Com emprego em alta e aumento real do salário, o trabalhador da indústria acompanha a onda de prosperidade. Mais de 100 mil metalúrgicos foram beneficiados até agora com reajustes de 9%, suficientes para cobrir a inflação acumulada em um ano e ainda proporcionar um ganho de 4,5%. Outros empregados do setor estão na fila, reivindicando acordos semelhantes, enquanto petroleiros e bancários começam a discutir com os patrões a revisão salarial. Rendimentos maiores para grandes categorias contribuirão, neste fim de ano e nos primeiros meses de 2011, para sustentar a procura de bens de consumo – com uma ajuda, naturalmente, do crédito ainda farto.
Com o mercado interno cada vez mais forte, um crescimento econômico de pelo menos 7% em 2010 parece garantido. E ainda restará um bom impulso para os negócios no próximo ano, se uma inflação maior não puser em risco os salários e não forçar o Banco Central (BC) a elevar os juros de novo.
Só no ABC paulista, um dos mais importantes centros industriais do País, cerca de 60 mil trabalhadores de vários setores conseguiram reajuste de 9%. Mas até a terça-feira só uma das montadoras, a General Motors (GM), havia concluído um acordo com os empregados. Foram beneficiados os trabalhadores de São Caetano e também os de São José dos Campos. O pessoal das demais montadoras continuava pressionando os empregadores e o estado de greve já havia sido declarado em fábricas do ABC, de Taubaté, de Tatuí e de São Carlos. Também os petroleiros anunciaram um indicativo de greve, em nome de 70 mil trabalhadores do setor.
Os assalariados têm a seu favor, neste ano, uma economia em rápida expansão, com bons lucros acumulados até agora e perspectivas de mais ganhos para as empresas nos próximos meses. De janeiro a julho deste ano o volume de vendas do comércio varejista foi 11,4% maior do que um ano antes. O aumento acumulado em 12 meses chegou a 9,7% e a acomodação observada no segundo trimestre já ficou para trás. Em julho, o comércio havia retomado o dinamismo.
A criação de postos de trabalho tem acompanhado a evolução das vendas. No mercado paulista, o emprego industrial aumentou 7,9% no ano, até agosto, com a contratação de 180 mil trabalhadores. Segundo estimativa do diretor do Departamento de Pesquisas da Fiesp, Paulo Francini, o Índice do Nível de Atividade da indústria paulista deve subir 11% neste ano e cerca de 7% no próximo. Essa evolução continuará favorecendo a expansão do emprego e a elevação dos salários.
Por enquanto, os ganhos de produtividade da indústria têm permitido a concessão de aumentos sem grandes pressões de custos. Por esse lado, pelo menos, a expansão da folha de pagamentos não deve afetar a evolução dos preços. Além disso, a indústria voltou a investir desde o fim da recessão. Graças a isso, a produção tem crescido sem elevação do uso da capacidade instalada, segundo as últimas sondagens divulgadas. Mas o nível de uso permanece elevado, na vizinhança de 85%, como indicaram os economistas do BC na ata da última reunião do Copom.
Por enquanto, os dirigentes do BC descartam o risco de novas pressões inflacionárias em 2010 e pelo menos em boa parte de 2011. Essa foi a justificativa principal para a interrupção da alta de juros. Além disso, os efeitos dos aumentos iniciados em abril ainda não se esgotaram.
Se essa avaliação estiver correta, não haverá grande risco, nos próximos meses, de erosão do poder de compra de salários por um novo surto de inflação. Resta ver se a própria demanda será absorvida pelo mercado sem maiores efeitos nos preços.
A primeira prévia do IGP-M de setembro indicou uma alta de 0,99%, mais que o dobro da verificada um mês antes, de 0,42%, A aceleração resultou principalmente do aumento dos preços no atacado, 1,44%. O repasse dos preços para o varejo pode não ocorrer, ou ser apenas parcial, dependendo da demanda. O BC, de toda forma, deverá continuar atento. É seu papel manter a preocupação enquanto empresários e consumidores festejam a prosperidade.