Prejudicada por estoques elevados e desaquecimento da demanda, a indústria começou o quarto trimestre estagnada e reforçou o cenário de novo desempenho fraco da atividade econômica nos últimos meses de 2014. Divulgada ontem pelo IBGE, a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) mostrou que produção industrial ficou estável entre setembro e outubro, feitos os ajustes sazonais. A expectativa era de leve alta no período, após o recuo de 0,2% observado na comparação anterior.
Como o nível de mercadorias paradas em diversos segmentos segue acima do desejado e as exportações também vão mal, economistas avaliam que a indústria não terá fôlego para uma forte retomada nos próximos meses. Mesmo considerando que a produção pode crescer 0,5% no período (em relação aos três meses anteriores), o ano será perdido para o setor, que deve terminar 2014 com retração de cerca de 3% da atividade.
A performance ruim foi disseminada em outubro. Na passagem mensal, 16 dos 24 ramos de atividade pesquisados pelo IBGE diminuíram sua produção, com destaque para produtos farmacêuticos e farmoquímicos (-9,7%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-2,2%). Segundo cálculos da Tendências Consultoria, o índice de difusão da indústria, que mede o percentual de segmentos em expansão, caiu de 54,2% em setembro para 25%.
Na análise por categorias de uso, também há um quadro de fraqueza generalizado, mas pior em segmentos diretamente voltados ao consumo. Enquanto os bens intermediários e de capital registraram estabilidade, a produção de bens de consumo duráveis encolheu 0,8%, e a de semi e não duráveis ficou 0,6% menor.
Para André Macedo, gerente da coordenação da indústria do IBGE, a relativa estabilidade da produção observada nos últimos dois resultados é reflexo da desaceleração da demanda e do consequente maior acúmulo de estoques pelo setor. “Geralmente, de agosto a outubro se observa crescimento mais intenso na produção industrial para atender a demanda do fim de ano. Mas, considerando que o setor vem operando em sua maior parte com estoques acima da média, é natural supor que opere em ritmo menor”, disse.
A indústria de bens duráveis já vinha sendo afetada pelo maior endividamento das famílias, que diminuiu o volume de renda disponível e a demanda por esses produtos, diz Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora. Agora, a queda em semiduráveis e não duráveis mostra que há uma restrição maior também para consumir outros itens, em linha com a perda de fôlego da renda.
“O crescimento da renda acima da inflação abrandou e deixou de ser fator de compensação para o enfraquecimento dos bens duráveis”, afirma Combat. Como, no fim do ano, há uma injeção maior de renda disponível em função do décimo terceiro, ele espera que a indústria tenha comportamento um pouco mais positivo em novembro e dezembro, mas sem marcar uma reversão na tendência ruim de boa parte do ano.
Já Alexandre de Andrade, da GO Associados, avalia que o desempenho do setor de semi e não duráveis tende a não mostrar recuos muitos expressivos, porque estes são itens de consumo de maior necessidade por parte das famílias. Por outro lado, a piora das condições de crédito, o elevado comprometimento de renda dos consumidores, o patamar alto de estoques e, do lado externo, a crise da economia argentina indicam que a produção de bens duráveis seguirá em ritmo fraco.
Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, diz que os primeiros indicativos de novembro não permitem prever retomada consistente. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), da Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu pelo segundo mês consecutivo, ao avançar 3,6% sobre outubro, para 85,6 pontos. Em sentido contrário, o Índice de Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) industrial, do HSBC, recuou de 49,1 pontos para 48,7 pontos no mesmo período. “As evidências de estoques ainda indicam necessidade de ajustes da produção no curto prazo”, diz.
Por isso, o economista avalia que não há espaço para recuperação forte do setor manufatureiro no último trimestre de 2014 – ano que, segundo suas estimativas, deve se encerrar com queda de 2,7% da produção.
Se o início mais fraco do que o esperado para a atividade também for confirmado em outros indicadores além da produção, a projeção da GO Associados de aumento de 0,7% do PIB entre o terceiro e o quarto trimestre pode ser revista para baixo.