Siderúrgicas ampliam briga por preços com mineradoras


SÃO PAULO – As três maiores mineradoras do mundo, entre elas a brasileira Vale, estão enfrentando uma forte queda-de-braço com parte de seus compradores por conta do novo modelo precificação do minério de ferro, que começa a ser adotado por meio de contratos trimestrais.

Desta vez é a China que ameaça um boicote conjunto às gigantes, dias depois da Associação Europeia da Indústria Siderúrgica (Eurofer) pedir aos reguladores antitruste da União Europeia que avaliassem a conduta da companhia brasileira em relação às negociações de preço.

Entre as grandes produtoras mundiais a vale se mantém na liderança com mais de 32% do mercado, mas divide o bolo com as anglo-australianas Rio Tinto, que detém cerca de 18% e a BHP Billiton com aproximadamente 15,1%. As atuais manifestações tanto na China, como na Europa, prometem dar trabalho ao trio na hora de negociar seu produto com as siderúrgicas, principais consumidoras de minério.

A resistência chinesa surgiu com mais ênfase ontem, por parte da Associação de Ferro e Aço da China (Cisa), que defendeu na imprensa local o “tal boicote de compra” que duraria dois meses. A justificativa foi “o atual aproveitamento por parte das líderes globais do minério de suas posições de monopólio no mercado mundial” o que estaria acarretando em elevações de até 90% no preço da commodity, conforme dito nos noticiários chineses.

“Talvez pela falta de habilidade em lidar com o mercado internacional, os chineses estão constituindo ´um cartel de compradores´”, disse ao DCI , Paulo Camillo Penna, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), ao defender as mineradoras.

Penna explicou a proposta que se coloca por parte das mineradoras não é visando o aumento dos preços do minério e sim uma nova sistemática, com acordos trimestrais ao invés dos contratos de longo prazo. “Os prazos mais extensos não refletem a realidade do mercado”, disse ao acrescentar que o novo sistema vem substituir outro que vigorou nos últimos 50 anos e que acarretava perdas significativas às mineradoras.

“Em alguns momentos o preço estipulado contratualmente chegava a ficar duas vezes mais barato do que estava determinação pelo mercado”, afirmou Penna ao lembrar que no ano passado as mineradoras sofreram com uma redução média de 30% no preço do minério. Para o executivo do Ibram, apesar do atual imbróglio causado pelos setores de siderurgia asiáticos e chineses, no final, deve prevalecer a nova maneira de fechar os contratos, por seu um “sistema mais justo” o que deve ser causar uma movimentação do mercado no sentido de outras commodities adotarem a novidade.

“Do mesmo jeito que o minério pode estar mais caro hoje, daqui a três ou seis meses, ele pode ter abaixado de preço”, finalizou

Trunfo

Entre os trunfos que os chineses estão utilizando para forçar uma queda na precificação e a manutenção contratual a longo prazo é de que o País possui hoje uma reserva de 75 milhões de toneladas de minério de ferro – o que daria a conta de dois meses sem ir às compras do produto. A medida foi claramente proposta para atingir a líderes na produção mundial de minério, ao estimular que as siderúrgicas locais não comprem minério, pelo menos, por enquanto.

Procurada pela reportagem para comentar sobre a ofensiva chinesa, a Vale informou que manterá a postura comercial anunciada na última quinta-feira quando a empresa informou ter acordado com a maioria de seus clientes (cerca de 90% do volume contratual), “novas condições de precificação para o minério de ferro”, todas baseadas nas novas referências do mercado em relação à mudança de preços com bases trimestrais.

Cadeia

Mais à frente na cadeia, as siderúrgicas, que usam o minério para produzir aço, temem essa elevação por terem que repassá-la aos clientes de setores como o automotivo, construção e bens de consumo. Ontem, empresas da siderurgia indiana e coreana, anunciaram preços maiores a partir deste mês. Posco, Tata Steel, Essar Steel e Uttam Galva Steels afirmaram que o aumento ocorreu por causa do “crescimento dos custos das matérias-primas”. Procurada pela reportagem na última semana, a nacional Gerdau colocou que “mantém sua posição, na qual não prevê aumento de preços para o mercado interno”, em nota.

As três maiores mineradoras do mundo, a brasileira Vale e as anglo-australianas Rio Tinto e BHP, estão enfrentando uma forte queda-de-braço com as siderúrgicas por conta do novo modelo de precificação do minério de ferro, que começa a ser adotado por meio de contratos trimestrais. Desta vez é a China que ameaça um boicote conjunto às gigantes, dias depois de a Associação Europeia da Indústria Siderúrgica (Eurofer) ter pedido aos reguladores antitruste da União Europeia que avaliassem a conduta da companhia brasileira no que diz respeito às negociações de preço. A resistência chinesa surgiu com mais ênfase ontem, por parte da Associação de Ferro e Aço da China (Cisa), que sugeriu às suas associadas um” boicote de compra” que teria a duração de dois meses.

A justificativa foi “o atual aproveitamento por parte das líderes globais do minério de sua posição de monopólio no mercado mundial”.

“Talvez pela falta de habilidade em lidar com o mercado internacional, os chineses estão constituindo ´um cartel de compradores´”, disse, em entrevista ao DCI, Paulo Camillo Penna, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Penna explicou que a proposta das mineradoras não visa ao aumento dos preços do minério, mas a uma nova sistemática, com acordos trimestrais ao invés dos contratos de longo prazo. “Os prazos mais extensos não refletem a realidade do mercado”, afirmou.

Fabíola Binas / Agências