O fim da produção do sedã Classic na fábrica da General Motors (GM) em São José dos Campos, no interior paulista, levou a cortes de mão de obra e desligamentos de linhas também na cadeia de suprimento. Até agora, o maior ajuste foi feito pelo grupo Filoauto, um fabricante de autopeças instalado em Indaiatuba (SP), que demitiu, no início do mês, 550 de seus 750 trabalhadores devido ao rompimento de um contrato de fornecimento à montadora.
Mas demissões também aconteceram recentemente na TI Automotive (53 operários) e na Eaton (20 trabalhadores), ambas em fábricas instaladas perto da linha de montagem da GM em São José, conforme informações do sindicato local. Antes disso, a Johnson Controls, no início do ano passado, já tinha desativado uma fábrica na cidade que produzia assentos do Corsa, aposentado com a chegada do Onix.
A história que resultou no esvaziamento das atividades industriais da GM no Vale do Paraíba é amplamente conhecida. Sem acordos para flexibilizar as regras de trabalho e aliviar custos de mão de obra com o sindicato da região – com quem a montadora tem uma relação conflituosa -, a fábrica saiu da rota de investimentos da GM, perdendo projetos para outras unidades do grupo no país – em São Caetano do Sul (SP) e Gravataí (RS).
Desde junho de 2012, quando iniciou uma série de programas de demissões voluntárias, acompanhados por dois grandes cortes em março e dezembro do ano passado, o quadro de funcionários no parque industrial da GM em São José caiu de 7,9 mil para cerca de 5,5 mil trabalhadores. A eliminação de 2,4 mil vagas desse período é equivalente à quase toda a ocupação na fábrica da Hyundai em Piracicaba, também no interior paulista, onde trabalham aproximadamente 2,5 mil pessoas.
Nesse período, os fornecedores da GM também tiveram que reorganizar suas operações, direcionando a produção a outras montadoras que já estavam instaladas ou chegaram à região. Mas isso não evitou ajustes, que vieram com maior força nas empresas mais dependentes da empresa de origem americana. A GM era, por exemplo, a única cliente abastecida pela extinta fábrica da Johnson Controls em São José. No caso do grupo Filoauto, fornecedor de componentes como para-choques e protetores de cárter, a GM responde por cerca de 80% da produção, segundo informações do sindicato dos metalúrgicos de Campinas, que representa os trabalhadores da região onde a empresa está sediada.
Os 200 funcionários mantidos pela Filoauto estavam em greve como protesto às demissões, mas voltaram ontem ao trabalho. Na tentativa de reverter o corte, o sindicato dos metalúrgicos entrou com uma ação de dissídio coletivo na Justiça do Trabalho. Contudo, nas duas audiências de conciliação – incluindo a última, na quarta-feira, realizada com a presença de representantes da GM -, não houve acordo entre as partes e o caso será, então, julgado pelo Tribunal Regional do Trabalho, informa o presidente do sindicato de Campinas, Jair dos Santos.
Nenhum porta-voz da Filoauto foi localizado para comentar o assunto. Procurada pelo Valor, a Eaton também não tinha um executivo disponível para falar sobre as últimas demissões em São José. O diretor de recursos humanos da TI Automotive, Marcelo Santiago, disse que 51 funcionários foram demitidos em dezembro, dois a menos do que o número informado pelo sindicato. Além da desativação da linha do Classic, afirmou que as demissões são fruto da desaceleração na atividade do setor.
No ABC paulista, ainda não há registros de demissões em massa por conta do fim da produção da Kombi, cuja linha, na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP), também foi desativada em dezembro. Algumas medidas, contudo, foram tomadas para adequar a força de trabalho neste início de ano, como as férias coletivas de 30 dias dadas pela própria Volks a 500 operários no complexo industrial de São Bernardo.
De acordo com informações do sindicato dos metalúrgicos do ABC, a Karmann-Ghia, um dos fornecedores da Kombi, afastou por um mês 102 operários. O retorno está previsto para a segunda-feira e o tempo em que eles ficaram parados será descontado do banco de horas.
Por volta de 40 a 50 companhias estavam envolvidas no fornecimento de peças para a Kombi e o Gol G4, outro modelo que saiu de linha em dezembro, segundo estima Cláudio Sahad, coordenador do grupo de pequenas e médias empresas do Sindipeças, entidade que abriga os fabricantes de componentes automotivos.
A própria empresa de Sahad, a Ciamet, fornecia buchas utilizadas no chassis da perua. Segundo o executivo, o fornecimento de peças para a linha da Kombi representava um faturamento anual ao redor de R$ 900 mil. “Desenvolvemos novos produtos para preencher essa lacuna, mas ainda não conseguimos compensar totalmente essa perda de receita”, afirma.