Os resultados do primeiro semestre, porém, foram piores do que as expectativas iniciais mais pessimistas
Na virada do ano, executivos e analistas do setor reconheciam a dificuldade de se traçar previsões sobre o desempenho da indústria automobilística em 2014, mas, em geral, as expectativas apontavam para um mercado próximo dos volumes de 2013 ou, na pior das hipóteses, até 4% menor.
Havia consenso de que as montadoras teriam dificuldades com a retirada de parte dos descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em janeiro, agravada pela introdução compulsória de novos dispositivos de segurança nos automóveis – colocando mais pressão sobre os preços – e a continuidade de um ambiente restritivo no mercado de crédito.
Os resultados do primeiro semestre, porém, foram piores do que as expectativas iniciais mais pessimistas. As vendas de veículos caíram 7,6%, enquanto as exportações cederam mais de 35%, numa combinação que levou as fábricas a cortar a produção em quase 17%, além de reduzir a força de trabalho com a eliminação de 5,5 mil vagas desde janeiro.
Escaparam das previsões iniciais fatores como o agravamento da crise na Argentina – destino de quatro em cada cinco carros exportados no Brasil -, as dificuldades envolvendo os financiamentos a caminhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a escalada dos estoques, que, em março, chegaram a alcançar o nível mais crítico desde a crise financeira de 2008.
Definida, na segunda-feira da semana passada, a situação do IPI, cujas alíquotas permanecem reduzidas até o fim do ano, as projeções estão sendo agora atualizadas à nova realidade. A Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no país, mudou as expectativas que, até então, sugeriam crescimento superior a 1% tanto das vendas como da produção. Agora, a previsão é de queda de 5,4% dos emplacamentos e de 10% da produção. Antes da Anfavea, a Fenabrave, associação das revendas, já tinha anunciado projeção de queda de 8,1% do mercado, incluindo caminhões e ônibus, neste ano.
Embora negativas, essas estimativas pressupõem um segundo semestre melhor do que o primeiro – ainda que em volumes inferiores na comparação com igual período do ano passado. Ou seja, o setor já teria chegado, ou estaria perto de chegar, ao “fundo do poço”, abrindo-se, assim, a perspectiva de um início de reação.
Nos cálculos da Anfavea, as vendas do segundo semestre ficarão mais de 14% acima dos volumes registrados nos seis primeiros meses do ano. Estimativas do tipo se sustentam na sazonalidade – já que a segunda metade do ano é, historicamente, mais aquecida -, além do calendário mais favorável. Sem tantos feriados e paradas com a Copa do Mundo, a indústria terá mais dias de venda. Também entra na conta a possibilidade de antecipação de compras no último bimestre, uma vez que o governo deixou a recomposição do IPI para janeiro.
Isso, porém, não altera os fatores que vêm derrubando o consumo de veículos. Os bancos não serão mais permissivos na análise de crédito – agora com juros mais altos -, assim como o consumidor, mais endividado e menos confiante nos rumos da economia, está pouco propenso a trocar de carro. Para executivos da indústria de caminhões, incertezas que adiam investimentos na frota de veículos comerciais também devem persistir até as eleições de outubro.
Depois disso, espera-se as medidas de austeridade fiscal de início de mandato, quando os governos costumam concentrar as políticas mais impopulares. Tal conjuntura reforça a análise – compartilhada por executivos como Carlos Ghosn, presidente da Renault Nissan, e Jaime Ardila, comandante da General Motors (GM) na região – de que o setor seguirá em “ponto morto” até, pelo menos, 2015.