguma atividade justamente porque estão perto de um grande centro”, diz Silva.
Ele lista Los Angeles e Londres como exemplos de outras metrópoles no mundo que têm um papel semelhante ao de São Paulo em seu entorno.
EIXO
Um dos dados que o IBGE apresentou ao introduzir o novo conceito de interação entre cidades é o do tamanho real do eixo Rio-São Paulo: são 13,4 mil pessoas que vivem em uma das metrópoles e trabalha na outra.
Os pesquisadores explicaram que para ser considerado alguém que vive nesse eixo é preciso transitar com alguma regularidade entre os dois conglomerados urbanos.
Entre essa população que oscila entre os centros, a maior parte, formada por 57,7%, viaja para trabalhar, 40,5% para estudar -o resto faz as duas coisas.
Os pesquisadores do IBGE explicaram que foram consideradas pessoas entre as duas metrópoles as pessoas que fazem o trajeto com regularidade, não importando qual o intervalo entre as viagens.