Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
As indústrias brasileiras de autopeças registraram, em média, nos primeiros cinco meses do ano, retração de quase 10% (9,3%) no faturamento real (já descontando a inflação), na comparação com mesmo período de 2013. É o que aponta pesquisa do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) divulgada ontem.
O levantamento mostra a intensificação da queda nas vendas pelo quarto mês seguido. De janeiro a abril, o recuo era de 7% e, no trimestre, a variação era negativa em 2,9%.
Ainda de acordo com o estudo, houve redução de encomendas para todos os segmentos atendidos pelos fabricantes de autopeças: para as montadoras, diminuição de receita de 12,7%; para a reposição (lojas e oficinas), baixa de 3%; para exportação, recuo de 1,3%; e, para o atendimento a outras companhias do mesmo setor, números 12,3% menores.
Com o desempenho fraco de vendas, as empresas do segmento vêm também cortando pessoal. O nível de emprego nessas indústrias já é 4,9% menor em relação ao de maio do ano passado. Isso é especialmente ruim para o Grande ABC, que tem o setor automotivo como sua principal atividade econômica.
Se os números do setor estão ruins, as expectativas para o segundo semestre também não são animadoras, segundo empresários do segmento. Para Fausto Cestari Filho, que é vice-presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e diretor de indústria de autopeças em Mauá, esse momento é equivalente ao da crise financeira global que estourou no fim de 2008 e atingiu as fabricantes brasileiras em 2009. “E agora, há o agravante da falta de perspectiva, não há nada que mostre que a situação vai melhorar”, diz. Ele acrescenta que hoje são poucas as empresas do ramo em condições saudáveis.
A baixa nas encomendas ocorre, entre outros fatores, pela queda na demanda de veículos neste ano. Para se ajustar a esse cenário, as montadoras, com acúmulo de alto volume de carros estocados nos pátios, passaram a adotar estratégias para reduzir a produção. Isso incluiu medidas como licenças remuneradas, férias coletivas e lay-off (suspensão temporária de contratos de trabalho), além de abertura de PDVs (Programas de Demissão Voluntária).
Além disso, há a concorrência com os importados. O setor de autopeças registra deficit comercial (ou seja, importações superiores às exportações) de US$ 4,2 bilhões de janeiro a maio. Isso porque, enquanto as vendas de peças para o Exterior somam US$ 3,49 bilhões, as compras desses itens de outros países totalizam US$ 7,72 bilhões. O saldo negativo é 7% maior do que o do mesmo período de 2013.
Cestari Filho cita que as perspectivas não são boas, pois medidas como o Inovar-Auto, programa do governo federal criado para ampliar a competitividade da indústria automotiva nacional, por meio de incentivo fiscal a montadoras que fabricarem carros com etapas da produção local e peças feitas no País, “acabou sendo peça de ficção”, na sua avaliação. “Sequer foi regulamentada a rastreabilidade”, disse. Ele se refere a sistema que permitirá identificar e controlar o que, de fato, são componentes nacionais nos veículos produzidos no Brasil.