Por Arícia Martins, Guilherme Soares Dias e Sérgio Ruck Bueno | De São Paulo e de Porto Alegre
As empresas reduziram ou estão repetindo o número de dias de férias coletivas neste ano, em um sinal de recuperação do nível de atividade. No ABC, os incentivos concedidos pelo governo ao setor automotivo e a expectativa de que o primeiro trimestre de 2013 mostre um ritmo melhor da economia diminuíram os dias parados em montadoras e empresas de autopeças em relação ao ano passado. Em setores de bens semiduráveis, como têxteis, vestuário e calçados, o número de dias repete 2011, mas há relatos de empresas com encomendas firmes e que preferiam parar menos.
Em poucos setores há um aumento no número de dias parados – um deles é o de caminhões, que estava em um ritmo de aquecimento atípico no fim de 2011 e agora voltou a normalidade. Outros segmentos com maior índice de férias é o de motos, na Zona Franca de Manaus. Pela legislação, as empresas precisam informar a concessão de férias coletivas aos sindicatos de trabalhadores com 15 dias de antecedência.
Na base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à CUT, a média das fábricas de São Bernardo é de menos dias com produção parada. A Ford vai parar apenas em dias que antecedem o Natal e o Ano Novo, conforme o banco de horas dos funcionários, mas não dará o tradicional período de recesso. Em nota, a empresa afirmou que, em 2012, “não concederá férias coletivas em suas fábricas instaladas no Brasil devido à readequação de produção à atual demanda do mercado.”
A Scania, que fabrica caminhões, reduziu em dez dias as férias coletivas dos 2,6 mil funcionários da linha de produção, que vai de 26 de dezembro a 7 de janeiro. No ano passado, 80% desses funcionários pararam por 30 dias. Na Volkswagen, os funcionários do chão de fábrica vão parar do dia 24 ao dia 3 de janeiro, mas em um regime de compensação de banco de horas, como em 2011.
A Mercedes-Benz dará mais dias de férias coletivas neste ano, em média: os 3 mil trabalhadores da linha de caminhões param dia 7 de dezembro e terão 27 dias de folga, ante 23 dias no ano passado, e os de ônibus e agregados, que somam 8 mil, terão 20 dias, a partir do dia 14. Em 2011, os de agregados haviam folgado 14 dias e os de ônibus, 21.
Em Santo André, de acordo com Sivaldo da Silva Pereira, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, o quadro geral também é de menos dias de recesso. Das 15 grandes empresas da região, apenas uma, do setor de caminhões, dará mais dias de férias coletivas. Nas demais 14, cuja maioria pertence ao ramo de autopeças, o período de férias vai, em média, do dia 21 ao dia 7, menor do que os quase 30 dias em 2011.
Para o secretário-geral, o IPI reduzido para o setor automotivo explica o tempo de parada menor nas fábricas, mas também há uma perspectiva de ritmo mais forte da atividade no início de 2013.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, Jair dos Santos, relata que as dez maiores empresas do polo mantiveram, na média, o número de dias de férias concedidos no fim do ano em relação a 2011, com pouca diferença, de dois ou três dias, em algumas fábricas.
Na Marcopolo, 90% dos 12 mil funcionários das fábricas de Caxias do Sul e em Duque de Caxias (RJ) terão férias coletivas na virada do ano, diante de 60% na passagem de 2011 para 2012, informa o diretor de recursos humanos, Carlos Magni. Segundo ele, porém, a programação deste ano está alinhada com o padrão histórico e 2011 é que foi “um ponto fora da curva”, devido à antecipação de encomendas às vésperas da entrada em vigor, em janeiro passado, do novo padrão de emissões atmosféricas dos motores a diesel.
Na Randon, cerca de 85% dos 11,6 mil funcionários das fábricas de Caxias do Sul, São Leopoldo (RS), Chapecó (SC) e Guarulhos (SP) terão férias que variam de dez a 21 dias corridos, relata o gerente executivo de recursos humanos e administração do grupo, Vanderlei Novello. De acordo com ele, o percentual de pessoas em férias é o mesmo do ano passado, mas em Caxias do Sul, por exemplo, o número de empregados foi reduzido de 12 mil para 10 mil desde 2011 devido a ajustes feitos ao longo do ano para adequar a mão de obra aos volumes de produção.
Na Zona Franca de Manaus, as empresas de eletroeletrônicos vão dar 20 dias de férias para os funcionários, igual a 2011. Já o setor de duas rodas vai aumentar o período de 20 dias para 30 dias de férias por causa da redução de vendas, que chegou a cerca de 20% em 2012, segundo o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Wilson Périco. “O interesse de consumo de motocicletas existe, mas aumentou a severidade para a análise de financiamentos e isso diminuiu as compras”, avalia.
No Sindicato dos Químicos do ABC, que representa empresas dos setores de plástico, petroquímica e tintas, entre outros, as férias coletivas serão por período de 20 dias para os funcionários de Santo André e Diadema. Já algumas empresas de São Bernardo que trabalham com produção de plásticos para o setor de autopeças terão redução de férias coletivas de 20 para dez dias por causa de aumento da demanda.
Em Franca, a indústria calçadista vai manter neste ano a média de 2011 de ter férias de 15 a 20 dias, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de calçados do Município de Franca, Fábio Cândido. “O cenário é o mesmo de 2011, com certa melhora já que tivemos menos demissões. 2010 foi o último ano ruim, em que tivemos 30 dias de férias”, lembra. O setor calçadista emprega cerca de 30 mil funcionários em 1,1 mil empresas na cidade.
No Ceará, empresas do ramo metalúrgico estão adiando ou até cancelando as férias coletivas, devido à demanda forte. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do Estado, que representa cerca de 10 mil trabalhadores, a Mallory adiou em duas semanas, para o dia 28 deste mês, o início das férias coletivas. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Esmaltec informou que não vai parar neste fim de ano “devido à demanda aquecida”.
Por meio de nota, a Tupy informou que cerca de 65% do seu quadro de funcionários, somadas as unidades de Joinville (SC) e Mauá (SP), entrará em férias coletivas em 24 de dezembro. Parte deles volta ao trabalho em 7 de janeiro e parte no dia 14. No ano passado, 40% dos trabalhadores pararam na unidade de fundição e as unidades de blocos para motores e usinagem mantiveram a produção normal.
As fábricas de produtos agrícolas da CNH, dona das marcas Case e New Holland, que ficam em Curitiba (PR) e Sorocaba (SP), não terão férias coletivas. Normalmente elas param nesta época, mas agora vão aproveitar o aumento nas vendas de tratores e colheitadeiras.
Já a Renault terá a maior parada entre as montadoras, mas a empresa vai aproveitar a virada de ano para ampliar a capacidade instalada. O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba informou que também haverá férias coletivas na Volvo. Elas vão de 19 de dezembro a 7 de janeiro no setor de caminhões pesados e de 12 de dezembro a 8 de janeiro nas áreas de pintura, caminhões semipesados e ônibus, indicando uma paralisação superior aos dez dias de 2011. Na unidade da Volkswagen de São José dos Pinhais haverá parada de 22 de dezembro a 2 de janeiro, mas os dias serão compensados em 2013 e 2014. A Volks parou dez dias em 2011 e dez dias em 2012, ou seja, vai parar menos agora.
(Colaboraram Murillo Camarotto, de Recife, e Marli Lima, de Curitiba)