Uso da capacidade das fábricas supera a média dos últimos cinco anos, mas especialistas têm dúvidas sobre retomada
O Estado de S.Paulo
A utilização da capacidade instalada da indústria este mês está superando a média dos últimos cinco anos, revela a prévia da Sondagem da Indústria, divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) atingiu 84%, em comparação a uma média de 83,7%. Economistas comemoram o resultado como mais um sinal de retomada da economia, porém ainda há cautela sobre o comportamento da indústria nos próximos meses.
A pesquisa apontou alta de 1,5% na confiança dos empresários, puxada pela melhora do ânimo da indústria automotiva, que já vê resultado dos incentivos fiscais. Mas a incerteza sobre a manutenção da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis fez com que os empresários moderassem suas expectativas para os próximos meses.
“É o setor automotivo, principalmente, que está na raiz disso. Os bens duráveis estão com influência grande (no resultado da confiança). Com a colocação dos estoques no mercado, esse segmento já tem uma perspectiva de voltar a produzir mais aceleradamente”, diz o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo. Também houve melhora no setor de eletroeletrônicos, porém menos expressiva.
Os estoques de veículos alcançaram em julho 27 dias, volume considerado compatível com o desejável, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O setor automotivo foi responsável por metade da queda da produção da indústria no primeiro semestre, de acordo com dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Por isso, economistas dizem que era esperado que a recuperação partisse das montadoras e que ao longo do segundo semestre a retomada deve se espalhar por outros setores,
A perspectiva de um segundo semestre melhor para a produção, no entanto, não deve ser suficiente para compensar o resultado decepcionante do primeiro, avalia o consultor do Iedi Julio Sérgio Gomes de Almeida.
“Talvez o segundo semestre não compense o primeiro. Vai ser um ano ruim com um final feliz para a indústria”, diz o economista, ao prever que em 2013 a recuperação continue. Para isso, Almeida conta com a retomada na concessão do crédito, o que, para ele, compensaria o fim da redução do IPI.
Para garantir um crescimento sustentado da indústria, o governo precisaria manter o esforço fiscal e monetário. A avaliação do economista-chefe da corretora Gradual Investimentos, André Perfeito, é de que, para uma alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,75% em 2012, como prevê o boletim Focus do BC, as contas nacionais devem avançar 1,1% no terceiro trimestre e 2,1% no quarto trimestre, ante os períodos imediatamente anteriores.
Perfeito aposta em expansão de 0,34% no segundo trimestre. “O governo está de mãos atadas. Sobrou para o BC garantir os estímulos ao setor produtivo que o governo estará limitado a garantir.” O crescimento do Nuci para 84% ainda não seria suficiente para o governo comemorar a retomada da atividade, diz ele.
Economistas concordam que a retomada deve se consolidar no último trimestre, embora os primeiros sinais já sejam sentidos. A expectativa é de que, com o aumento da utilização da capacidade instalada, que para o Iedi fechará o ano em 86%, as indústrias sejam compelidas a voltar a investir para atender à demanda.
“Na medida em que as empresas percebem que a capacidade é ocupada, elas tendem a ampliá-la via investimentos”, diz o professor de economia Antonio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP.