Para analistas, dados de emprego indicam atividade em alta

Os dados referentes ao mercado de trabalho divulgados ontem na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de setembro refletem uma retomada da atividade, na avaliação de economistas, e já indicam um avanço no ritmo de crescimento dos salários, que subiram no mês passado. Apesar de a taxa de desemprego ter subido para 5,4% nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ante 5,3% em agosto, a ocupação voltou a crescer acima de 2% frente ao mês anterior, e os salários reais retomaram o fôlego.

Na comparação entre setembro deste ano e igual mês de 2011, o número de ocupados cresceu 2,3%. Essa é a segunda maior taxa para esse tipo de comparação registrada no ano (menor apenas que em maio, de 2,5%, ante maio de 2011). Isso indica que há vagas sendo criadas – e preenchidas. No entanto, a taxa de desemprego cresceu 0,1 ponto percentual porque a População Economicamente Ativa (PEA) cresceu em ritmo maior que a população ocupada na comparação sem ajuste sazonal com agosto – 1,0% e 0,9%, respectivamente. Ainda assim, a taxa de desemprego em setembro é a menor para o mês em dez anos, desde o início da série histórica do IBGE, em 2002.

“Esse ritmo será mantido até o fim do ano e está ligado à retomada da atividade. É um forte avanço da ocupação, condizente com o momento de recuperação da economia”, avalia Caio Machado, da LCA Consultores.

Não menos empolgante foi o dado referente ao rendimento médio real dos ocupados. Sempre na comparação com igual mês de 2011, o indicador avançou 4,3% em setembro, para R$ 1.771,20. Em agosto, o avanço tinha sido de 2,3% e, em julho, de 0,9%. O dado de setembro mostra uma forte recuperação no ritmo de crescimento, após o tombo registrado em julho, isso porque a média de crescimento do rendimento médio real no primeiro semestre ficou em 4,8% ante igual período de 2011.

“O rendimento, que agora voltou ao normal, é um reflexo da atividade. O poder de barganha dos trabalhadores ainda é alto e eles têm conseguido salários maiores”, diz Machado. A massa de rendimento real habitual alcançou R$ 41,3 bilhões, valor 0,9% maior que o total registrado em agosto, e foi 6,5% maior que o verificado em setembro do ano passado.

O ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman acredita que até o fim do ano a recuperação da atividade deixará o mercado de trabalho “ainda mais apertado”. “O efeito mais forte da recuperação se traduzirá em dois, três meses no mercado de trabalho”, diz. Como consequência da aceleração, Schwartsman vê um cenário favorável a salários nominais mais altos no fim do ano, “o que não garante salário real maior, por causa da inflação”, afirma. “A demanda por mão de obra continua crescendo e os salários acompanham.”

Em um mercado de trabalho apertado, qualquer variação positiva da atividade resulta em grande oscilação nos salários, segundo Fabio Ramos, da Quest Investimentos. Ele diz que o estoque de trabalhadores desocupados é baixo. Por isso, pequenas oscilações na demanda por trabalhadores têm forte impacto nos salários.

Ramos pondera o crescimento de 4,3% do rendimento médio real dos ocupados na comparação entre setembro com igual mês de 2011. “Os salários estão fracos. Como a atividade hoje ainda está fraca, o poder de barganha do trabalhador diminuiu. E a inflação [menor que em setembro de 2011] ajuda a poluir esse índice [4,3%], indicando salários reais maiores.”

Foi o desempenho do emprego na indústria em São Paulo que teve peso maior sobre o avanço da taxa média de desemprego, na avaliação de Mariana Hauer, economista do Banco ABC Brasil. Alvo de várias medidas de estímulo do governo, a indústria foi o setor que mais demitiu em setembro, cortando 49 mil postos de trabalho, na comparação com agosto, no conjunto das seis regiões. Na avaliação regional, o número de pessoas desocupadas em São Paulo cresceu 12,8%, levando a taxa de desemprego para 6,5% na região, ante 5,8% em agosto.

(Colaboraram Diogo Martins, do Rio, e Ana Conceição, de São Paulo)