Em assembleia realizada na noite da quarta-feira 29, cerca de 2.500 trabalhadores metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes aprovaram a contraproposta patronal de reajuste salarial de 10%, correspondente à inflação dos últimos 12 meses encerrados em outubro, aplicação do mesmo percentual de aumento nos pisos, 20% de abono e renovação de todas as cláusulas sociais da Convenção Coletiva de Trabalho, feita pelo Grupo 2 (máquinas e eletroeletrônicos).
“Foi o único grupo patronal que apresentou contraproposta satisfatória”, disse o presidente do Sindicato, Miguel Torres. Segundo ele, alguns grupos – 3 (autopeças), Fundição, 19-3 (laminação de metais, materiais ferroviários, artefatos de metais, refrigeração, condutores elétricos, esquadrias etc.) ofereceram reajuste abaixo da inflação e as propostas foram rejeitadas na mesa de negociação. O Grupo 10 (Fiesp) não ofereceu nada. “Estamos na expectativa de receber novas propostas até a semana que vem e vamos aqui estabelecer uma nova estratégia de ação”, disse Miguel Torres.
A estratégia aprovada pela assembleia é pressionar as empresas dos demais grupos para que pressionem os seus sindicatos a melhorarem suas propostas, e também buscar acordos por empresa, que garantam, no mínimo, a reposição da inflação.
“Vamos continuar com a mobilização para garantir o aumento salarial a toda a categoria”, reforçou Miguel Torres. A data-base da categoria é 1º de novembro.
Acompanhe entrevista do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo:
BR: O sr. esperava uma campanha salarial com assembleias tão cheias em plena crise econômica?
MIGUEL TORRES: Toda a nossa diretoria trabalhou para isso. Eu esperava sim essa resposta de mobilização da categoria. Os metalúrgicos não se deixam abater, nossa história é de luta permanente.
BR: Como foi esse trabalho:
MIGUEL TORRES: Nesta campanha, realizamos mais de 400 assembleias e reuniões em portas de fábricas. Os diretores e assessores explicaram o quadro difícil para os trabalhadores, mas ficou a mensagem de que não iríamos abrir mão do nosso aumento. Não vamos pagar o pato pela crise. O ponto alto foi essa assembleia muito numerosa, muito animada, na nossa sede, mas já havíamos feito cinco assembleias setoriais grandes, cobrindo todas as regiões da cidade.
BR: Está sendo uma campanha difícil?
MIGUEL TORRES: Nós temos 10 mil empresas na nossa base. Elas estão espalhadas por toda a cidade. A grande maioria das fábricas tem até 30 trabalhadores, o que dificulta ainda mais. Toda essa mobilização é resultado de muita organização, de presença permanente do sindicato junto da categoria, de muita comunicação com a nossa base. É permanente. Numa conjuntura difícil como a atual, os resultados aparecem.
BR: Os metalúrgicos aceitaram o reajuste de 10% nos salários dos setores de máquinas e eletroeletrônicos. Como ficam os demais?
MIGUEL TORRES: A luta continua. Vamos pressionar fábrica por fábrica, aplicar estratégicas específicas. Foi muito importante termos conseguido esses 10 por cento em máquinas e eletroeletrônicos para servir de exemplo. Todas as cláusulas da nossa Convenção Coletiva de Trabalho foram mantidas. Essa convenção é muito avançada, garante benefícios na aposentadoria, protege o trabalhadores.
BR: A Fiesp está boicontado a campanha salarial?
MIGUEL TORRES: A Fiesp é muito dividida. Muitos empresários sabem que é um péssimo negócio para eles atacar a renda do trabalhador. Isso traz descontentamento, dificulta ainda mais o trabalho da própria empresa. Nós queremos empresas fortes, sabemos da importância de preservar empregos, mas não vamos abrir mão do nosso aumento. Não iremos pagar pela crise, e estamos demonstrando isso nessas grandes assembleias.
BR: O que os metalúrgicos podem fazer para a superação da crise?
MIGUEL TORRES: Estamos participando do debate em todos os níveis. Temos propostas que vão do plano imediato ao mais de longo prazo. No momento, estamos fechando os estudos para apresentar ao País um plano de renovação da frota automotiva que será capaz de dar uma resposta prota e efetiva à crise. Queremos reanimar o parque produtivo. Buscamos o reaquecimento do mercado interno. Essa política econômica que só olha para o setor financeiro é um desastre. É preciso reverter isso. Nossa proposta de incentivo à renovação da frota de veículos e, especialmente, caminhões e tratores vai nessa linha de ativar a economia real.
BR: O que é possível adiantar em relação a isso?
MIGUEL TORRES: A subseção do Dieese na Confederação Nacional dos Metalúrgicos está fechando os detalhes. Nós já sabemos que 25 por cento da frota de caminhões do Brasil tem mais de 30 anos de uso. Uma troca desses caminhões por novos vai agitar uma enorme cadeia industrial. O dono do caminhão receberá um bônus pela entrega do antigo na aquisição deum novo. Esse caminhão velho poderá ser desmontado, ser reciclado, uma parte voltará a ser matéria prima, que será utilizada pela própria indústria. Dá para animar uma grande parte da indústria brasileira em pouco tempo. O Brasil não tem vocação para ficar parado.