Por Marina Falcão e Felipe Marques
Os cortes nas taxas de juros chegaram às grandes varejistas. Liderando as reduções estão as lojas de vestuário, em especial as que têm operação própria de financiamento aos seus clientes. Caso da Renner, que anunciou na semana passada reduções nos juros de empréstimo via cartão da rede. A Guararapes, controladora da Riachuelo, e a Lojas Marisa planejam seguir o mesmo caminho.
O estopim desse movimento entre o varejo de moda foi dado pela C&A. Os cartões da rede são administrados pelo Bradesco, que comprou o Banco Ibi em 2009, e, portanto, estão incluídos no corte expressivo dos juros de empréstimo rotativo e das operações de parcelamento com juros anunciados pelo banco semana passada. O rotativo é a forma de crédito oferecida ao cliente que não consegue pagar o total da fatura no vencimento ou que fica inadimplente.
“Todas as taxas de juros cobradas em cartões de loja de parcerias com o Bradesco virão para um dígito”, disse, na semana passada, o diretor executivo do Bradesco responsável pela área de cartões, Marcelo Noronha, em teleconferência para divulgação das novas taxas.
Segundo Noronha, cada loja tem uma tabela própria e, portanto, vai adotar uma valor diferente de juros. Mas a magnitude deve ser semelhante a vista nos cartões tradicionais do banco, em que as taxas máximas de crédito rotativo foram de 14,9% para 6,9% ao mês. No pagamento parcelado com juros, as taxas caíram de 8,9% ao mês para 4,9%. As novas taxas valem a partir de novembro.
Também no começo de novembro, a Renner começará a praticar juros menores: 9,8% ao mês, no máximo. As taxas máximas anteriores cobradas eram de 12% no empréstimo pessoal e 15,8% no rotativo do cartão. A taxa mínima, no empréstimo pessoal, passou de 6,9% para 4,9%.
Ontem, a diretoria da Guararapes reuniu-se para planejar como se dará o processo de redução dos juros da Midway, financeira do grupo que não tem parcerias com bancos. Segundo Flávio Rocha, presidente da Riachuelo e vice-presidente da Guararapes, a ideia é reduzir apenas as taxas mínimas, tanto do rotativo quanto parcelado do cartão Riachuelo. “A intenção é dar crédito mais barato para a parcela de clientes com menor risco”, disse Rocha.
A diretoria da Guararapes ainda deve se reunir novamente nos próximos dias para bater o martelo. Mas Rocha garante que, ainda neste ano, novas taxas começarão a ser praticadas: “O projeto é ter juros sempre um pouco abaixo dos nossos concorrentes diretos”.
Segundo Rocha, os impactos na receita da sua operação de crédito serão compensados, no médio prazo, pelo aumento das vendas. “O consumidor vai gastar menos com juros e mais com produto. Estamos pensando no resultado global da empresa, e não no resultado individual da nossa financeira”, disse o presidente da Riachuelo.
A maior parte das vendas nos cartões das varejistas de moda é feita sem juros. As operações com juros do Banco Renner são apenas 12% das vendas totais no cartão da rede. Na Marisa, essa fatia é de 19%, e, na Guararapes, de 20%.
A Marisa pretendia começar a diminuir suas taxas só no meio de 2013. Agora, com o movimento da concorrência, os planos devem ser antecipados para dezembro, diz uma fonte. Segundo apurou o Valor, a Marisa começaria testando uma redução de 16% para 12% no juro máximo do rotativo. Como a Renner baixou a mesma taxa para 9,8%, a empresa cogita seguir o caminho da rival. A Marisa tem uma parceria com o Itaú, mas é a varejista quem administra seus cartões de loja (sem bandeira). Procurada, a empresa não quis se pronunciar.
Principais agentes da política do governo de redução de taxas, os bancos públicos têm uma presença historicamente menor no crédito em parceria com o comércio. Isso ajuda a explicar a demora para a onda de cortes chegar ao varejo. As parcerias com o varejo estão tradicionalmente concentradas em grandes bancos privados, caso do Itaú, Bradesco e HSBC. Procurados pelo Valor, os bancos não falaram sobre o assunto.