Mercedes e Volvo ajustam produção de caminhões

Por Eduardo Laguna e Marli Lima | De São Paulo e Curitiba
 
Silvia Costanti/Valor / Silvia Costanti/Valor
Fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo suspende produção nesta semana; unidade já vinha adotando semana curta para adequar estoques

Apesar das medidas anunciadas ontem pelo governo federal na tentativa de levantar as vendas de caminhões, as montadoras de veículos pesados estão intensificando os ajustes para adequar a produção ao cenário de menor demanda e de estoques elevados na cadeia.

Segunda marca mais vendida nesse mercado, a Mercedes-Benz suspendeu, nesta semana, a produção de caminhões e ônibus na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. A parada também envolve as linhas de motor, câmbio e eixos.

Já a Volvo – que acaba de fechar um dos maiores acordos salariais, após dura negociação com o sindicato local – estuda suspender a produção de caminhões entre os dias 25 de maio e 6 de junho na fábrica instalada em Curitiba, no Paraná.

Por sua vez, a Scania, também instalada em São Bernardo, segue negociando novas paradas com os trabalhadores, após suspender a produção por quatro dias entre abril e maio. Como não tem a seu dispor nenhum saldo de férias coletivas – concedidas em janeiro -, a Scania tenta uma flexibilização nos acordos com os operários para diminuir ainda mais o ritmo de produção.

No caso da Mercedes-Benz, a fábrica já vinha adotando a semana curta, de quatro dias. Outros 480 operários haviam entrado em licença remunerada por 30 dias e, entre 2 e 11 de abril, a montadora concedeu férias para todos os trabalhadores. A parada desta semana se deu no regime de folga coletiva, no qual são feitos descontos no banco de horas do trabalhador.

Por meio de sua assessoria da imprensa, a Volvo informou que também considera usar o banco de horas de cerca de 1,3 mil empregados a partir de 25 de maio, com a possibilidade de estender o ajuste pelos seis primeiros dias do mês de junho.

Nelson Silva de Souza, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba, informou que a montadora de origem sueca poderá aproveitar os dias parados para antecipar adaptações previstas na área de pinturas e na linha de montagem de caminhões.

“O mercado está menor, mas foi pior em anos anteriores e não podemos deixar de exigir melhorias para os trabalhadores”, afirmou o sindicalista, referindo-se à greve de três dias realizada antes da celebração do acordo salarial que resultou no pagamento de R$ 25 mil para cada trabalhador – em um pacote que contempla participação nos lucros e resultados (PLR) e abono salarial.

As vendas de caminhões caíram 9,2% nos quatro primeiros meses de 2012, refletindo a resistência à nova linha de produtos, mais cara em razão das mudanças feitas na tecnologia do motor para atender ao programa de emissões de poluentes conhecido como Euro 5.

Na expectativa de aumento nos preços da nova linha, as transportadoras anteciparam compras no fim do ano passado e adiam agora, ao máximo possível, a aquisição dos novos modelos, o que se reflete no arrefecimento do mercado em 2012.

Junto com o maior custo do produto e do combustível, incertezas sobre o abastecimento do diesel de baixo teor de enxofre usado pelos novos caminhões têm dificultado a comercialização da linha Euro 5.

Embora em menor intensidade, paradas também vem sendo realizadas por montadoras de automóveis, que tentam desovar os elevados estoques formados nos últimos meses, como resultado do impacto nas vendas da maior seletividade dos bancos nas concessões de crédito. Na tentativa de solucionar esse problema, o governo federal anunciou ontem o corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nas vendas de carros e medidas destinadas a liberar o crédito ao consumo.

Em Betim, Minas Gerais, a Fiat aproveitou o arrefecimento das vendas para realizar entre ontem e hoje uma “parada técnica” de 15% de sua linha de montagem. Segundo a assessoria de imprensa da montadora, a Fiat realiza, nos dois dias, alguns ajustes na linha, como substituição de peças dos equipamentos.

A Ford vem utilizando o banco de horas para diminuir o ritmo de produção na fábrica em São Bernardo, onde produz o Novo Ka e a Courier, além de caminhões.

Na Volkswagen, que também vem realizando paradas para adequar estoques, será suspensa a produção na quinta-feira e na sexta-feira desta semana nas fábricas de São Bernardo e Taubaté (SP). A montadora de origem alemã informa que segue avaliando a situação dos estoques para decidir pelo uso de ferramentas de flexibilidade da produção.