A última vez que a empresa havia recorrido a esta alternativa foi em 2009, no auge da última grande crise econômica internacional
O grupo Randon vai reduzir a jornada de trabalho na maior parte de suas empresas de implementos rodoviários e autopeças em até quatro dias por mês durante três meses, de agosto a outubro, para adequar a produção à demanda e equilibrar os estoques diante da desaceleração do setor automotivo. A última vez que a empresa havia recorrido a esta alternativa foi em 2009, no auge da última grande crise econômica internacional.
O diretor corporativo de recursos humanos, Vanderlei Novello, disse ao Valor que a medida, prevista na convenção coletiva dos funcionários, vai atingir 8 mil dos 12 mil empregados da Randon no Brasil e no exterior. O acordo estabelece a parada da produção às sextas-feiras e pode ser prorrogado por mais 90 dias para evitar demissões, explicou o executivo. “Mas nossa esperança é que não será necessário prorrogar”, disse.
Segundo Novello, o mercado entrou numa “onda de desaquecimento” entre abril e maio e desde então a Randon já havia feito alguns “feriados estendidos” e concedido férias de 20 dias a boa parte dos funcionários até a segunda semana deste mês. “Mas na volta a demanda continuou a dar sinais ruins de desaceleração”, explicou. Ele acrescentou que férias coletivas no meio do ano não faziam parte da “história recente” do grupo e que a prioridade agora é “preservar os postos de trabalho”.
A redução da jornada foi aprovada em votação pelos funcionários da Randon Implementos, de Caxias do Sul (RS); Randon São Paulo; Suspensys (eixos e suspensões); Castertech (fundição); Master (freios); e Jost Brasil (sistemas de acoplagem para caminhões), com índices de 78% a 100% de apoio. Ficaram de fora a Fras-le, que fabrica lonas e pastilhas de freio; Randon Veículos, que produz veículos especiais para setores como construção e mineração; e a administradora de consórcios.
Em 2009 a produção foi paralisada também às sextas-feiras durante três meses na Suspensys, Master e Jost. Na Randon Implementos o corte de dias trabalhados se estendeu durante seis meses, lembrou Novello.
Em comunicado divulgado ontem, o grupo informou que a decisão deveu-se à “instabilidade do mercado nacional que afeta diretamente a área de transporte de cargas e aquisição de caminhões e, em decorrência, o fornecimento de reboques e semirreboques, além da cadeia de autopeças”. Segundo a nota, 50% das horas não trabalhadas serão abonadas e 50% descontadas, sem prejuízo no descanso semanal remunerado, férias, décimo-terceiro salário e programa de participação nos resultados.
A Guerra, uma das principais concorrentes da Randon no segmento de implementos rodoviários e sede também em Caxias do Sul, já havia adotado a redução de jornada com 12 dias de parada na produção entre o fim de fevereiro e o fim de maio. De acordo com a empresa, que tem 1,5 mil funcionários, a medida atingiu a área industrial e não incluiu o desconto nos salários, pois haverá compensação nos sábados. O primeiro dia já foi recuperado.
As iniciativas das empresas refletem o desaquecimento do setor. Conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), os emplacamentos de reboques e semirreboques rodoviários caíram 10,55% no primeiro semestre ante igual período de 2013, para 28,6 mil unidades. Já a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apurou queda de 12,6% nos licenciamentos de caminhões na mesma base de comparação, para 63,3 mil veículos.
A Randon teve queda de 2,6% na receita líquida consolidada no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2013, para R$ 1,98 bilhão. Em junho, a retração foi de 10,6% ante junho do ano passado, para R$ 302,8 milhões. Até agora, a previsão do grupo – que divulga o resultado do segundo trimestre no dia 7 de agosto – é de receita consolidada líquida de R$ 4,4 bilhões em 2014.
A Fras-le, controlada de capital aberto, registrou alta de 9,9% na receita líquida consolidada do semestre, para R$ 379,1 milhões. Em junho, porém, apurou queda de 4,6% sobre o mesmo mês de 2013, para R$ 55,4 milhões. No primeiro trimestre, 44% da receita vieram das exportações e das vendas das unidades no exterior.