A indústria de transformação deve crescer no segundo trimestre do ano em relação ao primeiro. Com base na produção de abril, nas encomendas de maio, nas contratações e também no “sentimento” de empresários, diferentes associações da indústria esperam um desempenho melhor dos seus setores na comparação com os primeiros três meses do ano.
Ninguém projeta um trimestre “explosivo” e há, inclusive, quem mostre mais preocupação, como os setores químico e siderúrgico. Com base nos chamados indicadores antecedentes, contudo, os economistas já começaram a revisar as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre e agora esperam um ritmo superior ao dos três primeiros meses, com parte dessa melhora vindo da indústria de transformação – segmento que chegou a abril com alta acumulada de quase 5% desde o segundo trimestre de 2012.
Termômetro importante do nível de atividade da economia, o setor de papelão ondulado entrou no segundo trimestre em aceleração. Após uma alta de 4% em vendas físicas no primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado, o segmento prevê avanço de 6% no segundo trimestre na mesma base de comparação, para um total de 870 mil toneladas em expedição física de embalagens, segundo o presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), Ricardo Trombini. Prova do bom momento pelo qual passa o setor, os custos adicionados por logística, matérias-primas e mão de obra devem ser compensados por uma alta de até 12% nos preços das embalagens no primeiro semestre. Com isso, o faturamento deve crescer de 8% a 10% no período, na comparação com os primeiros seis meses de 2012.
O setor eletroeletrônico é outro que deve ter registrado mais um trimestre positivo, embora as previsões contenham um pouco de moderação. Sondagem feita para o período entre abril e junho indica que 62% das indústrias do setor esperam crescimento das vendas em relação ao primeiro trimestre, enquanto 28% projetam estabilidade e apenas 10% queda, diz Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Dados antecipados pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) indicam que o segmento também atingiu uma boa velocidade entre janeiro a abril, com alta de 4,9%, na comparação com igual período de 2012 – o sétimo maior crescimento dentre os setores industriais.
Os dados de maio também ganharam reforço com o índice de movimentação nas estradas – que subiu 5,9% em relação a maio do ano passado e 1,1% em relação a abril, com ajuste sazonal – e a produção recorde das montadoras.
Embora o peso do setor de açúcar e álcool não passe de 1% da economia como um todo, o processamento atrasado da safra promete. Projeções do economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, indicam que a produção de açúcar na região Centro-Sul teve alta de 208% e a de etanol, de 220%, entre abril e a primeira quinzena de maio ante igual período do ano passado. A indústria extrativa mineral é outra que deve ao menos parar de atrapalhar a atividade econômica no segundo trimestre. Outro ponto que deve se provar positivo especialmente para a produção industrial é que o segundo trimestre deste ano terá 5% a mais de dias úteis do que o primeiro, o que é atípico – a média é de apenas 0,2% dias úteis na comparação dos dois trimestres.
Diante desse cenário, a LCA estima avanço de 2,5% para a indústria no segundo trimestre, o que deve se refletir na atividade como um todo do período, cuja alta deve chegar a 1,1%. O Itaú Unibanco espera alta de 0,8% para o PIB do segundo trimestre, levado por uma alta de 1,5% da indústria. Para o economista Aurélio Bicalho, dados obtidos até o momento reforçam esse cenário, “com risco de ter crescimento até acima disso”.
Do lado do varejo, contudo, predomina a cautela. Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), em maio as movimentações do comércio a prazo – pagamentos feitos com cartão de crédito – subiram 1,3% sobre maio passado, reforçando a tendência tímida para o ano. Em cinco meses, a alta foi de 1,1%. A emissão de cheques, mais ligada a pagamentos à vista, não cresceu em maio, e acumula alta de apenas 0,9% em cinco meses. A pesquisa é feita com base em dados da Boa Vista Serviços, que administra o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).
“É uma situação confortável e temporária porque as pessoas não estão desempregadas e o governo fará de tudo para que isso não aconteça”, diz Emilio Alfieri, economista da ACSP. Com isso, a ACSP revisou a alta para o comércio de alta entre 4% e 5% para cerca de 2%.
O polo industrial da Zona Franca de Manaus, um dos maiores centros de eletrônicos e de bens de informática do país, reflete a disparidade entre setores. Até abril, a receita do polo subiu 11,7% na comparação com igual período de 2012, para R$ 23,9 bilhões. Aberto por setores, porém, equipamentos de tecnologia vendem como água – a receita do polo de informática subiu 36%, para R$ 3,2 bilhões. Já a receita com motos e componentes caiu 9,38%, para R$ 13,5 bilhões. E para maio a expectativa é que, puxado pelos eletroeletrônicos, o polo volte a contratar. “Já se fala na criação de dez mil novos postos de trabalhos nestes meses” diz Wilson Périco, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam).
Eduardo Batistella Mazurkyewitz, diretor comercial da Mazurky Indústria de Embalagens de Papelão, acredita que o desempenho da sua empresa, cujo faturamento subiu 30% no ano até maio, pode dar uma boa medida do que vem por aí. Diante de um cenário mais desafiador, diz ele, a percepção é que seus clientes procuraram novas soluções e mercados – o que pode ter ocasionado a maior procura neste ano. Para ele, os números do setor mostram um segundo semestre melhor do que estão pintando. “A [presidente] Dilma [Rousseff] é que vai ficar contente com esta história”, brinca.