Maurício Hashizume |
A preocupação em unir movimento sindical e juventude, dois polos de mobilização social, ocupou posição central nas discussões de representantes de organização de trabalhadoras e trabalhadores presentes no Fórum Social Mundial da Tunísia.
Túnis – Uma das chaves dos levantes populares que derrubou o ditador Ben Ali, na Tunísia, em janeiro de 2011, foi a convergência entre o movimento sindical e a juventude do país. A preocupação em unir estes dois polos de mobilização social ocupou posição central nas discussões de representantes de organização de trabalhadoras e trabalhadores presentes no Fórum Social Mundial (FSM) 2013.
No texto-base redigido por membros de sindicatos das mais distintas partes do mundo que tomaram parte na assembleia de convergência sobre a “solidariedade internacional perante a crise”, a preocupação em “melhorar a visibilidade” dos sindicatos junto a jovens aparece logo no primeiro parágrafo, antes mesmo da menção ao “trabalho decente” – atualmente uma das principais “bandeiras” de referência em nível internacional.
A dificuldade compartilhada por muitos sindicatos de se aproximar dos jovens foi um dos motivos pelos quais a Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Brasil, juntamente com entidades sindicais da região de Quebec, no Canadá, promoveu uma oficina para debater a renovação sindical durante o FSM.
“Uma das dificuldades na tentativa de recolocar o trabalho no centro da agenda está em entender melhor onde está se dando o trabalho hoje e quem são essas pessoas que estão trabalhando”, pontua a secretária de comunicação da CUT, Rosane Bertotti. “O ex-presidente Lula dizia primeiro que era preciso que o sindicato estivesse na porta da fábrica. Depois, ele passou a dizer que era necessário atuar dentro da fábrica. Hoje, muita gente já não está mais dentro da fábrica. Está em pequenas e múltiplas unidades de produção fragmentadas e dispersas, fazendo serviço em casa ou mesmo nas ruas”.
Uma das estratégias citadas pela dirigente para atrair o interesse de jovens – que sofrem diante de altos índices de desemprego em diferentes partes do mundo, mas mantém uma distância com o cotidiano das lutas sindicais – é desenvolver, segundo Rosana, mais programas e ações concretas no campo da subjetividade. “A arte e a cultura têm um papel crucial na formação política. Pensamos que o caminho de convencimento seria apenas pela razão e `esquecemos` do subjetivo”, afirma Rosane.
Maior central sindical da Tunísia e uma das entidades mais ativas de oposição ao atual governo do governo do partido islâmico Ennahda, a União Geral dos Trabalhadores da Tunísia (UGTT), também tem adotado medidas para reduzir o distanciamento com a juventude. Entre as diversas cooperações que mantêm com outras organizações da sociedade civil, a UGTT firmou parcerias com as universidades, criando centros de formação para facilitar a conexão entre estudantes universitários e o mundo do trabalho.
De acordo com o dirigente sindical da UGTT, Ben Ahmed Mustapha, o objetivo maior consiste em “fazer dos sindicatos um espaço de disputa real por um mundo melhor, uma referência na discussão de ideias, um espaço aberto a quem compartilha dos mesmos anseios e queira se integrar”. Nesse sentido, o FSM significa, para ele, uma oportunidade para efetivar coordenações concretas, para além de protocolos de intercâmbio e cooperação “que ficam no papel”. Além da realização de um Fórum Social Sindical próprio, em período específico e distinto dos encontros do FSM, outra proposição que ganhou força foi a da possível realização de “greves de solidariedade” transfronteiriças em sinal de apoio à luta sindical da classe trabalhadora, especialmente aquelas submetidas à pressão pela redução dos direitos, como é o caso de nações estranguladas pela dívida do Sul da Europa.
Desenha-se também uma agenda conjunta de lutas para o mês de outubro, período de grandes mobilizações mundo afora em prol do “trabalho decente”. Com relação aos países do Norte da África e Oriente Médio que têm sido palco da chama da Primavera Árabe, a secretária da CUT vê algumas semelhanças com o cenário de redemocratização de nações da América Latina, após a queda de ditaduras militares, há algumas décadas. “Não é fácil manter a unidade”, aponta. O estreitamento de relações com movimentos sociais, acredita Rosana, pode ajudar a propiciar a contribuição dos sindicatos em disputas mais amplas como a relacionada com a democracia e a atuação do Estado.
Enquanto sindicalistas concluíam o posicionamento resultante das discussões no FSM, um jovem participante acompanhava as discussões. À Carta Maior, Mike, nome pelo qual preferiu se identificar, comentou que esteve presente na assembleia dos representantes de sindicatos porque queria ter conhecer as condições de trabalho de quem vive experiências de exploração, injustiça e discriminação na pele. “O movimento sindical é muito importante, mas parte dele ainda é muito conservador. Poderiam, por exemplo, ser mais participativos e mais horizontais. Isso certamente facilitaria o diálogo com outros movimentos”.