Por Eduardo Laguna | De São Paulo
Apesar da queda nas vendas, a indústria automobilística não deixou de remeter quantias bilionárias de lucro ao exterior no ano passado. No total, US$ 3,29 bilhões foram enviados de volta às matrizes por empresas do setor, incluindo autopeças, instaladas no país (ver gráfico ao lado). O montante ficou 34,7% acima dos US$ 2,44 bilhões de 2012 e representa a maior remessa entre todos os ramos da economia monitorados pelo Banco Central, superando novamente a indústria de bebidas, que remeteu US$ 2,84 bilhões em 2013.
Mas, além das remessas, investimentos em negócios no exterior foram outro canal de saída do capital obtido por essas empresas no Brasil. Em 2013, US$ 1,06 bilhão saíram do país como investimentos diretos em subsidiárias de outros mercados, a maior cifra em três anos, conforme o levantamento do Banco Central. O banco, todavia, não detalha o destino desse capital, assim como as empresas envolvidas nas transações.
Se as remessas de lucro são as maiores entre todas as atividades econômicas, os investimentos em empresas automobilísticas no exterior perdem apenas para os realizados pelas indústrias de produtos químicos (US$ 1,1 bilhão) e petroleira (US$ 1,25 bilhão) entre os setores de manufatura ou extração mineral.
Como são poucas as montadoras ou multinacionais de autopeças que divulgam balanços no Brasil, os dados do Banco Central são o principal termômetro de quanto essas empresas estão ganhando por aqui. Juntos, remessas de lucro e aportes no exterior passaram de US$ 4,3 bilhões no ano passado. Já na direção oposta, o fluxo de investimentos estrangeiros em companhias do setor no Brasil – de US$ 1,87 bilhão – não chegaram a metade disso.
Para a consultora Letícia Costa, do Insper, os números comprovam a alta rentabilidade das montadoras no Brasil, onde está o quarto maior mercado de veículos do mundo. “Elas investem aqui pelo tamanho do mercado e também por que é um negócio rentável”, afirma.
Nos últimos nove anos, as remessas de empresas automobilísticas superaram a cifra de US$ 28 bilhões, irrigando os cofres das matrizes em períodos de crise nos Estados Unidos e na Europa.
Por sua vez, desde 2007, os investimentos no exterior feitos a partir do Brasil chegam perto de US$ 4 bilhões. Isso indica que as filiais brasileiras de grandes grupos automobilísticos globais estão assumindo participação mais ativa nos financiamentos de negócios no exterior, principalmente na América do Sul.
Para analistas, essa situação reflete uma nova política adotada por montadoras que passaram por crises nos últimos anos e, agora, preferem preservar o caixa, reduzindo o apoio financeiro a suas controladas. Assim, o financiamento de projetos fica cada vez mais a cargo das subsidiárias. Como o Brasil, geralmente, é a sede dos negócios dessas multinacionais na América do Sul, o país se torna, então, plataforma de grandes aportes recebidos por montadoras ou fabricantes de autopeças da região. Partem de empresas brasileiras, por exemplo, 28% dos investimentos estrangeiros recebidos pela indústria automobilística argentina.
Após registrar queda em 2012, tanto as remessas como os investimentos no exterior voltaram a subir num ano em que as vendas de veículos tiveram a primeira queda em uma década. Em 2013, os emplacamentos – entre carros, caminhões e ônibus – caíram 0,9%, para 3,77 milhões de unidades.
Apesar disso, nove anos seguidos de evolução da demanda – em algumas vezes obtida com desoneração de impostos e renúncia fiscal do governo – mais do que dobraram o tamanho do mercado. Nesse período, as margens de lucro das montadoras foram apertadas pelo acirramento da concorrência, junto com a elevação dos custos de matérias-primas e da mão de obra. Ainda assim, elas puderam aproveitar essa expansão de consumo com carros vendidos a preços acima da média internacional, o que ainda lhes permite brindar as matrizes com bons retornos obtidos no Brasil.