Em dezembro de 2021 encerramos o 9º Congresso da Força Sindical no qual, após uma série de debates, produzimos resoluções que tratam de temas que marcaram o Brasil e o mundo nos últimos quatro anos. Temas sobre política, a economia, o mundo do trabalho e o sindicalismo. Tratamos também, nas resoluções, de perspectivas para os próximos quatro anos, apontando em linhas gerais ações que a central visa desenvolver.
Os últimos quatro anos foram especialmente difíceis para os trabalhadores. Após um período de crescimento, de diminuição do desemprego e valorização do salário mínimo, de 2017 em diante vivemos uma situação de crescente desemprego, desindustrialização e rebaixamento dos salários. A crise se intensificou justamente após a promulgação da reforma trabalhista que piorou as condições de vida do povo brasileiro de diversas formas. Diminuiu a proteção do estado e aumentou o poder das grandes empresas oprimindo o trabalhador, em sua capacidade de reivindicação e negociação, e os micro e pequeno empresários. Neste contexto explodiu a trabalho precário, como os de entregas por aplicativos.
Esse período turbulento de alta elevação da pobreza, do desemprego e, a partir de 2020, com a terrível pandemia do coronavírus que produziu uma assustadora elevação de mortes, não se restringiu ao Brasil. A expansão da extrema direita como fenômeno crucial para a deflagração da crise global, deixou evidente as graves deficiências do neoliberalismo. Como reação a população passou a rejeitar aqueles políticos que estiveram em alta entre 2016 e 2019. Assistimos gradativamente um retorno do campo progressista em diversos países da América Latina, Europa e nos EUA, com Joe Biden e sua contundente defesa dos sindicatos.
Desemprego e empobrecimento
Desde 2019 convivemos no Brasil com o desastroso governo de Jair Bolsonaro. Ele conseguiu a façanha de piorar o país em todos os aspectos: social, econômico, político, ambiental e cultural. Quem mais sofre são os trabalhadores, já abalados pela reforma de 2017. O desemprego bateu recordes e, de forma incomum, ocorreu casado com a alta inflação. Uma combinação que jogou a população na precariedade e na miséria.
O empobrecimento está nas ruas. Assistimos o desolador fenômeno em que famílias excluídas pela política econômica, buscam abrigos nas calçadas e marquises, improvisando entre papelões, sacos ou qualquer material, alguma proteção.
A péssima gestão da pandemia massificou o desemprego, a miséria, a indigência, a paralização da economia e intensificou todas as mazelas sociais como a violência contra as mulheres, negros, homossexuais, crianças e idosos e o afastamento das crianças carentes das escolas. O presidente, entretanto, é insensível e alheio à população mais vulnerável.
Unidade para combater a crise
As adversidades exigiram da Força Sindical criatividade e proatividade. Ações unitárias, nas quais a Força teve grande participação, amenizaram a crise. As perdas decorrentes da pandemia poderiam ser muito maiores não fosse o advento do Auxílio Emergencial de 600 reais proposto e defendido bravamente pelas centrais sindicais. Além disso, disponibilizamos nossos espaços para que o poder público pudesse abrir mais leitos para atender os vitimados pela Covid-19. Criamos a IndustriALL Brasil, junto com a CUT, representando cerca de 10 milhões de trabalhadoras e trabalhadores, para combater a desindustrialização e o atraso na economia. E trabalhamos junto ao Congresso Nacional para barrar novas medidas do governo que visavam retirar ainda mais direitos como a carteira verde amarela e a MP1045.
Lutamos por políticas estruturais de inclusão social e distribuição de renda, mas entendemos que muitos não podem esperar por estas mudanças pois passam necessidades urgentes. Neste sentido, em agosto de 2021, a Força Sindical, junto com seus sindicatos, realizou uma campanha solidária para doação de 15 toneladas de alimentos e de cobertores para os desabrigados e para a população carente.
Vale ressaltar, como símbolo da unidade entre as centrais, a realização do 1º de Maio virtual em 2020 e 2021. No contexto da pandemia do coronavírus inovamos ao realizar dois grandes atos do Dia do Trabalhador totalmente online. Foram onze centrais sindicais brasileiras que projetaram a ideia da formação de uma ampla frente em prol da soberania nacional, unindo políticos de diferentes matizes.
A Força Sindical sempre respeitou a diversidade entre os trabalhadores
No 9º Congresso travamos grandes debates sobre temas como o meio ambiente, sobre o qual a Força tem uma extensa trajetória desde a Rio-92, sobre o combate ao racismo e a valorização dos negros no mercado de trabalho e sobre a equidade de gênero e o protagonismo das mulheres na sociedade.
Tais debates, como defendemos, estão ligados à pauta central dos trabalhadores e a luta por direitos e empregos. Tivemos, desta forma, o cuidado de pontuar que a central não deve se deixar levar por modismos e tendências liberais de cooptação do movimento social que geram divisão e ofuscam as prioridades no nosso campo. Desde a fundação da Força Sindical em 1991, há 30 anos, abordamos e defendemos as diversas condições e identidades que há entre os trabalhadores. Fomos pioneiros na criação das secretarias da mulher, do meio ambiente e da saúde e segurança do trabalhador. Por isso somos refratários a discursos que se vendem como avançados, mas que são essencialmente sectários e radicais e que se distanciam da luta central em defesa do povo trabalhador.
Além das ações que nos comprometemos a desenvolver como: aprimorar a participação das mulheres e assim permanecer evoluindo na abordagem da questão da mulher trabalhadora, implementar medidas para que visem assegurar a saúde e segurança no trabalho, defender práticas ambientalmente sustentáveis para a produção e dinamizar e reforçar nossas relações internacionais, pretendemos investir em formação sindical e em uma rede própria de comunicação, para combater a onda de desinformação e de notícias falsas.
Outro tema importante, que não nos escapou, foi a necessidade de abranger o crescente número de trabalhadores informais e precarizados. Tal assunto complexo, que está diretamente ligado a uma política trabalhista antissocial e de aprofundamento da desigualdade, é para nós um grande desafio. Um desafio que se impõe tanto pela urgência daqueles que estão nesta situação e tem necessidades imediatas, quanto pela luta para que a proteção legal se estenda para esses trabalhadores. Trata-se de um debate que tem pautado a central e nos levado a buscar o diálogo com as partes a fim de encontrar soluções em um contexto de grandes mudanças nas relações e contratos de empregos.
2022: eleições, Conclat e bicentenário da independência
Como ações imediatas, enfatizamos a importância das eleições de 2022 para o legislativo e executivo, incentivando que mais trabalhadores sejam candidatos e que tenham apoio para reforçar nossa representatividade no poder público. A necessidade da união de diversos setores comprometidos com a democracia e com a soberania nacional se impõe e, afirmamos, essa disposição deverá guiar nossas instituições nos meses que adentram.
A realização da Conclat no início de 2022 deverá alinhavar as posições das centrais sindicais e seus sindicatos frente aos candidatos que de apresentarem para disputar as eleições. Também planejamos realizar na Conclat debates acerca da estrutura sindical e o futuro do sindicalismo.
Ainda para 2022 pretendemos desenvolver atividades em comemoração ao bicentenário da independência do Brasil, em 2022, com o objetivo de valorizar a identidade nacional dos trabalhadores fomentar um clima de debate acerca da nossa história e do nosso futuro.
A conclusão do 9º Congresso coroou uma fase de aprendizados, difíceis e importantes. Aprendizados que nos tornarão ainda mais comprometidos e aguerridos na luta. Projetamos grandes esperanças para o próximo período. Esperanças que poderão ser concretizadas em um processo de transformação que contará com o engajamento de todo o povo brasileiro. Nossa maior meta é contribuir ativa e decisivamente para essa guinada que vislumbramos logo à frente.
Miguel Torres é presidente da Força Sindical, da CNTM e do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes