Reforma fiscal prevê suspender alta real do salário mínimo

Seria umas das últimas medidas caso despesa extrapole limites.
Alta acima da inflação, porém, só viria no futuro com PIB maior.

Alexandro Martello e Fernanda Calgaro
Do G1, em Brasília

O governo federal quer enviar ao Congresso, até o final de março, uma proposta de lei complementar com medidas a serem adotadas caso as despesas extrapolem os limites autorizados – a chamada reforma fiscal. Segundo informou o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, nesta sexta-feira (19), a proposta prevê que, no limite, possa ser suspenso o aumento real (acima da inflação) do salário mínimo.

Atualmente, o salário mínimo está em R$ 880. O valor é reajustado com base nos parâmetros estabelecidos para sua correção – que é o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes mais a inflação do ano anterior medida pelo INPC, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor, que reflete a alta de preços para famílias com renda entre um e cinco salários mínimos.

Quando a economia está crescendo, o PIB garante um aumento do salário mínimo acima da inflação. Com a recessão e o PIB está caindo, o reajuste fica apenas pela inflação.

2017 e 2018 sem aumento real
Em janeiro do ano passado, o governo afirmou que este cálculo do mínimo seria mantido entre 2016 e 2019. Nos próximos dois anos, portanto, não devem haver aumentos reais do salário mínimo, visto que, em 2015, o PIB deve ter registrado queda de cerca de 4%, segundo “prévia” divulgada pelo Banco Central nesta semana.

Em 2016, o próprio governo já admite que o PIB deverá ter uma contração de 2,9%. O PIB de 2015 serviria de base para um aumento real do mínimo em 2017, e o PIB deste ano para 2018.

Nestes dois anos, pelas regras atuais de correção do mínimo, o salário deve ser reajustado somente com base no INPC para evitar perdas inflacionárias.

Impacto da reforma no mínimo
Se aprovada, a reforma fiscal proposta pelo governo poderá ter efeito no salário mínimo de 2019 em diante. E isso somente depois depois de outras medidas, como a suspensão de novas desonerações.

Caso a economia volte a crescer em 2017, o cálculo para o aumento garantirá um reajuste acima da inflação. Porém, se os gastos ficarem acima do esperado, existe a possibilidade do governo suspender a alta real do salário mínimo.

De acordo com o ministro da Fazenda, o plano de reforma fiscal tem três etapas, e a suspensão da alta real do minimo é uma das últimas medidas a serem adotadas. “O primeiro estágio é focado em custeio e folha [de pagamento]”.

O foco inicial é o reajuste real. Se não for suficiente para conter o gasto, vai para o segundo estágio, onde o foco está no aumento nominal. Se também não for suficiente, vai para o terceiro estágio”, explicou Barbosa. “Se ver que o gasto pode extrapolar os limites, aciona [o plano]”, declarou.

1ª etapa
Antes de suspender uma alta real do salário mínimo, o governo propõe, na primeira etapa da reforma fiscal, a suspensão da concessão de novas desonerações, o aumento real das despesas de custeio, das demais despesas discricionárias, a realização de concursos e criação de cargos públicos, e o aumento real (acima da inflação) dos salários dos servidores.

2ª etapa
Se essas medidas ainda não surtirem efeito para atingir as metas fiscais no futuro, o governo propõe a suspensão da ampliação de subsídios, do aumento nominal das despesas de custeio e das despesas discricionárias (sobre as quais o governo tem controle) e o reajuste nominal dos salários dos servidores públicos.

Última etapa
Uma terceira etapa contemplaria a suspensão do reajuste do salário mínimo acima da inflação, a redução de despesas com servidores não estáveis e da despesa de benefícios de servidores.