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Sem ganho real, metalúrgicos marcam greve

A combinação de cenário eleitoral, inflação mais alta, demissões e forte desaceleração da economia afetou a negociação salarial dos metalúrgicos, uma das categorias mais fortes e organizadas do movimento sindical. Um mês após a data-base da maioria dos metalúrgicos paulistas – 1º de setembro – a oferta das empresas chegou na reposição da inflação passada, o que fez vários sindicatos do setor, localizados no ABC e no interior, marcarem greve para a próxima semana. A exceção é, de novo, os trabalhadores das montadoras, onde a grande maioria das empresas já concedeu aumento real de 2% apesar da crise, dos programas de demissão voluntária e dos afastamentos temporários. No ABC, sem montadoras, as paralisações podem começar quarta-feira, dia 8.

Enquanto em grande parte das montadoras o aumento real já foi assegurado (em alguns casos, como na Volkswagen, um acordo garantiu 2% de ganho real anual durante cinco anos), no resto da categoria metalúrgica o máximo oferecido foi a reposição da inflação pelo INPC. Os trabalhadores agora pedem 8%, o que implica 1,55% de ganho real. Em 2013, o acordo foi de 8%, mas o cenário era diferente.

A inflação acumulada na data-base era levemente menor em 2013 (6,05%), o que fez o aumento real negociado ser um pouco maior que o atual pedido dos metalúrgicos. No ano passado, a greve também foi marcada, mas na véspera um acordo foi feito e poucas empresas pararam. A diferença é que em 2013, as negociações terminaram antes, em meados de setembro. Agora, os dois lados da negociação (empregados e trabalhadores) deixaram ela se arrastar, em parte pelas eleições presidenciais.

Além da inflação, o cenário de emprego é hoje bem distinto. De janeiro a agosto de 2013 foram abertos 14 mil novos empregos nas diferentes categorias do setor metalúrgico em São Paulo. No mesmo período deste ano, foram fechadas 37 mil vagas nos mesmos segmentos, queda de cerca de 4% no total de empregados do setor.

A negociação dos metalúrgicos é dividida em seis grandes grupos: máquinas (o maior deles com mais de 89 mil metalúrgicos paulistas apenas na base da Central Única dos Trabalhadores), autopeças (51 mil), trefilação e fundição, lâmpadas e estamparia. Pedro Evangelinos, negociador da indústria de máquinas, diz que, por enquanto, a assembleia empresarial autorizou, apenas, a reposição da inflação. “No atual cenário, de queda de produção e faturamento, não é possível fazer mais concessões”, diz ele. Em 2013, pondera, o faturamento do setor já caiu 8% e mesmo assim foi concedido 2% de aumento real. Esse ano, a expectativa é de uma queda de 20% no faturamento, diz ele, citando dados do Departamento de Economia da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq).

Evangelinos compara os dois momentos e diz que em 2013 o setor concordou com um aumento real porque esperava a reversão do cenário negativo. “Acreditamos no governo, que nos prometeu o céu. Mas fomos lançados do avião sem paraquedas”, diz ele. Segundo o negociador, parte dos empresários do setor considera encerrar as negociações com os sindicatos de trabalhadores e pedir dissídio (julgamento do acordo no tribunal). “Não há ganho de produtividade que justifique aumento real”, diz ele, ponderando que o cenário econômico muito mais complicado que o de anos anteriores precisa ser considerado pelos negociadores dos trabalhadores.

Walmir Marques, o Biro-Biro, presidente da Federação dos Metalúrgicos da CUT, que reúne 14 sindicatos e representa 215 mil metalúrgicos na atual negociação, relativiza a situação ruim desenhada pelo setor empresarial. Ele diz que as empresas estão em situação melhor do que a apregoada pelos negociadores e pondera que as demissões feitas no setor foram além do necessário e por isso muitas empresas já estariam recontratando funcionários, embora isso não apareça nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). “O cenário já é de recuperação, as empresas precisam de mão de obra e as demissões feitas criaram uma folga, porque foram demitidos profissionais com salários mais altos. “

O presidente do sindicato de São José dos Campos, filiado à CSP-Conlutas, Antônio Ferreira de Barros, o Macapá, diz que nunca houve campanha salarial como essa, com todas as negociações “travadas” em propostas que contemplam só a reposição do INPC. Tanto no caso da GM como nos outros segmentos, ele avalia que as condições econômicas não justificam essa posição. “Os sindicatos patronais estão se aproveitando do momento eleitoral.”

No sindicato de São Caetano, ligado à Força Sindical, a postura é outra. Referindo-se aos pátios lotados de veículos na fábrica da GM da cidade, o presidente Francisco Nunes Rodrigues argumenta que o acordo feito com a montadora em 2013 foi vantajoso para os 11,5 mil funcionários da empresa, mesmo sem garantir aumento acima da inflação nos dois anos seguintes. “Esse ano foi atípico. Nunca vi ter crise em ano de eleição, mas esse ano está tendo”, diz.

Em Campinas, os 700 funcionários da fábrica da Mercedes-Benz voltaram ao trabalho nesta quarta, após o sindicato da região, filiado à Intersindical, ter fechado acordo que concede 2% de aumento real aos salários. Os trabalhadores não terão os dias parados descontados. O mesmo índice de reajuste foi fechado com a Toyota na semana passada e está sendo discutido com a Honda, que fica em Sumaré. As greves tendem a se intensificar nas próximas semanas se as propostas de reajuste não saírem da reposição da inflação, diz o presidente do sindicato, Jair dos Santos.