Mercedes-Benz nega fechamento de fábrica, mas vai parar produção por mais de um mês

Férias coletivas a partir de dezembro terão mais de 30 dias e, diferente de anos anteriores, nada será produzido no período. Medida reflete retração de 15% nas vendas internas, e de 50% nas exportações

Com as vendas no mercado interno encolhendo 15% e as exportações despencando 50%, a Mercedes-Benz decidiu paralisar totalmente as suas duas fábricas de caminhões e ônibus no final do ano. Entre o início de dezembro e o dia 6 de janeiro, os 10 mil empregados da unidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e os 750 da fábrica de Juiz de Fora (MG) estarão todos em férias coletivas e nenhuma área de produção da empresa funcionará. Nem em 2009, auge da crise internacional, a montadora havia parado totalmente nesse período do ano.

— Vamos fechar em dezembro — disse nesta sexta-feira o presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Philipp Schiemer, ao anunciar mudanças nas áreas de produção da empresa em suas duas fábricas, que também receberão R$ 730 milhões em novos investimentos.

O executivo deu alguns detalhes também do acordo “inédito” negociado pela empresa com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O acordo tem validade de quatro anos e não contempla reajuste salarial este ano, apenas o pagamento de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Somente a partir de 2015, os empregados da fábrica de São Bernardo terão os salários corrigidos anualmente pelo INPC dos 12 meses anteriores.

O sindicato concordou também com uma nova grade de salários para os empregados que ingressarem na empresa a partir de agora, cujos valores para todas as faixas salariais são em média 10% menores que os atuais.

— Isso nos dá uma previsibilidade maior e mostra que acreditamos no Brasil, a despeito dos problemas que temos no mercado — disse Schimer.

Ele desmentiu rumores de que a empresa faria demissões em sua unidade de Juiz de Fora, que receberá R$ 230 milhões dos novos investimentos. Assim, passará a concentrar toda a estrutura de montagem e pintura de cabines, mas perderá a linha de produção dos modelos de caminhões leves Accelo, que será transferida para o ABC.

— Não pensamos em nenhuma mudança no nível de empregos lá — afirmou. — O nível de emprego será mantido e o pessoal da montagem (do Accelo) serão requalificados para novas funções.

No ABC, contudo, o quadro é mais complicado. Por causa da retração do mercado, a fábrica da Mercedes no ABC opera há meses com um excedente de 1.700 empregados. Por isso, 1.200 deles estão há meses em licença não remunerada (lay-off). As licenças vencem no início de novembro e a empresa negocia com o sindicato a renovação.

A manutenção dos empregos, contudo, dependerá de uma reação do mercado, perspectiva que não está no horizonte neste momento.

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— São pessoas que treinamos e investimentos dinheiro. Vamos esperar até o último minuto para manter esse pessoal. As discussões sobre o lay-off são muito desagradáveis, mas se você não tem trabalho para todos, não se pode carregar isso indefinidamente porque irá comprometer todo o resto. Espero que o fundo do poço já tenha chegado — disse Schimer.

Segundo o executivo, o cenário eleitoral traz ainda mais incerteza ao setor. Ele cita o caso do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES, que expira em 21 de novembro e não há definição para sua reativação. O PSI simplifica o processo de aquisição de caminhões e ônibus pelas empresas, e hoje é usado em mais de 90% das vendas da indústria.

— A eleição está mexendo com as pessoas, a bolsa sobe e desce com as pesquisas. Para nós, porém, o importante são as políticas de longo prazo. E o novo governo, seja quem for, terá de tomar as medidas certas para recolocar a confiança no mercado — disse, para completar: — Se a confiança voltar, confiança é a base do nosso negócio, como são muito projetos parados, o mercado volta mais rápido. Mas, sem dúvida, vai chegar um momento em que se a situação não melhorar, ou demorar, vamos ter que tomar uma decisão.