Eduardo Campos | De Brasília
Mesmo com a utilização da capacidade abaixo da média histórica e recuo nos empregos, a indústria encerrou o mês de agosto com forte crescimento no faturamento, de acordo com os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Na série com ajuste sazonal, o faturamento real subiu 4,8% em agosto sobre julho, maior alta mensal desde fevereiro de 2011, e atingiu o maior patamar da série histórica iniciada em 2005. Em índice, o faturamento está em 130,1, crescimento de 30% desde 2006 e alta de 4,83% sobre dezembro de 2012. Sobre agosto do ano passado a alta é de 7%.
Já a Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) encerrou agosto em 80,9 pontos, em estabilidade sobre julho, que teve sua leitura revisada de 81,6 pontos, para 80,9 pontos, também na série com ajuste sazonal. A média histórica, desde 2005, é de 81,52%. O Nuci apresenta tendência de queda desde fevereiro de 2011, quando marcava 83,3 pontos.
O emprego, também dessazonalizado, mostrou retração de 0,3% em agosto na comparação com julho, e caiu 1% sobre agosto de 2011. A massa salarial real também caiu no confronto mensal, cedendo 2,6%, mas sobre agosto do ano passado, apresentou crescimento de 4,6%.
Para a CNI, os dados corroboram a expectativa de recuperação que a instituição tinha e tem para a indústria nos próximos meses. “Com isso fica caracterizada uma melhora da atividade, sempre lembrando que o quadro geral que domina a economia mundial não mudou. O que mudou foram as variáveis domésticas e alguns estímulos”, disse o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, ressalvando que os desafios de manter a produtividade permanecem.
De acordo com Castelo Branco, essa postura positiva da CNI decorre da mudança de ambiente macroeconômico doméstico, como a alteração da relação câmbio/ juros, e também capta alguma reação às medidas de estímulo que foram implementadas pelo governo nos últimos meses, em especial aquelas voltadas aos bens duráveis.
Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, quando os indicadores apontam um para cada lado, os números mais robustos são mesmo o faturamento e a renda, pois não abrem muito espaço para discussões sobre metodologia de cálculo.
Mas mesmo com esses dois fatores mostrando variação positiva no comparativo anual, Gonçalves ainda acha que é cedo para afirmar que o setor industrial entrou em um período de recuperação.
“Estamos num período angustiante. Não se sabe se essa virada é uma recuperação firme ou alguma acomodação mais leve”, disse.
Gonçalves reconhece, no entanto, que faz parte da “minoria”, já que a “maioria” dos analistas acredita que o Brasil crescerá 1% por trimestre daqui para frente.
De acordo com o economista, além da falta de consistência dos dados econômicos, outro fator que o deixa reticente é a própria avaliação do Banco Central (BC), que tem previsão de crescimento em 2013 para abaixo dos 4%. No Relatório de Inflação de setembro, o BC estima crescimento de 3,3% do PIB nos quatro trimestres até junho de 2013.