Por Angela Bittencourt e Lucinda Pinto
A ata do Copom chancela a expectativa de que a taxa Selic cairá em maio entre 0,25 e 0,50 ponto percentual. Ao dosar os próximos ajustes da taxa básica com “parcimônia”, o Banco Central (BC) sinalizou claramente que alívio monetário mais acentuado dependerá de alterações no cálculo do rendimento da poupança. Analistas entendem que a estabilidade prolongada da Selic virá quando a taxa alcançar 8,75% ou, no limite, 8,50% ao ano.
Octavio de Barros, diretor do departamento de estudos e pesquisas econômicas do Bradesco, alerta inclusive que um equacionamento do tema poupança será lido como uma senha para a possibilidade de cortes adicionais da taxa de juro. Para ele, um corte de 0,5 ponto da Selic em maio é “plausível”. E admite que o mercado pode até reforçar as apostas de corte caso haja avanços na discussão sobre a poupança.
Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o condicionamento de mais cortes da Selic à mudança na poupança é um fato. Ele entende, porém, que a taxa básica a 8,75% é um bom nível para dar tempo à delicada decisão que o governo deverá tomar e não será da noite para o dia.
Selic a 8,75% ao ano, que pode ser alcançada no fim de maio, não é, porém, uma taxa coerente com a agressividade de baixa que o BC tem adotado na gestão da política monetária, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Ele trabalha com a possibilidade de a taxa encostar em 8,5% e ficar por aí até uma solução para a poupança. Essa taxa é emblemática e poderá “politicamente entrar no jogo como a taxa nominal mais baixa desde o fim da hiperinflação”.
Homero Guizzo, da LCA Consultores, pensa diferente. Considera que a poupança não chega a limitar novas quedas de juros porque há “gordura” nas taxas de administração e na tributação dos fundos, que podem ser reduzidas para acomodar uma Selic mais baixa.
O fato de o BC alertar que incorporou a taxa de juros neutra em suas projeções, além de ter sido mais incisivo em relação ao cenário internacional, vai no sentido que o BC quer, segundo Vale. “Há espaço para novas quedas de juro sem pressão de atividade.”
Na contramão do mercado, os analistas do Barclays consideram que a ata não firma qualquer compromisso com um novo corte de juros, mas apenas deixa a porta aberta. Como essa decisão dependerá de como os dados de atividade e inflação vão se comportar, afirma o economista Marcelo Salomon, a expectativa da instituição é de que a Selic permaneça estável em 9% ao longo de 2012.