O Globo
Indústria não reforça produção para o fim de ano, e comércio prevê menor abertura de vagas
O ano de 2015 deve terminar sem que a indústria contrate temporários para reforçar a produção e atender a demanda de consumo do Natal. Na Zona Franca de Manaus, diferentemente do que acontece todos os anos, não há expectativa de qualquer abertura de vagas para reforçar a produção. Ao contrário. Segundo dados do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM), 23 mil dos 105 mil trabalhadores das empresas da região estão em férias coletivas ou licença remunerada. No Polo Industrial de Manaus, 20 mil pessoas já perderam o emprego este ano.
— Não haverá contratação. As empresas vão usar os funcionários que estão em licença remunerada para atender as encomendas do comércio para o Natal. Este é o primeiro ano que isso acontece. Historicamente, são contratados cerca de 10 mil temporários para o fim do ano — diz o presidente do CIEAM, Wilson Périco.
A razão é a retração de 29% no faturamento das empresas da região no primeiro semestre do ano. Segundo dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), de janeiro a junho a receita apurada na região foi de US$ 11 bilhões, cerca de US$ 3,1 bilhões a menos que no primeiro semestre de 2014.
— Isso reflete muito no nível de emprego. Não acredito que nos próximos dois anos a situação melhore: 2016 e 2017 ainda serão difíceis — ressalta.
SETOR DE ALIMENTOS É EXCEÇÃO
Na indústria paulista, a situação não é diferente. Dados divulgados na semana passada pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) mostram que, de janeiro a agosto, o setor cortou 119 mil vagas. A estimativa é que, até o fim do ano, o total de postos fechados pela indústria chegue a 250 mil no estado. O único segmento que está contratando é a indústria de alimentos, com a contratação líquida, já descontadas as dispensas, de 338 vagas até agosto, graças aos produtos típicos de fim de ano, como os panetones.
Guilherme Moreira, gerente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon), da Fiesp, diz que historicamente a indústria paulista contratava cerca de 21 mil pessoas em agosto para fazer frente às encomendas do comércio. Este ano não há perspectiva de abertura de vagas temporárias.
— O Natal para a indústria era em agosto. Mas, este ano, vamos fechar com o saldo negativo no número de vagas. É o pior ano para o setor industrial — afirma Moreira, lembrando que a produção industrial paulista já acumula queda de 9% em 2015.
Este ano, com o encolhimento da renda, presentes caros que fizeram sucesso nos últimos Natais, como celulares e tablets, já não estarão no topo da lista dos mais esperados pelos brasileiros. E isso fez com que as empresas do setor se adequassem à nova realidade de mercado. No setor eletroeletrônicos, 21 mil pessoas foram demitidas entre janeiro e julho.
De acordo com a Abinee, a associação das empresas do setor, a expectativa é que até dezembro outros 9 mil postos de trabalho sejam cortados. Quando se compara com o final de 2013, a queda é ainda maior. São 45 mil vagas perdidas no segmento. Em dezembro de 2013, eram 310 mil os trabalhadores empregados no setor. No final deste ano, serão 275 mil.
— Não há perspectiva de contratação. Não há necessidade de aumento de produção. O estoque da indústria está alto. Na última sondagem que fizemos em julho, 60% das associadas informaram que estão com estoque acima do previsto, ou seja, as vendas de eletroeletrônicos vêm caindo sistematicamente. A tendência da indústria é de queda no nível de empregos — disse o presidente da Abinee, Humberto Barbato, acrescentando que até julho a retração nas vendas de computadores e tabletes foi de 28% e na de celulares, de 15%.
No segmento de linha branca, também não há previsão de contratação de temporários. Um alto executivo de uma empresa do setor confirmou que, ao invés de abertura de novas vagas, a previsão é de cortes.
— Não há expectativa de contratações este ano. A indústria já se adequou ao seu novo tamanho. As vendas de eletrodomésticos e eletroeletrônico estão em queda desde o início de 2015 — disse o executivo.
NO RIO, DESACELERAÇÃO
O Rio de Janeiro não tem uma indústria com forte tradição de contratar temporários para o Natal, e no comércio, onde esse movimento acontece, o ritmo é de desaceleração. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) não fechou uma estimativa de empregos temporários, mas Fabio Bentes, economista da CNC, explica que se as vendas crescem pouco, o comércio tende a contratar temporários na mesma medida. Ele acredita que o comércio não escapa do vermelho, já que as vendas devem encolher 2,9%, a primeira queda desde 2003, segundo projeção oficial da entidade.
— Estou convencido de que este ano teremos uma queda nas vendas e a contratação de temporários pela primeira vez também vai registrar recuo. Vai se contratar, sim, mesmo com um Natal terrível — avalia o especialista. — A quantidade de trabalhadores será menor, sem dúvida
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio, a contratação de temporários vinha com saldo positivo desde 2009. Em 2010, o número de empregados temporários cresceu 9,1% frente ao ano anterior. Já em 2014, o aumento foi de 1,8% com relação a 2013. A desaceleração acompanhou as vendas de Natal que em 2010 tiveram aumento de 9,4% frente a 2009 e, em 2014, cresceram bem menos, 1,8%.
A previsão do Sindicato das Empresas de Terceirização e de Trabalho Temporário no Estado de São Paulo (Sindeprestem) é que este ano a contratação de temporários fique próximo de zero, o que nunca aconteceu desde quando a entidade começou a acompanhar a geração de vagas, em 2011. No ano passado, por exemplo, a indústria e o comércio contrataram juntos 163,5 mil pessoas por causa do consumo do Natal.
O cenário negativo para o emprego é geral no país e explica as projeções pessimistas para as funções temporárias. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, somente no primeiro semestre de 2015 cerca de 162,3 mil postos formais foram fechados na indústria. O comércio eliminou 181,8 mil vagas.