Valor Econômico
Como o mercado segue sem dar qualquer sinal de retomada, as montadoras voltarão a parar a produção no mês que vem. Enquanto a fábrica da General Motors (GM) no Rio Grande do Sul e a Mitsubishi programam mais três semanas de férias coletivas, a Iveco decidiu suspender, também a partir de setembro, a produção de caminhões pesados, uma vez que tem estoque para abastecer o mercado até o fim do ano.
Também para ajustar os estoques, a Mitsubishi informa que já está antecipando as férias de fim de ano. O recesso vai de 14 de setembro a 3 de outubro, na segunda paralisação em pouco mais de dois meses na fábrica da Mitsubishi, onde são montados os utilitários esportivos Pajero e ASX, assim como a picape L200 Triton e o sedã Lancer. Em julho, a marca já tinha dado dez dias de férias coletivas, após demitir 179 funcionários, sendo 29 dentro de um programa de desligamentos voluntários.
No parque industrial da GM em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, o pessoal, tanto das áreas de produção como dos departamentos administrativos, será liberado no feriado de 7 de setembro (Dia da Independência) e só volta no dia 28.
Por sua vez, a Iveco, que já tinha concedido férias em junho e julho, fechou na semana passada acordo para suspender os contratos de trabalho – ferramenta conhecida como “layoff” – dos aproximadamente 300 operários do setor responsável pela produção de caminhões pesados, segmento da indústria automobilística que mais perde vendas neste ano. Balanço da Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no país, mostra que os caminhões pesados – capazes de transportar mais de 45 toneladas, incluindo o peso do veículo – estão vendendo 61,1% menos do que em 2014. Incluindo na conta os demais segmentos, as vendas da indústria de caminhões caem 43,1% em 2015.
O “layoff” na Iveco, aprovado em assembleia dos metalúrgicos na terça-feira, começa em 16 de setembro e manterá os operários afastados da produção de pesados por até cinco meses. Nesse período, eles terão parte dos salários, R$ 1,4 mil, custeada por recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e vão passar por cursos de reciclagem profissional financiados pela empresa.
Se preciso, a montadora poderá reintegrar o grupo e retomar a produção da linha pesada antes do prazo. A Iveco, contudo, adianta que, se levado em conta o ritmo atual, seus estoques são suficientes para suprir o mercado até, pelo menos, dezembro. As demais linhas do complexo da marca em Sete Lagoas (MG), que também produz caminhões leves, médios e o furgão Ducato, seguem com a produção normal.
Com queda de 18% até julho, a produção de veículos no país cai em 2015 para o patamar mais baixo em nove anos. Além da fraca demanda – a menor desde 2007 -, as fábricas não podem aumentar o ritmo das linhas de montagem porque os estoques estão acima do normal.
No fim de julho, o encalhe nos pátios de montadoras e concessionárias beirava 345 mil unidades, uma quantidade que o mercado leva 45 dias para consumir. O ideal seria um giro próximo de 30 dias.
Na semana passada, a produção parou nas fábricas da Volkswagen e da Ford no ABC paulista. Hoje, 3 mil funcionários de áreas de produção da Fiat em Betim (MG) entram em férias de 20 dias. Em Jacareí, no interior paulista, os operários da montadora chinesa Chery estão em férias desde a última segunda-feira. Só voltam em 8 de setembro.
A Volkswagen também têm férias previstas em São José dos Pinhais, no Paraná, onde produz o modelo Fox. O número de operários atingidos, contudo, ainda não foi definido. Segundo o sindicato dos metalúrgicos da região, a companhia já definiu que vai dar férias aos 570 empregados que têm retorno de “layoff” marcado para o mês que vem, adiando o retorno deles em 20 dias. Mas, conforme informa a entidade, a Volks poderá estender a parada aos demais operários do complexo, exceção feita à linha que começa a montar, em setembro, os carros da Audi, marca do mesmo grupo e que compartilha o parque paranaense.
No complexo da Mercedes-Benz que produz caminhões e ônibus em São Bernardo do Campo, no ABC, uma greve poderá ser deflagrada hoje contra as demissões da empresa. Na sexta-feira, operários da montadora começaram a receber telegramas com avisos sobre o encerramento de seus contratos. O número de demitidos ainda não é conhecido, embora já tenha sido divulgado o excesso de pessoal na unidade: 2 mil pessoas, ou 20% do efetivo. A mobilização em oposição ao corte será decidida em assembleia na manhã desta segunda-feira com o pessoal que regressa do período de licença remunerada que parou a fábrica da Mercedes nos últimos 17 dias.
Já em São José dos Campos, no interior paulista, sindicato e GM chegaram a um acordo para anular 798 demissões e encerrar a greve que paralisou a montadora nas duas últimas semanas.