Associação estima excedente de 32 mil trabalhadores no setor
Com um excedente de mão de obra estimado em 32 mil trabalhadores pela Anfavea, a associação das montadoras, e as vendas do mercado interno despencando 25% no ano, a indústria automobilística inicia o semestre negociando com os sindicatos formas de evitar novas demissões. Estão na pauta licenças remuneradas, prorrogação dos lay-offs (suspensão do contratos de trabalho), extensão do Programa de Proteção ao Emprego (PPE), alterações na remuneração, programas de demissões voluntárias, e até mesmo reestruturações na produção, com empregados sendo treinados para montar tanto veículos de passeio como caminhões.
Mesmo tendo fechado 29 mil vagas nos últimos três anos, as montadoras têm hoje 21,3 mil trabalhadores no regime de PPE (em que há redução de jornada e de salário em até 30%), e outros 4.700 empregados em lay-off — quando o trabalhador fica em casa e parte do salário vem do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
SINDICATO DEFENDE ‘REFLEXÃO’
Em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, concentra-se boa parte desse excedente de mão de obra. Considerando só as linhas de montagem de Volkswagen, Ford e Mercedes-Benz com sede na cidade, são 6.400 funcionários a mais do que o necessário para o atual nível de produção, segundo as montadoras.
— Os trabalhadores do ABC são mais caros do que em outras montadoras. Os sindicatos, que são fortes na região, quase sempre conseguiram bons benefícios e reajustes salariais. Agora, com a crise aguda na economia, a conta está chegando — diz o especialista em setor automobilístico da consultoria Oikonomia, Raphael Galante, lembrando que as unidades de produção da área são mais antigas e, portanto, menos produtivas que as mais modernas, como as de Hyundai, em Piracicaba, e Honda, em Indaiatuba, ambas no interior paulista.
A Volks foi a primeira a enviar ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC uma pauta de “reestruturação e de redução de custos”. Na fábrica de São Bernardo, onde são montados Gol, Saveiro e Jetta, calcula-se um excedente de 3.600 trabalhadores, entre metalúrgicos e pessoal administrativo. A empresa propõe, entre outras medidas, um Programa de Demissão Voluntária (PDV), alterações no banco de horas e na jornada de trabalho, continuidade do PPE e do lay-off e, segundo o sindicato, que os trabalhadores fiquem sem reajuste em 2017, 2018 e 2019.
Atualmente, dos dez mil empregados da Volks em São Bernardo, 8.400 estão inseridos no PPE e 610 em lay-off. Há um acordo coletivo que vale até 2019, mas que se baseia numa produção anual de 250 mil unidades, que não deve ser atingida este ano. Por isso, as negociações foram reabertas.
— A situação atual exige um processo de reflexão capaz de dar soluções que interessem aos trabalhadores. Da empresa, esperamos que ela abra mão de cláusulas apresentadas — afirma o secretário-geral do Sindicato, Wagner Santana, acrescentando que a pauta da empresa já foi apresentada aos trabalhadores.
DE CARRO PARA CAMINHÃO
Procurada, a Volks informou, em nota, que as projeções indicam queda de 20% na produção este ano, e de 40% em relação a 2014, quando foi fechado o acordo coletivo em vigor. Por isso, a empresa diz que retomou o diálogo para que sejam “construídas alternativas para o novo cenário que se impõe”.
Na Mercedes, que fabrica ônibus e caminhões em São Bernardo do Campo, dos dez mil funcionários, 1.800 estão em licença remunerada. Há um PDV aberto desde 1º de julho, e, segundo a montadora, o excedente de mão de obra é de 2.000 pessoas. A empresa diz que medidas estão sendo adotadas para evitar demissões e que o diálogo com o sindicato é constante. O segmento de caminhões teve queda de 32% nas vendas em junho em relação ao mesmo mês de 2015.
Na unidade da Ford no ABC, onde é produzido o Fiesta, os trabalhadores estão sendo treinados para trabalhar também na linha de montagem de caminhões, a partir de outubro. A fábrica tem 4.500 empregados. Com essa “otimização”, o excedente de mão de obra na unidade cai a 850 pessoas. Destas, 450 entrarão em lay-off, e será aberto um PDV com meta de adesão de 300 trabalhadores da produção e cem do setor administrativo. Os funcionários aprovaram o acordo. Em nota, a Ford informou que as medidas adotadas visam adequar a estrutura atual às condições de mercado “em razão da contínua deterioração das condições de negócios e consequente redução dos volumes de vendas e produção”.