Um dia após a Caixa divulgar a liberação de cerca de R$ 5 bilhões para o setor automotivo, foi a vez de o Banco do Brasil anunciar, nesta quarta-feira (19), medidas de apoio à cadeia produtiva do setor, além do segmento de máquinas e implementos agrícolas e caminhões.
A primeira etapa do protocolo assinado entre o BB, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de componentes para Veículos Automotores) terá acordos envolvendo 26 empresasâncora. A estimativa é que o BB antecipe R$ 3,1 bilhões para fornecedores estratégicos dessas empresas até o fim do ano, para produtos entregues ou não.
Por meio de um sistema desenvolvido para esses convênios, o banco receberá das empresas-âncora uma programação de encomendas para determinado grupo de fornecedores, ao longo de um certo período, e antecipará aos fornecedores os valores que seriam recebidos pelo total das entregas.
“Não é subsídio, as taxas são de mercado, mesmo porque precisamos dar o retorno aos acionistas, mas conseguimos aprimorar nossa análise de crédito para as empresas que compõem a cadeia automotiva”, diz Alexandre Correa Abreu, presidente do Banco do Brasil.
As empresas-âncora “emprestariam” sua maior capacidade financeira como garantia para a oferta de crédito aos fornecedores. Com compromissos firmados por parte das âncoras, os riscos de crédito das operações seriam reduzidos, fazendo com que as empresas do início da cadeia produtiva tenham acesso a condições e taxas semelhantes às oferecidas a empresas de maior porte.
“Nós mudamos a responsabilidade das pequenas empresas para as de grande porte, como montadoras”, diz Paulo Roberto Rodrigues Butori, presidente do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores).
“Vamos aparecer no contrato como uma espécie de fiadores, porque, se não fortalecemos o setor de autopeças, não faz sentido continuar desenvolvendo montadoras no Brasil”, completa Luiz Moan Yabiku Júnior, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Três empresas –Grupo Aethra, de sistemas automotivos, IochpeMaxion, de rodas e chassis para veículos comerciais e produtos ferroviários, e MMC Motores do Brasil (Mitsubishi)– já fecharam acordos, que somam R$ 100 milhões.
O BB tem mais 500 grupos na mira para ações do gênero, como cooperativas, incorporadoras e grandes exportadoras, e prevê o desembolso de R$ 9 bilhões.
O banco já elevou em R$ 15 bilhões o limite sistêmico de crédito de 354 empresas líderes para o adiantamento a fornecedores.
RETOMADA
As medidas integram um programa maior do governo de ajuda a grandes setores industriais do país, que está sendo articulado por Aloizio Mercadante (Casa Civil) com as pastas da Fazenda, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
“O espírito é o mesmo das medidas anunciadas pela Caixa e está alinhado com os ajustes macroeconômicos promovidos pelo governo, que consideramos de fundamental importância”, diz Júnior.
O uso dos bancos públicos para financiar o setor produtivo fez parte da política de incentivo ao crescimento adotada entre 2008 e 2014. Criticada, ela foi desmontada com a chegada de Joaquim Levy à Fazenda, após a reeleição de Dilma.
AGRÍCOLA
O BB anunciou também que vai lançar um modelo de relacionamento com revendas de máquinas, equipamentos agrícolas e caminhões.
Com apoio da Anfavea e da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), a meta é cadastrar até o final do ano mais de mil revendas. A ideia é reduzir o prazo de liberação de financiamentos de 67 para 14 dias
APOIO DA CAIXA
A Caixa vai liberar cerca de R$ 5 bilhões somente para o setor automotivo, incluindo dinheiro próprio e recursos dos trabalhadores (FAT e FGTS). A presidente da Caixa, Miriam Belchior, afirmou que se trata de uma política que foi discutida com várias áreas do governo e tem como objetivo ajudar as empresas a “respirar” durante este “momento de travessia” pelo qual passa a economia brasileira.
Também estão em negociação com o governo os setores de petróleo e gás, alimentos, energia elétrica, eletroeletrônico, telecomunicações, fármacos, químico, papel e celulose, máquinas e equipamentos e construção civil. Em relação ao setor automotivo, serão quatro linhas de crédito. Em três delas, as prestações só começam a ser pagas daqui a seis meses, quando o governo espera que a economia tenha começado a se recuperar, segundo a presidente da Caixa.
A primeira é a antecipação de recursos para fornecedores de montadoras, com juro a partir de 1,41% ao mês. As mesmas empresas contam ainda com dinheiro para despesas do segundo semestre a partir de 0,83% ao mês + TR. Nesse caso, os empréstimos contam com dinheiro da Caixa e do FGO (Fundo de Garantia de Operações).
A Caixa também vai financiar compra de máquinas novas e usadas a 1,5% ao mês com dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). A quarta linha é para renovação de frota (transporte coletivo, máquinas agrícolas e caminhões) com dinheiro do FGTS na linha Pró-Transporte a 9% + TR ao ano.