Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo
Indústrias nacionais de mão de obra intensiva, como têxtil e confecção, têm uma oportunidade de melhorar a competitividade frente aos asiáticos no mercado interno brasileiro se mudarem parte da linha de produção ao Paraguai. Essa é uma das constatações de estudo que será divulgado hoje pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que aponta que uma calça jeans, por exemplo, pode ter o custo reduzido em 35% em relação ao Brasil caso seja produzida no país vizinho.
A Fiesp quer levar empresários do setor a considerarem instalar fábricas do outro lado da fronteira. Para tanto, o estudo levou em conta quatro variáveis na composição dos custos: mão de obra, insumos, manutenção e juros. O Paraguai é mais barato em todos.
O país é mais atrativo na energia elétrica e nos salários, que são, em média, 35,5% mais baratos. Mesmo com a redução da tarifa para a indústria brasileira em vigor desde fevereiro deste ano, o quilowatt-hora paraguaio é 63% mais barato.
Outra vantagem apontada pela Fiesp é o sistema tributário do país vizinho, que é mais simplificado e detém uma porcentagem menor no custo final do produto. No Brasil, o impacto dos encargos sociais e trabalhistas sobre a folha de pagamento é de 100%. No Paraguai, é de 31%.
Assim, no fim da cadeia produtiva, uma calça jeans custa em média US$ 7,75 para ser produzida no Brasil, enquanto no país vizinho ela sai por US$ 5,73. O país também provê facilidade de matéria-prima, já que, como o Brasil, é um tradicional produtor de algodão
Para Thomaz Zanotto, diretor-adjunto do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da federação, mudar para um país próximo é uma forma da indústria contornar a falta de competitividade. “Em vez de comprarmos da China, nos abastecemos de um produto que está mais próximo e é produzido por empresas brasileiras. O Paraguai não é mais distante para o Sudeste do que o Nordeste”, afirma.
Algumas empresas do Sul estão cruzando a fronteira. A Hering, por exemplo, conta com três fábricas no país, de acordo com ex-embaixador e presidente do conselho do Derex, Rubens Barbosa.
“Há mais de 20 empresas brasileiras instaladas no Paraguai. Há prioridade para alguns setores, como o próprio têxtil, cerâmica e autopeças, que são muito taxados no Brasil. Também há tarifa zero para exportar a mercadoria aos brasileiros, por causa do Mercosul”, diz.
Uma maior presença das indústrias nacionais no Paraguai já foi tentada anteriormente durante o governo Lula. No entanto, a instabilidade no fornecimento de energia elétrica no país vizinho, principalmente no verão, ajudou a desestimular os empresários, que naquela época tinham estavam em situação mais confortável para concorrer com os importados.
Um dos trunfos agora, segundo Thomaz Zanotto, é a entrega da linha de transmissão que liga a capital Assunção à Usina de Itaipu. A obra, financiada pelo BNDES, deve terminar no segundo semestre.
“A Grande Assunção concentra dois terços da população paraguaia e não vai contar mais com interrupções de energia. É lá que está a mão de obra. A indústria têxtil é emblemática porque, se quem se instalar lá prosperar, será aberto um caminho para setores com estruturas semelhantes como calçados, couros, móveis e metais sanitários”, afirma.