Emprego cresce menos, mas absorve toda nova mão de obra

No primeiro semestre deste ano, o país criou 1,047 milhão de novas vagas, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) relativo a junho, divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho. O volume de novas vagas foi 35% inferior ao mesmo período de 2011. Apesar dessa desaceleração, a abertura de vagas formais no mercado de trabalho é suficiente para absorver a oferta de mão de obra, que tem crescido menos. Números do Censo 2010 mostram que a população economicamente ativa (PEA) cresceu, em média, 1,38 milhão de pessoas por ano na última década.

Caso não haja alteração na taxa de fecundidade da população brasileira, nos fluxos migratórios e na produtividade do trabalhador, o país precisa criar cerca de 1,4 milhão de empregos formais por ano para atender a toda a oferta de mão de obra, segundo André Portela, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Quando o trabalhador se especializa, ele se torna mais produtivo e é preciso menos gente para fazer a mesma quantidade de trabalho”, explica. O professor reforça que a oferta de mão de obra estrangeira e uma mudança no perfil demográfico no país podem alterar esse cenário.

Segundo o Censo, entre 2000 e 2010, a população brasileira entre 15 e 60 anos – intervalo considerado idade ativa – passou de 105 milhões para 124,2 milhões, o que é equivalente a um crescimento médio anual de 1,92 milhão de pessoas. A taxa de atividade – fatia do total que está ocupada ou à procura de um emprego e para quem é necessário criar vagas – se manteve em 72% nesse período.

Jorge Arbache, professor da Universidade de Brasília (UnB), lembra que essa desaceleração no crescimento da população em idade ativa (PIA) e da população economicamente ativa favorece o recuo do desemprego no país, que já registra mínimas históricas – em maio, a taxa de desocupação calculada pelo IBGE ficou em 5,8%. “Se a criação de vagas estivesse caindo e a PEA crescendo mais fortemente, teríamos um problema de desemprego no país, o que não ocorre. A demografia tem ajudado a controlar o desemprego”, afirma.

Segundo Arbache, a PEA no Brasil já é muito alta quando comparada aos padrões internacionais. O índice médio de 72% deixa pouco espaço para que o número de pessoas à procura de emprego cresça sem que haja respaldo do mercado de trabalho. “A PEA cresce a taxas cada vez menores. O número de pessoas que estão chegando no mercado de trabalho ainda é grande, mas as taxas são decrescentes, o que também cria espaço para que o desemprego recue”, diz. Arbache calcula que a PIA se estabilizará por volta do ano de 2020.

A partir de dados do Censo e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2009, Portela, da FGV, calcula que a PEA no Brasil cresceu a um ritmo médio anual de 1,8% na última década. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de maio, realizada pelo IBGE nas seis maiores regiões metropolitanas do país, já indica um crescimento mais modesto desse indicador. Na comparação com maio de 2011, a PEA cresceu 1,4% (cerca de 300 mil pessoas) e a PIA, 1,2% (cerca de 500 mil pessoas).

O professor da FGV destaca que há uma mudança corrente no perfil da mão de obra brasileira. A fatia de jovens entre 15 e 19 anos inserida na PEA tem diminuído, enquanto que a população entre 20 e 39 anos ganha espaço. Ele atribui esse movimento à maior dedicação dos jovens aos estudos, o que tem adiado a sua entrada no mercado de trabalho.

Arbache, da UnB, ressalta que a baixa produtividade da economia brasileira ainda pode tornar um problema esse crescimento em ritmo mais modesto da oferta de trabalhadores. “A desaceleração da economia já chegou ao mercado de trabalho. Os dados de criação de emprego hoje refletem isso. Notamos um nítido adiamento das contratações”, diz.