A informalidade se comportou de maneira oposta nos dois extremos da pirâmide social durante a recessão. Enquanto ela cresceu para a classe E acima do avanço médio para a população total, ela caiu nas classes A e B, aponta levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) a pedido do Valor, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.
A taxa de informalidade da economia chegou a 44,5% em setembro de 2017, avanço de 3,5 pontos percentuais em relação ao segundo trimestre de 2014 – considerado o início da recessão. Ocupações como motorista de aplicativos, ambulante de alimentos e doméstica ganharam espaço no mercado laboral.
O patamar é o mais elevado da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012, e não houve recuo ao longo de 2017, mesmo com a melhora da economia e queda da taxa de desemprego. Antes da crise, a taxa de informalidade havia diminuído dois pontos percentuais desde o início da série.
Na classe E – pessoas que ganham até dois salários mínimos e representavam em setembro 67% da população ocupada -, a taxa de informalidade também vinha caindo antes da recessão, mas desde o segundo trimestre de 2014 até setembro de 2017, avançou 4,4 pontos percentuais, a 52,8%, velocidade maior do que para a população em geral.
De maneira oposta, nas classes A e B – que ganham mais de dez salários mínimos e representam cerca de 5% da população ocupada -, a taxa de informalidade recuou 3,3 pontos percentuais desde o início da recessão até o dado mais recente, de 14,8% a 11,5%.
Uma mesma explicação está por trás dos comportamentos antagônicos: a perda de renda da população durante a crise, com uma melhora do mercado de trabalho baseada em ocupações mais precárias e com menores rendimentos. “Como o emprego informal é o que está crescendo mais, e ele se concentra em ocupações de baixo rendimento, aumenta a classe E”, afirma Tiago Barreira, economista do Ibre-FGV.
Em 2017, foram criados 1,8 milhão de postos de trabalho. Desse total, mais de 1 milhão de pessoas passaram a trabalhar por conta própria e outras 598 mil, sem carteira assinada. No mesmo período, 685 mil pessoas perderam o emprego com carteira.
De maneira semelhante, os trabalhadores informais das classes A e B provavelmente perderam renda durante a crise, passando a engrossar a parte intermediária da pirâmide social, completa Bruno Ottoni, também da FGV, o que explicaria a queda da informalidade entre os mais ricos.
No levantamento, a taxa de informalidade foi calculada pelos economistas considerando a soma de empregados sem carteira dos setores público e privado, trabalhadores por conta própria e trabalhadores domésticos sem carteira assinada, como proporção da população ocupada total.
A classe social considerou a renda dos indivíduos e não a renda familiar per capita, por uma limitação dos dados da Pnad Contínua. As classes A e B são somadas no levantamento para reduzir possíveis distorções provocadas pela pesquisa por amostra.
Apesar de não ter ocorrido uma queda da taxa de informalidade ao longo de 2017, a FGV acredita que a composição do mercado de trabalho deverá melhorar em 2018. Após um Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) negativo em 20 mil vagas no ano passado, o Ibre espera saldo positivo de mais de meio milhão de postos de trabalho formal este ano. “Isso é um sinal de que o emprego formal vai se acelerar e pressionar para baixo a taxa de informalidade”, afirma Barreira.
O economista Thiago Xavier, da Tendências Consultoria, também acredita que o desemprego deve continuar a cair este ano e o mercado formal deve dar sinais de melhora, acompanhando a atividade, mas mesmo assim a taxa de informalidade não deve recuar de maneira significativa. “Em 2018 a ocupação ainda deve crescer acima do que cresce o emprego formal”, diz Xavier.