A proliferação de trabalhadores em semáforos é um dos indicadores de que a crise econômica tem empurrado parte dos brasileiros para a informalidade como alternativa ao desemprego crescente.
Em todo o Brasil, são hoje cerca de 10 milhões de trabalhadores informais, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua compilados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
A quantidade de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada tem crescido nos últimos meses. No início deste ano, eram 9,7 milhões. “São profissionais sem nenhum tipo de contribuição trabalhista e previdenciária”, diz Tiago Cabral Barreira, pesquisador do Ibre e responsável pelo levantamento. Apesar do crescimento recente, esse número já foi maior. No fim de 2012, o contingente de informais chegou a 11,2 milhões de trabalhadores.
Dificuldade. Aos 54 anos, Genaro Angelo trabalha há 27 anos no mesmo semáforo, em Pinheiros. “Vendo bola, raquete, fruta no fim do ano”, afirma. “Vendo de tudo”. O último emprego no setor formal foi numa farmácia, no centro de São Paulo. “Desde então, vim para este farol e estou até hoje. A gente passa dificuldade, mas dá para levar a vida.”
Os produtos ele compra no centro de São Paulo. Para compensar a viagem do Itaim Paulista, onde mora com a mãe e irmãos, ele precisa vender R$ 150 por dia. No auge, ele conseguia ganhar entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil por mês, mas, com a crise, tira, no máximo, R$ 1,2 mil por mês. “Só não trabalho aos domingos, segunda-feira e feriados”, diz.
Além da revenda, outros optaram por aprender uma atividade “na marra” como alternativa ao desemprego. É o caso da boliviana Ana Jaquirena, de 31 anos. Há três meses, ao ser mandada embora da empresa de bijuterias na qual trabalhava há quatro anos, recorreu a amigos que vendiam seu próprio artesanato com um pedido encarecido: “Me ensinem a fazer alguma coisa”, conta.
Em questão de dias, Ana aprendeu a tricotar toucas e a trançar pulseiras e correntes de couro. Hoje, vende seus produtos no viaduto Santa Ifigênia, no centro de São Paulo. “Tem dia que a gente faz R$ 100 e dia que faz R$ 10, é imprevisível – mas sempre dá para comer”, diz. No final das contas, o balanço acabou sendo positivo para ela: Ana Jaquirena conta que tem conseguido ganhar com sua barraquinha mais do que na loja, onde ganhava R$ 1,2 mil por mês.
Expectativa. A tendência é de que o número de trabalhadores informais continue crescendo ao longo dos próximos meses, sobretudo porque o mercado de trabalho não deverá esboçar uma reação este ano. Para o Ibre, a taxa de desocupação deverá encerrar o ano em 12,3% – atualmente a desocupação está em 11,3%.
“A taxa de desemprego deve parar de aumentar somente no segundo trimestre do ano que vem, o que seria uma inflexão em relação à atual trajetória”, afirma Barreira, do Ibre. “Uma queda na taxa de desemprego só deve ocorrer no terceiro trimestre de 2017”, diz.
“Se as expectativas em relação ao aumento da confiança estiverem corretas, e isso rebater em vendas e consumo, o emprego deve ser um dos próximos indicadores a se recuperar – mas tudo indica que só no ano que vem”, afirma o professor Rafael Campelo, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).