Após bancários e petroleiros, metalúrgicos SP conseguem reajuste acima da inflação

Apesar do desempenho fraco da economia, os reajustes salariais tendem a ser mais altos neste segundo semestre em relação aos primeiros seis meses do ano. Neste domingo, 260 mil trabalhadores filiados ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo aprovaram em assembleia acordo que prevê reajuste salarial de 8%.

Apesar de PIB fraco, aumento salarial deve ser maior no 2º semestre

Sindicato

Assembleia- Metalúrgicos de São Paulo conseguem ganho acima da inflação, que será estendido a mais 53 sindicatos

Cleide Carvalho

A data-base da categoria é 1° de novembro e a estimativa é que o reajuste real (descontada a inflação) alcance 2,4%. O mesmo percentual deve ser aplicado a outros 540 mil metalúrgicos cujos 53 sindicatos são ligados à Força Sindical e fazem campanha unificada com o de São Paulo.

Os bancários, que fizeram uma greve de 23 dias, tiveram os mesmos 8% de reajuste, com aumento real de 1,82% (a inflação acumulada depende da data-base da categoria). Os petroleiros, que conseguiram índice de 8,56%, tiveram aumento entre 1,82% e 2,33% acima da inflação.

Custo pressiona indústria
O reajuste é muito bom, se considerarmos que a indústria está no limite, totalmente sem estoque. Se partíssemos para uma greve, o setor perderia muito — diz Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi.

A pressão por aumento real pega a indústria no contrapé. Não são poucos os estudos que mostram a perda de competitividade brasileira. Tradicionalmente, os reajustes do segundo semestre são maiores do que os do primeiro. Mesmo assim, os índices desta vez estão acima dos esperados. Afinal, a economia não vai tão bem: o Brasil voltou a ter o juro real mais alto do mundo, de 3,5%, a expectativa de crescimento da economia em 2013 não passa de 2,5% e a inflação segue bem acima do centro da meta de 4,5%, ficando perto de 6%.

— Os resultados deste ano estão acima das previsões. A economia segue instável e inconstante, e o mercado de trabalho está praticamente congelado. O componente novo é a referência criada por grandes categorias — afirma o professor José Dari Krein, diretor do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp.

Estudo do Dieese mostra que 2012 foi o melhor ano para o ganho real dos trabalhadores. Em média, o percentual de reajuste acima da inflação ficou em 2,26%. Em 2010 foi de 1,62% e, em 2011, de 1,37%.

No primeiro semestre deste ano o ganho real foi de apenas 1,19%, abaixo dos anos anteriores. Uma das explicações é que, até junho, a inflação era ascendente. Ou seja, a taxa acumulada em 12 meses era mais alta. Por isso, no primeiro semestre, de acordo com o Dieese, apenas 20% das categorias conseguiram reajuste real acima de 2,01%. A maioria teve percentuais menores de ganho real: 34,8% conseguiram até 1% e 29,6% , algo entre 1% e 2%.

Uma das explicações para aumentos reais significativos seria a disputa por trabalhadores qualificados. Mas, segundo José Silvestre Prado de Oliveira, diretor de Relações Sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os profissionais em falta são aqueles em que o salário é negociado individualmente. Nas negociações coletivas, o mérito pessoal não entra.

Oliveira afirma que, apesar dos ganhos reais altos para as grandes categorias, a tendência é que os aumentos reais de 2013 fiquem de fato abaixo dos de 2012, uma vez que a economia não dá sinais de avanço.