Por Sérgio Ruck Bueno e Eduardo Laguna
Valor Econômico
Pressionada pela queda na produção brasileira de caminhões e ônibus neste ano, a fabricante de motores diesel MWM International decidiu reduzir a jornada de trabalho e os salários de 3,9 mil funcionários administrativos e das linhas de produção das unidades de Canoas (RS) e São Paulo. A empresa fechou acordo com os sindicatos dos metalúrgicos das duas cidades para aplicar a medida nos meses de junho, julho e agosto, com o objetivo de evitar a demissão de cerca de 900 trabalhadores.
A empresa fornece motores para a MAN, líder no mercado de caminhões com a marca Volkswagen e que vai diminuir o ritmo. A montadora vai suspender a produção nas próximas duas semanas, quando dará férias coletivas para os funcionários da fábrica de Resende (RJ), conforme informações do sindicato local. Segundo Bartolomeu Citeli, diretor de comunicação do sindicato dos metalúrgicos na região de Volta Redonda, a MAN se reúne hoje com representantes dos trabalhadores para discutir a produção do segundo semestre. A maior preocupação no momento é evitar cortes de funcionários. Nenhum representante da MAN foi encontrado para comentar a informação.
Na esteira das mudanças na tecnologia de motor – a partir de janeiro só podem ser montados caminhões no padrão Euro 5 – que encareceram o preço de veículos pesados em até 15%, as vendas de caminhões caíram 9,2% nos quatro primeiros meses do ano, levando a paradas de produção por montadoras como Volvo, Scania e Mercedes-Benz.
Nos próximos três meses, os funcionários terão redução de 20% na jornada e vão trabalhar de segunda a quinta-feira
Mas a produção caiu muito mais do que as vendas, ficando na casa dos 30%. Como os veículos com tecnologia antiga puderam ser vendidos até o fim de março deste ano, as montadoras anteciparam a produção e reduziram a montagem dos novos modelos.
No caso da MWM, nos próximos três meses os funcionários de Canoas e São Paulo terão redução de 20% na jornada e vão trabalhar apenas de segunda à quinta-feira. Em Canoas, onde a carga horária é de 42 horas semanais, os 1,3 mil empregados receberão salários 15% menores, enquanto em São Paulo, onde a jornada é de 40 horas, o corte nos vencimentos será de 17,5%. Não haverá impacto sobre o pagamento de férias e décimo-terceiro salário.
O acordo prevê estabilidade de 45 dias para os funcionários a partir de primeiro de setembro e a devolução dos valores que deixarão de ser pagos, corrigidos pela variação dos salários, quando a produção de motores voltar a 140 mil unidades por ano. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, Paulo Chitolina, no ano fiscal de novembro de 2010 a outubro de 2011 a MWM fabricou 148 mil propulsores, mas com a retração do mercado a projeção para os 12 meses seguintes caiu para 120 mil.
Conforme Chitolina, a queda da produção foi causada pelo impacto da mudança da tecnologia nos motores diesel a partir de janeiro. O Euro 5 é menos poluentes, mas é mais caro e utiliza combustível com baixo teor de enxofre, não disseminado nos postos de abastecimento, o que ainda causa receio por parte das transportadoras.
A MWM vai antecipar reajuste mínimo de 7,6% para os trabalhadores de Canoas referente à data-base de maio
Nos quatro primeiros meses deste ano, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção de caminhões caiu 30,3% ante igual período de 2011, para 42,9 mil, enquanto a de chassis para ônibus recuou 35%, para 8,9 mil unidades.
Procurada pelo Valor, a MWM informou, por intermédio de sua assessoria, que não comentaria o assunto. A empresa tem ainda uma fábrica de cabeçotes em Jesús Maria, na província argentina de Córdoba, mas os 180 funcionários locais não foram atingidos pelo corte de salários e jornada, disse o Sindicato de Mecânicos e Afins do Transporte Automotor (SMATA).
Para Chitolina, apesar do corte temporário dos salários, os funcionários de Canoas conseguiram “avanços” na negociação com a empresa. De acordo com ele, a MWM concordou em antecipar um reajuste mínimo de 7,6% referente à data-base de primeiro de maio, independente das negociações entre os sindicatos dos trabalhadores e das indústrias, e em adotar definitivamente a jornada de 40 horas a partir de setembro, sem redução salarial.
Em São Paulo não houve antecipação de reajuste porque a data-base dos metalúrgicos da região é apenas em novembro, explicou o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, Edson Passos. Segundo ele, a unidade paulista já opera em regime de 40 horas semanais e por isso também não haverá alteração na jornada após o período de ajuste na produção.
A Mercedes-Benz anuncia hoje medidas para ajustar a produção em São Bernardo do Campo. Além de adotar a semana curta – com apenas quatro dias úteis -, a montadora de origem alemã já concedeu férias coletivas de dez dias em abril, colocou 480 operários em licença remunerada e parou a produção na semana passada. Scania já realizou quatro paradas entre abril e maio e negocia com o sindicato outras paradas de produção. A Volvo planeja usar o banco de horas de 1,3 mil empregados a partir do fim deste mês. (Colaborou Cesar Felício, de Buenos Aires)