Escrito por Karina Lignelli
Diário do Comércio
Independente do cenário de desaceleração econômica, categorias de trabalhadores com data-base no segundo semestre, como bancários, comerciários, metalúrgicos, químicos e petroleiros, têm perspectivas positivas de conquistar ganhos acima da inflação em suas negociações salariais. Medidas do governo, como a desoneração da folha em alguns setores, e o bom desempenho em outros, como o financeiro, devem influenciar os resultados da campanha, apontam dirigentes sindicais.
Em 2011, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mais de 60% das negociações tiveram ganho real médio de 2%. Em 2012, a expectativa é conquistar, no mínimo, índices semelhantes. Além de reivindicações trabalhistas, as categorias terão bandeiras como a redução dos juros e do spread bancário, por “inviabilizarem o crescimento da economia”.
Os comerciários de São Paulo, com 500 mil trabalhadores na pauta de negociação e data-base em setembro, já iniciaram suas mobilizações. De acordo com o presidente do sindicato da categoria, Ricardo Patah, além do reajuste de 10% (inclui aumento real de 5%, ante inflação média de 5% projetada para o mês), a categoria deve brigar pela melhora no trabalho aos domingos, com negociação de folga em um fim de semana do mês, Participação nos Lucros e Resultados (PLR), cesta básica e seguro de vida.
“Estamos discutindo a inflação passada nessa campanha, de um período que foi um dos melhores para o comércio nos últimos anos. Agora, mesmo que o Produto Interno Bruto diminua puxado pela indústria, o comércio se mantém forte, apesar de ter desacelerado. A partir de agosto, com datas comemorativas do semestre, nosso setor mostrará capacidade de superar o momento”, acredita.
O setor bancário é outro que também definiu sua pauta de reivindicações. De acordo com o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, a categoria vai brigar por reajuste de 10,25% (aumento real incluso), além de melhora na PLR e aumento do piso salarial para chegar ao mínimo necessário calculado pelo Dieese, estimado em R$ 2.416,38. Hoje, o piso é de R$ 1.400.
De acordo com a presidente do sindicato, Juvandia Moreira, a perspectiva de sair mais uma vez com ganho real é grande, porque não há nada no setor que aponte para prejuízos nos bancos. “É preciso conquistar aumento real para manter o mercado aquecido e a economia na rota de crescimento”, diz.
O presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar), Sérgio Luiz Leite, explica que a categoria tem debatido com o setor empresarial que aumentar o poder de compra do trabalhador tem sido um meio importante para ajudar a fortalecer o mercado interno frente aos efeitos da crise internacional. “É uma estratégia que tem dado certo desde a crise de 2008. Estamos otimistas”, afirma.
A categoria, que tem 115 mil trabalhadores, acredita que a desoneração da folha em grupos como o de Plásticos, por exemplo, influirá positivamente na negociação, por gerar economia de 30% a 40% nos custos das empresas (segundo estimativa do Dieese).
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, Miguel Torres, é da mesma opinião. Segundo ele, enquanto o mundo está em recessão, o Brasil tem uma economia que se mantém porque os trabalhadores têm procurado fazer a sua parte para defender a competividade da indústria. “O mercado sabe por experiência própria que com aumento real os trabalhadores compram e fazem a economia girar”, diz ele. Torres aposta que a categoria, com 260 mil trabalhadores, conquiste no mínimo 3% de ganho real, como em 2011.
Para o diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Fractal e professor de economia da Fundação Instituto de Administração (FIA), Celso Grisi, os sinais de reversão da desaceleração econômica começam a aparecer, puxados pelas medidas do governo que começam a fazer efeito, e pela entrada de US$ 6,5 bilhões de capital estrangeiro para investimentos em junho.
Outra boa perspectiva é da iminência de outro pacote do governo, mais abrangente, de desonerações trabalhistas em alguns setores. Tudo isso, segundo ele, pode refletir positivamente em reajustes com ganhos reais. “É bom para a economia porque faz aumentar o consumo. Haverá reajustes sim, mas certamente mais modestos que os anteriores, porque ainda vivemos um período de retração. Temos uma expectativa de recuperação que ainda não começou totalmente. O governo poderia ter sido mais incisivo, manteve uma postura agressiva em relação ao capital estrangeiro, mas perdemos o primeiro semestre”, conclui.