A inflação alta e a piora nas condições do mercado de trabalho neste ano levaram os reajustes salariais no primeiro semestre ao menor percentual de ganho real desde 2008 (0,51% em média). Em 2014, as 302 negociações tiveram correção média de 1,46% em termos reais. Em 2009, 0,74%. Além do percentual médio, a proporção de campanhas que conseguiram alta acima da inflação também foi a pior da série, 68,5%, contra 92,7% no ano passado e 76,2% em 2009.
Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o número de acordos em que o reajuste não cobriu o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (INPC) chegou a 14,6%, o maior desde 2008 (10,9%). No ano passado, apenas 2,6% dos acordos ficaram abaixo da inflação.
A indústria sofreu a maior deterioração entre os setores. Entre o primeiro semestre do ano passado e o mesmo período de 2015, o aumento real médio das remunerações passou de 1,51% para 0,19%. A parcela de reajustes abaixo do INPC cresceu de 4,7% para 20,3%. Houve desaceleração dos ganhos em todos o segmentos, com perda real no químico e farmacêutico (-0,4%) e na indústria urbana (-0,03%). O comércio concedeu aumento real em 75,6% dos acordos e os serviços, em 73,6%.
“Os resultados confirmam o cenário mais adverso deste ano, com redução no percentual médio de ganho real e na proporção de acordos com aumento acima da inflação”, diz o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira. O avanço expressivo da inflação neste ano e a piora do mercado de trabalho explicam, para ele, a deterioração observada nos números do primeiro semestre deste ano.
Tradicionalmente, as negociações da segunda metade do ano costumam auferir ganhos maiores do que as da primeira, já que reúnem categorias com maior tradição sindical e setores onde há maior poder de barganha. Dada a dificuldade por que vem passando a indústria, entretanto, há possibilidade de que os acordos do segundo semestre tenham resultado tão ruim quanto o primeiro, avalia Oliveira. “O problema da piora no mercado de trabalho vai além do aumento da taxa de desemprego e se manifesta no aumento da informalidade, na queda da renda e da massa salarial”, comenta.
O desgaste do cenário neste ano aparece também no percentual de reajustes parcelados, que cresceu de 4,3% no ano passado para 6% dos 302 acordos acompanhados pelo levantamento, um ponto percentual acima do pior resultado registrado até então, de 2009, quando 5% das correções nos salários foram parceladas.