Agência Sindical
9/5/2018 – quarta-feira
Marcio Pochmann é professor e pesquisador
do Centro de Estudos Sindicais e de Economia
do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.
Com o governo Temer, a volta do receituário neoliberal – somente possível sem o respeito à vontade popular – trouxe consigo uma nova forma de manifestação da segregação social no Brasil. Isso porque no ano de 2017, por exemplo, a pobreza, enquanto medida de distanciamento de um padrão digno de vida, terminou por crescer mais acentuadamente nos segmentos que até pouco tempo pareciam estar protegidos, como brancos, homens, mais escolarizados e adultos.
Até então, os estratos sociais mais vulneráveis concentravam-se na população não branca, crianças e mulheres, e brasileiros de menor escolaridade. Mesmo com a estabilidade monetária alcançada no Plano Real, no governo Itamar Franco (1992-1994), o comportamento da pobreza não refluiu, uma vez que no governo de FHC (1995-2002), por exemplo, a taxa de pobreza se manteve estável, representando 33,2% da população, em 1995, e 33,2%, em 2002.
Somente com a interrupção do receituário neoliberal, a partir de 2003, que a taxa de pobreza passou a decair sistemática e continuamente. No governo Lula (2003-2010), a taxa de pobreza caiu 50,3%, uma vez que foi reduzida de 33,2% do conjunto da população, em 2002, para 16,5%, em 2010.
No governo Dilma (2011-2016), a taxa de pobreza seguiu a trajetória de queda em 39,4% acumuladamente entre os anos de 2010 (16,5% da população) e de 2015 (10% da população). Mesmo com esse significativo sentido de queda na taxa de pobreza, a população mais vulnerável seguiu, ainda, focada, nos brasileiros não brancos, mulheres e crianças, bem como as pessoas de menor escolaridade.
Com o governo Temer, todavia, o crescimento da pobreza terminou expondo à vulnerabilidade da segregação social, justamente os estratos de brasileiros brancos, homens, adultos e com maior escolaridade. Entre os anos de 2016 e 2017, por exemplo, a pobreza subiu 5% no conjunto dos brasileiros (adicional de 3 milhões de pessoas).
Mas para a população branca, por exemplo, a pobreza aumentou 6,8%, enquanto para a não branca cresceu 4,3%. Em função disso, a população branca na condição de pobreza subiu 58,1% mais rápido do que para a não branca pobre.
No caso do segmento masculino, a pobreza aumentou 5,4% em 2017, ao passo que para as mulheres pobres houve crescimento de 4,6%. Ou seja, a pobreza entre os homens subiu 17,4% mais aceleradamente do que na pobreza feminina.
Também para a população com até 21 anos de idade, a pobreza aumentou 3,2% no ano passado. Mas para a população de 22 a 50 anos de idade cresceu 5,7% e para o segmento etário de mais de 50 anos, o crescimento na quantidade de pobres foi de 8,8%.
Quando tomada como referência a escolaridade no conjunto da população considerada pobre, percebe-se a elevação mais acelerada entre aqueles com mais anos de ensino. No ano de 2017, o segmento com Ensino Fundamental registrou aumento na quantidade de pobres em 2,9%, enquanto para os pobres com Ensino Médio, o crescimento da pobreza foi de 10,6%.
Para os pobres com Ensino Superior, a elevação foi de 25%. Dessa forma, constata-se que para cada aumento de 1 ponto percentual na quantidade de pobres com Ensino Fundamental, a pobreza dos brasileiros com Ensino Superior subiu 8,6 vezes mais.
Da mesma forma, nota-se que para cada elevação de um ponto percentual no número de pobres com Ensino Fundamental, a pobreza entre os brasileiros com o Ensino Médio aumentou 3,7 vezes mais. Se considerar ainda o aumento na quantidade de pobres em um ponto percentual para os brasileiros com Ensino Médio, conclui-se que a pobreza para o segmento de Ensino Superior aumentou 2,6 vezes mais.