Trabalhadores brasileiros e americanos lutam contra práticas anti-sindicais

Fonte: Assessoria de imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba

Último dia do 2º Encontro Internacional de Montadoras reafirma  a necessidade de atuação conjunta e global dos sindicatos para fortalecer a luta em defesa dos trabalhadores

Fortalecer a integração e as ações conjuntas para barrar os ataques do capital contra a liberdade de organização sindical. Essa foi a conclusão do 2º Encontro Internacional de Montadoras, que reuniu dirigentes sindicais brasileiros e americanos, em Gravataí (RS) durante os dias 14 e 16 de outubro de 2015.

“Hoje o capital se articula de maneira global. As multinacionais se espalham pelo mundo levando em conta a mão de obra barata e as dificuldades de organização dos trabalhadores. Isso mostra como os Sindicatos devem estar articulados também a nível global para barrarem a luta contra a precariedade laboral”, resume o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, Sérgio Butka.

O anfitrião do evento, Valcir Ascari, o “Quebra-Mola”, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, também concorda com Butka: “O debate que realizamos aqui certamente será fundamental para alinhavarmos estratégias globais de manutenção dos empregos e salários, principalmente no setor automotivo”, disse.

Além de dirigentes sindicais dos EUA estão participando metalúrgicos do Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás.

Terceirização
O 3º dia do encontro iniciou com debate o tema sobre a terceirização. O economista Cid Cordeiro, assessor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, mostrou como a terceirização precariza as condições de trabalho.

Segundo Cid, terceirizados  ganham 30% a menos, trabalham 22% a mais, ficam 60% menos tempo empregados, sofrem 80% dos acidentes de trabalho e não possuem direitos e benefícios. Além disso, de cada 5 mortes no trabalho, 4 são de terceirizados.

Para o economista, através da luta, o movimento sindical tem conseguido diminuir as diferenças de renda e direitos entre celetistas e terceirizados. Porém, com o acentuamento da crise, o risco de aumento da terceirização se torna maior. – Fica claro que esse modelo de contratação é um mecanismo que amplia lucros e precariza as relações de trabalho. A terceirização abre distância entre o empregado e o empregador que não precisa mais controlar as condições do ambiente de trabalho, a quantidade de horas trabalhadas e nem sequer ter contato com o trabalhador terceirizado”, afirmou Cid.

Além disso, Cordeiro lembrou também do projeto da terceirização que está no Senado Federal. O PLC 030/15 libera a terceirização libera a  terceirização para a atividade-fim – “O que pode ser uma tragédia para os trabalhadores”, resume Cid.

Questionamento às práticas anti-sindicais das montadoras
O evento recebeu também o diretor da General Motors do Brasil (GM), Sidnei Alvares, que falou sobre como a crise tem atingido o setor automotivo e o que as empresas tem feito para minimizar seus efeito.

Alvarez foi cobrado pelos sindicalistas sobre a postura da empresa, que tenta influir nas decisões das assembleias através da chefia e de ameaças para tentar intimidar os trabalhadores. “A empresa fala que deve haver diálogo mas não se porta com respeito em relação às assembleias dos trabalhadores”, questionou um dos dirigentes sindicais.

Há partir daí, foram lembrados várias práticas anti-sindicais utilizadas pela empresas em todo o Brasil para interferir na mobilização dos trabalhadores: ameaças, assédio moral, demissões, utilização da polícia e do poder judiciário, etc.

O diretor da GM também foi desafiado pelo economista da sub-seção do Dieese, na CNTM, Roberto Anacleto, a abrir as contas da empresa. “Quando as montadoras estavam lucrando alto a dois, três anos atrás, não lembravam de chamar os trabalhadores para discutir aumento de salário, de Participação nos lucros e outros benefícios. Agora, em época de crise, querem a ajuda dos trabalhadores para dividir prejuízos. Não há transparência. Eu desafio a Anfavea a abrir suas contas para mostrar o quanto ganharam em todo  esse tempo de isenções fiscais e outros benefícios que receberam dos cofres públicos”, desafiou Anacleto.

A luta pela sindicalização nos EUA
Finalizando os debates, a representante do United Auto Workers (UAW) dos Estados Unidos, Sanchioni Butler, fez um emocionante relato da luta dos trabalhadores da fábrica da Nissan, que fica na cidade de Canton, no estado americano do Mississippi, pelo  direito de sindicalização, mesmo contra as ameaças e  práticas antissindicais da montadora.

Segundo Sanchioni, a luta do UAW não é apenas pelo direito de sindicalização, mas também para acabar com as condições ruins de trabalho na fábrica. A palestrante disse que a campanha agressiva de interferência nos esforços dos trabalhadores para formar um Sindicato na fábrica viola as normas internacionais que regem a liberdade de associação dos trabalhadores.

– A Nissan trabalha com os sindicatos em todas as partes do mundo. No entanto, nos Estados Unidos ela age de maneira muito diferente. Nós queremos que seus trabalhadores possam exercer seu direito fundamental à liberdade de associação, sem medo de retaliação ou ameaça de perda do emprego – reforçou Sanchioni Butler.

A boa nova, segundo ela, é que cada vez mais os trabalhadores estão se encorajando e buscando a sindicalização, tendo recebido como estímulo o apoio de diversas entidades sindicais espalhadas pelo planeta. Para ela, é um exemplo claro de que a unidade de ação entre os trabalhadores de todo mundo é um fator decisivo para superar momentos de tensão na relação empregador e empregados.

Próximo encontro será no Rio de Janeiro
No encerramento desse segundo encontro, os  diretores  do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, Valcir Ascari e Edson Dorneles, agradeceram a contribuição das palestras e a participação dos sindicalistas.

“Conhecer as experiências de outras bases, é fundamental para o processo de integração entre os Sindicatos e para definir as estratégias que temos que ter para lutar pelos trabalhadores tanto no Brasil, como em outros países”, resumiu Valcir.

O próximo encontro acontecerá no Rio de Janeiro, em 2016. Os eventos são uma extensão do 1º Seminário Internacional de Organização Sindical, que aconteceu em Curitiba, em março desse ano.