Em 15 anos, INPC subiu 160,6%, enquanto a TR variou apenas 41%
Clarice Spitz
RIO – Especialistas concordam que a atual forma de cálculo do FGTS está defasada e que o trabalhador sai perdendo, com uma remuneração bem abaixo da inflação. Hoje, ela é obtida por juro de 3% acrescido da Taxa Referencial (TR), essa última praticamente zero desde meados do ano passado. Nos últimos 12 meses, a inflação medida pelo INPC subiu 7,16%. Os especialistas alertam, no entanto, que a substituição da TR por um índice de preços, como propõem os sindicatos, representa o risco de aumentar a indexação da economia, o que é mais nocivo ao trabalhador.
O economista e professor de matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho afirma que, desde 1999, a TR deixou de acompanhar a inflação. Ele calcula que, nos últimos 15 anos, enquanto o INPC subiu 160,67%, a TR variou 41,02%. Segundo ele, se fosse feita feita a correção do FGTS pelo INPC, como reivindica a Força Sindical, haveria impacto direto nos financiamentos habitacionais, que também teriam que ser corrigidos pelo índice de preços e, ainda, na poupança.
— É algo que é preciso ser analisado com muito cuidado. Seria uma bagunça total no mercado. É preciso examinar as consequências — O mais grave é que se propõe que essa mudança seja retroaja. Quem vai cobrir isso e com quais recursos?
O economista Fabio Gallo Garcia, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), defende que a remuneração do FGTS deveria, no mínimo, cobrir a inflação do período, com cálculo semelhante à poupança.
— Poderia até perder um pouco da inflação, mas indexar a economia seria pior. O grande inimigo é a inflação.