Nas montadoras, vagas geradas por demanda externa quase compensaram as demissões
A demanda por exportações na indústria automobilística gerou, nos últimos dois meses, a abertura de 1.230 vagas, número que está perto de compensar as 1,4 mil demissões ocorridas de janeiro a abril. Por enquanto são empregos temporários, mas a expectativa é de receber novas encomendas.
A Renault anunciou na semana passada a contratação de 550 funcionários em São José dos Pinhais (PR) para atender a “pedidos momentâneos” de modelos Sandero, Duster Oroch e Logan para Argentina, Chile, Colômbia e Peru. O contrato dos trabalhadores é por seis meses.
Também na semana passada, a Ford convocou 180 trabalhadores em Camaçari (BA) que estavam com os contratos suspensos desde março. Eles vão reforçar a produção de modelos Ka e EcoSport para a Argentina.
Uma semana antes, a General Motors havia decidido abrir 200 vagas na fábrica de São José dos Campos (SP) para ampliar a produção da picape S10 em razão de pedidos da Argentina e do México. Inicialmente, são contratos por sete meses.
Marcos Munhoz, vice-presidente da General Motors, afirma que o câmbio ajudou a melhorar a competitividade do produto nacional e há novos acordos comerciais fechados pelo Brasil, como o da Colômbia, para onde a empresa iniciou a venda do compacto Onix.
“Estamos olhando a América do Sul de maneira mais integrada em vista de novos acordos de livre-comércio e da renovação do acordo com o México, para onde começamos a enviar a S10. Antes, só exportávamos a picape Montana para lá.”
Em relação a 2015, a GM espera um crescimento de 52% nas vendas externas, que devem somar 100 mil unidades.
Outras 300 contratações ocorreram em abril, quando a BMW, de Araquari (SC), obteve contrato de venda de 10 mil unidades do utilitário X1 para os Estados Unidos. A entrega será feita de julho a dezembro.
Da produção de caminhões da Volvo em Curitiba (PR), 35% serão destinadas ao mercado externo, participação que era de 15% há três anos. No caso dos ônibus, metade da produção vai para fora do País, especialmente para Argentina, Chile e Peru.
“Claro que há três anos a produção era maior, o que significa que, em números, o aumento não é significativo, mas, como o mercado interno caiu, o peso da exportação é crucial para nossos negócios”, diz o presidente da Volvo, Carlos Marassutti.
Segundo o executivo, os negócios externos não levam a contratações, “mas evitam dispensa de número maior de pessoas”. A Volvo abriu recentemente um programa de demissão voluntária (PDV) e afirma ter 400 trabalhadores excedentes.
As recentes contratações são alento para um setor que vem reduzindo o quadro de pessoal há quase 30 meses seguidos. As montadoras, contudo, ressaltam que, em razão do fraco desempenho das vendas internas – que caíram 27% nos quatro primeiros meses do ano – operam com alta ociosidade e excesso de pessoal. O consumo local fica com 80% de toda a produção.
Desconto. De janeiro a abril, as montadoras exportaram 136,3 mil veículos, 24,3% mais que em igual período de 2015. Em valores, porém, houve queda de 7,6%, para US$ 3 bilhões.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, diz que as empresas brasileiras estão dando descontos aos clientes internacionais. “Hoje, mais importante do que ganhar dinheiro é estar no mercado externo, pois é uma forma de passar por esse período crítico.”
Segundo ele, como ainda há muita oscilação cambial, as empresas não se sentem seguras para firmar contratos de longo prazo e negociam períodos de seis meses a um ano. “O principal incentivo hoje para as exportações seria a previsibilidade”.
Castro aposta em aumento de 5% nas exportações de manufaturados neste ano ante os US$ 72,7 bilhões de 2015. “O cenário não é ruim, mas não está ocorrendo o que se imaginava com a desvalorização cambial”, diz. “A expectativa era de que haveria uma explosão de exportações.”