Cidades ´novatas´ se preparam para receber montadoras

Eduardo Laguna | De Itirapina, Araquari e São Paulo

Iracemápolis e Itirapina, no interior paulista, mais Araquari, em Santa Catarina, são, em comum, cidades pequenas escolhidas para abrigar montadoras que entram em operação nos próximos dois anos. Os investimentos da Honda, em Itirapina, somados aos das marcas alemãs de luxo Mercedes-Benz e BMW em Iracemápolis e Araquari, respectivamente, somam R$ 2,1 bilhões e devem mudar o perfil agrícola desses municípios, cuja população, em cada um, não chega a 30 mil moradores.

O terreno para a chegada das fábricas começou a ser preparado com a instalação de escolas técnicas para formação de operários e a seleção dos fornecedores que vão suprir autopeças e serviços às linhas de montagem. Embora não tenham hoje essa vocação, as três cidades estão próximas de polos industriais de onde os fabricantes de carros vão buscar não só os fornecedores mas também a mão de obra qualificada que precisam.

Isso não significa, porém, que nada terá que ser feito nas cidades onde as fábricas de automóveis estão sendo erguidas. Distritos industriais serão criados nelas para abrigar fornecedores que precisam estar perto das linhas de montagem, ao mesmo tempo em que obras viárias devem sair do papel para permitir melhor mobilidade e acesso às novas fábricas. Paralelamente, a expectativa de crescimento na demanda habitacional dá origem a grandes projetos imobiliários e, empolgadas, as prefeituras projetam evolução em progressão geométrica na arrecadação de impostos municipais.

Araquari, no norte de Santa Catarina, será a primeira a viver essa transformação. De uma economia baseada na agricultura do arroz, da banana e do maracujá, além da criação agropecuária, a cidade, a partir de outubro, passa a ser sede da primeira fábrica da BMW na América do Sul. A cerca de 20 quilômetros dali, na vizinha Joinville, a montadora alemã já treina seus primeiros operários numa réplica da futura linha de montagem. Outra escola foi montada pelo Senai em Araquari para, a partir do mês que vem, iniciar a formação de profissionais como mecânicos e eletricistas de veículos.

A preparação da mão de obra, contudo, vai além da qualificação técnica. Como o domínio do inglês será uma exigência não apenas em cargos executivos dentro da companhia, mas também a fornecedores que desejam vender à BMW, a prefeitura local e a iniciativa privada se uniram na criação de cursos gratuitos de aprendizagem da língua em escolas municipais. “Teremos que fazer a transição de cidade pequena e bucólica para uma cidade industrial em prazo muito curto. Os grandes desafios serão preparar a população e capacitar gestores”, diz Gilberto Boettcher, empresário que preside a Ampe, uma associação de micro e pequenas empresas de Araquari.