O aumento do emprego e da renda permitiu que, nos últimos seis anos, 11,4 milhões de brasileiros passassem a ter planos de saúde, que hoje atendem a 48,6 milhões de pessoas. Essa expansão provocou a superlotação de hospitais e laboratórios, porque milhões de cidadãos das classes C e D, que antes só iam ao médico em caso de urgência e usando a rede pública, passaram a recorrer à rede privada.
Levantamento da consultoria Aon Hewitt Brasil mostra que entre 2006 e 2012 o número de consultas aumentou 8,3% e o de exames, 29%. Com o acesso ao convênio médico, as pessoas estão suprindo a demanda reprimida e agendando consultas, indo a hospitais e, principalmente, fazendo exames de análises clínicas e de imagem, um dos maiores gargalos do Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a Formato Clínico, consultoria especializada em medicina diagnóstica, foram realizados 700 milhões de exames no mercado privado de saúde no ano passado. Cada usuário de plano realizou entre 12 e 15 exames durante o ano. “Existe uma lenda de que médico bom é aquele que pede um monte de exames”, diz Humberto Torloni, vice-presidente da Aon Hewitt.
Diante da demanda crescente, as empresas de medicina diagnóstica aumentaram as atenções para esse público. O Grupo Fleury, reconhecido por sua presença no segmento premium, criou no ano passado a bandeira a+, voltada para a classe C. A nova marca registra crescimento expressivo. “É nítida a presença de novos clientes beneficiados com o emprego formal”, diz Omar Hauache, presidente do Fleury.
Um desafio para a rede privada é reduzir o tempo de espera dos pacientes. Estudo do Hospital São Camilo indica que, do tempo total em que um paciente é atendido no pronto-socorro, 70% são perdidos na espera. Também é comum a falta de vagas para internação nos hospitais. “Em alguns dias da semana a taxa de ocupação ultrapassa os 100%”, diz Francisco Balestrim, presidente da Anahp, entidade que reúne os 45 maiores hospitais do país.
Classe C entra nos planos de saúde e superlota hospitais
Beth Koike | De São Paulo
Dos simples aos sofisticados, os hospitais e laboratórios particulares estão lotados a ponto de serem comparados a estabelecimentos do sistema público de saúde. O motivo da superlotação deve-se ao seguinte quadro: nos últimos seis anos, 11,4 milhões de pessoas passaram a ter plano de saúde, com o aumento do emprego formal e da renda. No total, há no país 48, 6 milhões de usuários de convênios médicos.
Pesquisa da consultoria Aon Hewitt Brasil, com 350 mil usuários de planos de saúde das principais capitais do país, mostra que entre 2006 e 2012 aumentou em 29% o número de exames solicitados para cada consulta médica realizada. O número de consultas cresceu 8,3% e o de internações, 7,4%.
Essa expansão se dá, principalmente, por causa da chegada da classe C ao mercado privado de saúde. Até então, essa camada da população só tinha acesso à rede pública. Agora, com um convênio médico na mão, o brasileiro da classe média emergente agenda consultas, frequenta hospitais e, principalmente, faz exames de análises clínicas e de imagem – um dos maiores gargalos do Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a Formato Clínico, consultoria especializada em medicina diagnóstica, foram realizados cerca de 700 milhões de exames no mercado privado de saúde em 2011. Em relação a 2010, o aumento é de 11,8%. Dados da Formato Clínico e da Aon mostram que cada usuário de plano de saúde realizou, em média, entre 12 e 15 exames no ano passado.
“Existe uma lenda de que médico bom é aquele que pede um monte de exames. Se o profissional solicitar um exame só, o paciente desconfia e procura outro médico”, diz Humberto Torloni, vice-presidente técnico da Aon Hewitt.
Diante dessa demanda crescente, grupos de medicina diagnóstica aumentaram as atenções a esse público. O Grupo Fleury, reconhecido por sua presença no mercado de alta renda, criou em maio do ano passado a bandeira a+, voltada para os públicos das classes B e C. “A marca a+ registra crescimentos expressivos. É nítida a presença de novos clientes, que foram beneficiados com o emprego formal, nas nossas unidades”, diz Omar Hauache, presidente do Fleury.
Uma das prioridades de Hauache para os próximos anos é abrir novas unidades para que não se repita nos laboratórios o que está havendo hoje nos hospitais.
É comum uma espera de duas horas no pronto-socorro de um hospital particular. Segundo estudo do Hospital São Camilo, do tempo total em que um paciente é atendido no pronto-socorro, 70% é perdido na espera.
É comum faltar vagas para internação nos hospitais. Até os hospitais mais sofisticados do país sofrem com a expansão da demanda. “Em alguns dias da semana, a taxa de ocupação ultrapassa os 100%. Por isso é importante fazer o gerenciamento de leitos. Os leitos para pacientes que fazem cirurgia, por exemplo, podem ser liberados após o procedimento médico”, diz Francisco Balestrim, presidente da Anahp, entidade que reúne os 45 maiores hospitais do país.
Outro motivo dos hospitais estarem tão cheios é que hoje muitas pessoas procuram o pronto-socorro para tratar casos simples, que poderiam ser tratados em consultórios. “Com a demora para conseguir agendar uma consulta em um médico especialista, muitas pessoas procuram o pronto-socorro. Além disso, no hospital elas já fazem os exames e outros procedimentos necessários”, diz Henrique Salvador, presidente do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte.
A maior frequência nos hospitais premium também ocorre porque o plano de saúde virou ferramenta para reter profissionais. “Nessa fase de escassez de talentos, muitas empresas estão oferecendo como atrativo, além do aumento do salário, um plano de saúde vip”, disse Torloni.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que até o ano passado não exigia prazo mínimo para que uma consulta fosse agendada, estabeleceu que uma consulta precisa ser agendada em sete dias úteis e sessões com psicólogos e nutricionistas em dez dias, no máximo. A partir de julho deste ano, a ANS começou a punir as operadoras que não cumprem esses prazos – 38 foram punidas.
Com a demanda em alta, os hospitais aumentaram os preços. O valor médio gasto em uma internação subiu 47,3% nos últimos seis anos, segundo a Aon.