Indústrias da região demitem 7.500 desde o início do ano

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC

As indústrias do Grande ABC amargam, desde o início do ano, a perda de 7.500 empregados. Para efeito de comparação, corresponde a 62,5% do total de funcionários da planta da General Motors em São Caetano, em torno de 12 mil funcionários. Outro dado que evidencia a gravidade da crise no setor, especialmente entre as autopeças, é que de janeiro a junho do ano passado as fábricas da região contrataram 5.400 profissionais. Em 2010, o saldo ficou positivo em 7.500.

Os dados foram levantados pelas diretorias regionais do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) no Grande ABC, com base nas informações de suas associadas.

As fábricas que mais demitiram desde o início do ano estão em Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, com a eliminação de 3.200 empregos. Na sequência, aparecem Diadema, com corte de 1.900 postos, e São Bernardo, com 1.800 vagas a menos. São Caetano registrou o fechamento de 500 oportunidades. Somente em junho, 550 trabalhadores perderam o emprego nas sete cidades. Esse é o décimo mês consecutivo em que indústrias da região cortam funcionários.

“Os números falam por si só”, avalia o diretor do Ciesp de São Bernardo, Hitoshi Yodo. “A reação das medidas de estímulo do governo ao setor automotivo ainda não aconteceu para as autopeças. Elas estão refletindo nas vendas, mas não na produção”, diz ele, referindo-se à redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de carros produzidos em território nacional até o fim de agosto – no caso dos 1.0 o tributo não é cobrado.

Yodo acredita que, a partir deste mês, o ritmo de demissões do setor na região possa se desacelerar por conta do fim do processo de desova dos automóveis, e a necessidade de produção de nova frota.

Menos otimista, o diretor do Ciesp de Diadema, Donizete Duarte da Silva, dispara que as medidas do governo “são a esmo e não têm nada a ver com os nossos problemas”, em menção à situação dos fornecedores da cadeia automotiva. “Montadoras estão comprando peças de fora. Não se compra mais esses itens no País e, com isso, empresas do segmento estão desaparecendo.”

Silva relata que há firmas em que os funcionários batem cartão e ficam o dia todo sem fazer nada. Outras, vão quebrando aos poucos. Um exemplo é uma fábrica – que não teve o nome revelado – que no ano passado tinha 1.200 trabalhadores, hoje tem 300 profissionais e ameaça fechar as portas até dezembro.

As empresas que mais estão sofrendo são as de ferramentaria, tratamento térmico, fundição e fabricante de cadinhos (recipientes em que é feita a fundição). “Esses processos estão sendo eliminados com a compra do produto pronto do Exterior, especialmente da China”, relata Silva.

O setor de caminhões, mesmo com a redução dos juros – para financiamento usando recursos do BNDES – de 7,7% para 5,5% ao ano e a ampliação do prazo de 96 para 120 meses, também não reagiu. “Diferentemente de um carro, em que basta mudar o design de faróis, por exemplo, para ter mais saída, o que faz vender caminhão é a atividade econômica e não a cor da carroceria”, destaca Yodo. Em outras palavras, se não há o que transportar, não tem porque ampliar a frota.

Somado a isso, muitos anteciparam a compra no ano passado, antes da mudança de motor e combustível. A partir deste ano, os caminhões Euro-5 custam cerca de 15% mais do que o que permaneceu em vigor até 2011, o Euro 3, e são movidos a diesel S-50, menos poluente, porém, igualmente mais caro.

Ciesps se mobilizam para ajudar empresas

Os Ciesps (Centros das Indústrias do Estado de São Paulo) da região estão se mobilizando na tentativa de ajudar suas empresas. Em Diadema, por exemplo, o diretor regional da entidade, Donizete Duarte da Silva foi, junto com uma comitiva, oferecer os serviços das fábricas da cidade à Imbel (Indústria de Material Bélico do Brasil). “Estamos também divulgando aos associados as licitações para fornecer à Imbel. Queremos ajudar a fábrica daqui a encontrar novos setores para trabalhar.”

Outra ideia é levar as indústrias que estão em áreas centrais da cidade para condomínios verticais construídos em terrenos próximos ao Rodoanel e às rodovias Anchieta e Imigrantes a fim de facilitar a movimentação de cargas. “Os empresários trocariam seus terrenos, que a Prefeitura negociaria com incorporadoras de imóveis, por espaço no armazém verticalizado. Reduziríamos os custos de logística, produção e segurança, que seria unificada. Até o acesso dos trabalhadores seria facilitado.”

O Ciesp de São Bernardo recebeu ontem a apresentação do Projeto de Adensamento e Complementação Automotiva no Âmbito do Mercosul, voltado a estimular pequenas fábricas para fornecer à cadeia automotiva. O fundo, que totaliza US$ 3,9 milhões, busca oferecer consultoria, treinamentos, oficinas, estudos de mercado, desenvolvimento de manuais e rodadas tecnológicas para tornar as firmas mais competitivas, principalmente do ponto de vista tecnológico.

Na avaliação do especialista da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Alexandre Amissi, empresas da região têm condições de conseguir participar do programa. Estão destinadas ao Grande ABC 30 vagas. “O edital será bem simples e estará na internet. Deve ser divulgado no início de agosto e, em 30 ou 45 dias, pretendemos encerrar o processo e dar início ao treinamento.”

No Estado de São Paulo foram gerados 31 mil postos em 2012

No Estado de São Paulo, o cenário se difere do Grande ABC por conta da diversidade de segmentos industriais, a exemplo do de açúcar e álcool, que segurou o mau resultado de junho, quando foram fechados 7.000 postos de trabalho.

De janeiro a junho, foram gerados 31 mil empregos, 1,2% a mais do que no mesmo período do ano passado. Ainda assim, esse é o pior desempenho da série iniciada em 2006, com exceção de 2009, quando o indicador computou variação negativa de 1,87%.

Segundo o diretor do departamento de estudos e pesquisas econômicas da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Francini, o emprego no setor deve encerrar o ano com taxa negativa de 2,3%. “Isso representa média de 100 mil vagas a menos do que havia em 2011.”