Sangue novo para avançar


por Edenilson “Alemão” Rossato

Depois da reforma trabalhista e do fim do imposto sindical, muitos dirigentes sindicais afirmam que o movimento sindical precisa se reinventar. Alguns dizem que a atuação deverá retornar ao que era no passado e outros dizem que é necessário pensar um novo modelo. O fato é que quase ninguém se coloca como parte desta mudança, o olhar está sempre no outro!

Se observarmos as transformações ocorridas na sociedade brasileira nos últimos 40 anos, principalmente nos grandes centros urbanos e regiões fabris, é possível perceber que os trabalhadores eram em sua grande maioria imigrantes vindos de regiões rurais, muitos analfabetos, em busca de uma vida melhor. Desta geração, muitos já faleceram, estão aposentados ou retornaram para suas terras natais.

Hoje é diferente. As categorias de trabalhadores são formadas por uma juventude com formação de segundo grau e/ou universitária, vivendo em um mundo com inúmeros avanços tecnológicos, inclusive nos meios de comunicação e nos modos de interagir socialmente. À heróica e tradicional comunicação sindical, baseada em carro de som e informativo com tabela de reajuste salarial, adotamos novos materiais e práticas e, nesta área, precisamos avançar muito mais.

O desafio é muito simples: como criar identidade com este novo público?

Os rostos dos dirigentes sindicais, nas portas de fábrica e nas redes sociais, são os mesmos de 40 anos atrás, claro que um pouco mais envelhecidos, tentando dominar com mensagens religiosas e submissão ao velho modelo de culto à personalidade.

Pensando no futuro, é fácil observar também que o capitalismo globalizado é um “camaleão”, pois o mundo está em franco aceleramento digital, novas profissões estão surgindo, muitas irão desaparecer e a inteligência artificial vai dominar.

Qual será a pauta do movimento sindical neste “admirável mundo novo”? Difícil saber, pois raros são os dirigentes realmente preocupados com o tema. A tal reinvenção do sindicalismo, para muitos, é tão somente uma briga pela manutenção do poder, para não largar o “osso”.

Outra discussão no nosso meio é a eleição 2018, incluindo o que considero uma aventura eleitoral das candidaturas de origem sindical, como se isto fosse resolver os problemas da classe trabalhadora. E o pior: temos companheiros fazendo acasalamentos eleitorais com políticos predadores, com as piores figuras da direita, representantes do modelo fascista que cresce cada vez mais no Brasil.

É triste ver esta troca de alianças, pois que tipo de monstrengo sairá destas relações?

O fato é que os dirigentes do período do sindicalismo de resultados tiverem sua parte importante na História, e ainda são muito importantes, pois não se pode abrir mão de todo conhecimento acumulado. Mas o fato é que sangue novo faz reviver o estado de coma em que se encontra a classe trabalhadora. Primeiro precisamos oxigenar o organismo e revitalizar uma pauta que atraia os trabalhadores, para que os mesmos possam ver o sindicalismo como o porto seguro de seu futuro e tenham vontade de participar.

Sem recuperar a identidade de classe, o movimento sindical viverá de remendos, sempre atrás das migalhas que caem das mesas do capital, prevalecendo a ascensão de uma meia dúzia de dirigentes dinossauros que, em uma “masturbação” frenética com seus senhores do poder, fará o sindicalismo ir ao fundo do poço, para renascer das cinzas e, é claro, quando os dinossauros já não existirem mais!

Edenilson “Alemão” Rossato
diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes