´Poderia ter matado um paciente´, diz enfermeira

Folha S.Paulo

DE SÃO PAULO

“Eu poderia ter matado um paciente.”

A frase é da enfermeira Bianca Xavier Luengo, 41, que se definia como uma pessoa calma, que tinha facilidade para resolver problemas. Hoje, com diagnóstico de esquizofrenia e transtorno bipolar, vive vigiada e não sai de casa sem acompanhante.

Segundo ela, a doença surgiu após uma situação de estresse vivida na véspera do Natal, há três anos, dentro da UTI de um grande hospital em São Paulo.

“Deixaram-me sozinha para cuidar de quatro pacientes. Um deles ´parou´, deu tudo errado. Daí surtei”, disse.

Bianca entrou no hospital em 2009 como auxiliar de enfermagem. Por orientação da chefia, tornou-se técnica em enfermagem e depois enfermeira graduada.

“Eles me deram uma bolsa de estudo, mas, para isso, trabalhava até 36 horas sem dormir. Saía da faculdade e voltava para o hospital.”

A enfermeira contou que a pressão por resultados era grande e que um dia quase aplicou a medicação errada no paciente.

Após duas tentativas de suicídio, o INSS concedeu a ela afastamento por um ano.

Depressão e estresse são os transtornos mentais causados pelo trabalho que mais causam afastamentos pelo INSS, segundo o Ministério da Previdência Social.

A professora Jacira Resende Rodrigues, 56, afirma que o estresse excessivo e a pressão dos chefes a levaram a desenvolver síndrome de “burnout” (distúrbio de caráter depressivo, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional).

Ela chegou a ser afastada pelo INSS por dois meses, em 2009, mas depois foi considerada apta pela perícia a voltar a trabalhar.

O médico da escola privada onde trabalha discordou do diagnóstico e Jacira continua afastada, sem receber nenhuma remuneração.

“A escola acabou comigo”, afirma a professora.

A advogada de Jacira, Maria José Giannella Cataldi, tenta conseguir na Justiça novo período de afastamento para a professora.

Para Ruy Shiozawa, presidente-executivo da organização Great Place to Work, o maior acesso à informação e a globalização contribuem para a maior ocorrência de doenças mentais.

“A globalização criou um ambiente de competição dentro e fora das empresas.”

Segundo o especialista, há empresas que possuem iniciativas para ajudar a preservar a saúde dos funcionários.

Mas, ressalta ele, ainda falta à maioria das corporações a visão de que “os resultados vêm por meio das pessoas”.