CartaCapital
por Redação — publicado 09/05/2018 14h59
O PT continua a defender a candidatura de Lula, mas as remotas chances de o ex-presidente, preso em Curitiba, ser autorizado pela Justiça Eleitoral a concorrer tem aumentado a pressão de lideranças do campo progressista em defesa de uma unidadade em torno de Ciro Gomes, do PDT.
Na terça-feira 8, Flávio Dino, governador do Maranhão pelo PCdoB, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que hoje o melhor nome para unificar a esquerda é Ciro. Ele defendeu que a esquerda abra mão das diversas pré-candidaturas, como a de Manuela d’Ávila, postulante de seu partido à Presidência. Seu temor é de que a multiplicidade de nomes impeça o campo progressista de emplacar um candidato no segundo turno.
Manuela D’Ávila não chegou a defender a unidade em torno de Ciro ou sinalizar uma possível desistência da disputa, mas afirmou que as declarações do governador maranhense são um “chamado à razão, ao diálogo”. “Ele falou isso depois de uma semana na qual PT e Ciro se atacaram de forma desnecessária”, argumentou.
Os ataques do PT a Ciro partiram principalmente de Gleisi Hoffmann, presidenta do partido. Ela afirmou, segundo a jornalista Mônica Bergamo, que o pedetista “não passa no PT nem com reza brava”. O pré-candidato do PDT não perdeu tempo: em entrevista à Folha de S.Paulo, disse ter “pena de uma pessoa da responsabilidade da presidente nacional do PT dizer uma coisa dessas”.
Curiosamente, a reação de Gleisi deu-se por causa de declarações de outro petista, o ex-governador baiano Jaques Wagner. Em 1º de maio, ele afirmou ser favorável à manutenção da candidatura de Lula até a última instância, mas admitiu que o PT poderia apresentar um vice para compor uma chapa com Ciro.
Na ocasião, ele defendeu ainda a inclusão de Joaquim Barbosa no diálogo com o campo da esquerda. O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal desistiu, porém, de se lançar como candidato pelo PSB na terça 8.
Wagner afirmou que, após 16 anos, estava na hora de ceder. “Não conheço na democracia ninguém que fica 30 anos. Em geral fica 12, 16, 20 anos. Defendi isso quando o Eduardo Campos ainda era vivo”, declarou.
Outro que engrossou o coro da aproximação do PT com o pedetista foi o filósofo Roberto Mangabeira Unger, conselheiro de Ciro. Ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos de Lula e Dilma Rousseff, Unger disse acreditar que, mesmo com a atual resistência dos petistas, a sigla deve chegar a um momento de “realismo político”. Ele se disse menos pessimista que o próprio Ciro sobre o diálogo. Recentemente, o pedetista afirmou que as chances de o PT ser vice dele são próximas de zero.
Uma aproximação do PT com Ciro depende principalmente de uma conversa de Lula com o pré-candidato. Declarações recentes do pedetista, aliadas à sua ausência da vigília em defesa do ex-presidente no Sindicato dos Metalúrgicos, abalaram a relação.
Ciro havia pedido para visitar Lula, mas teve a solicitação negada pela 12.ª Vara Federal de Curitiba, que cuida da execução penal do ex-presidente. O pedetista, assim como Carlos Lupi, presidente de seu partido, e o deputado federal André Figueiredo entraram com um pedido de liminar no Tribunal Regional Federal da 4ª região, mas tiveram mais uma vez o pedido negado pelo desembargador João Pedro Gebran Neto.
Pelo visto, uma reaproximação não depende apenas da boa vontade de Ciro e de Lula, mas da Justiça Federal.