Por Tainara Machado | De São Paulo
O mercado de trabalho formal em dezembro deve mostrar resultado melhor do que o observado em igual período do ano anterior pelo quarto mês seguido. A recuperação do emprego com carteira assinada na segunda metade de 2013, porém, deve ser insuficiente para que a geração de vagas no ano passado tenha superado os 868,4 mil empregos criados em 2012. Em média, oito consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data estimam fechamento de 452,4 mil postos de trabalho com carteira assinada em dezembro, montante menor do que as 496,9 mil vagas extintas em igual período do ano anterior. O mês costuma ser marcado por demissões, já que neste período a indústria e o setor de serviços, por exemplo, encerram contratos temporários de trabalho.
As estimativas para o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulga hoje, vão de 502 mil a 401,9 mil postos de trabalho a menos no mês passado.
Se confirmada a expectativa dos economistas, o país deve encerrar 2013 com abertura de 726,8 mil vagas, o menor resultado desde 2003, pelo menos. Em 2012, a economia abriu 868,2 mil postos. Essa conta considera apenas os registros entregues dentro do prazo legal, enquanto os resultados divulgados pelo MTE no fim do ano em geral incluem também os cadastros enviados com atraso à pasta.
O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, projeta que as demissões tenham superado as contratações em 451,4 mil postos no último mês do ano passado, resultado mais favorável do que o saldo negativo de 496,4 mil empregos observado em dezembro de 2012. Para Romão, essa melhora deve ter ocorrido na maioria dos diversos ramos de atividade. Para serviços e administração pública, por exemplo, que juntos registraram 144,5 mil demissões líquidas no último mês de 2012, o economista estima fechamento de 125,6 mil postos de trabalho em dezembro do ano passado.
Apesar do fraco ritmo de atividade, a indústria de transformação também deve ter registrado resultado ligeiramente melhor no fim do ano passado do que em 2012. Romão estima desligamento de 170 mil trabalhadores no período, 8.000 a menos do que em igual mês de 2012. “Ainda existe certa desconfiança em relação ao ritmo de avanço da atividade econômica, mas por outro lado o crescimento da renda teve alguma recuperação no segundo semestre”, afirma Romão, para quem essa melhora pode ter contribuído para reanimar o mercado de trabalho – e a geração de empregos formais – na segunda metade do ano passado.
Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, estima fechamento de 481,8 mil vagas no último mês de 2013. Apesar do número ligeiramente mais positivo do que o de 2012, Bacciotti observa que, na série com ajuste sazonal elaborada pela consultoria, houve pequena deterioração do mercado de trabalho formal na passagem mensal, de 70 mil novos postos de trabalho, em novembro, para 52 mil em dezembro. “O emprego continua a ser sustentado pelo setor de serviços e pelo comércio, já que a indústria segue em marcha lenta. É um ritmo fraco de criação de vagas, que condiz com a atividade econômica”, afirma.
Se confirmados os resultados esperados pelos economistas, a geração de vagas nos ano passado não deve superar 780 mil postos, na visão mais positiva, da Votorantim Corretora.
Romão, da LCA, estima que a criação de vagas com carteira assinada em 2013 deve ter ficado em 729,9 mil, o menor saldo positivo desde 2003, pelo menos. Para Romão, é pouco provável que o emprego formal venha a repetir os resultados observados em anos anteriores, como 2011, quando a economia gerou 1,6 milhão de postos, já que o processo de formalização, bastante intenso na última década, tende a perder ímpeto ao longo do tempo.
Esse avanço mais moderado da população ocupada, observa Romão, está em linha com o que tem sido mostrado na Pesquisa Mensal do Emprego, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar dos levantamentos terem abrangência e escopo diferentes, o que não permite comparações diretas, a população ocupada, na pesquisa do IBGE, deve deixar crescimento de 2,2% em 2012 e ter avançado 0,7% no ano passado. Esse movimento, diz Romão, está relacionado à retenção de mão de obra no fim de 2012, o que inibiu contratações principalmente no primeiro semestre do ano passado, além do ritmo ainda modesto de crescimento da economia.
Para 2014, o economista projeta saldo positivo entre admitidos e desligados de 914,8 mil. A expectativa de um resultado melhor para a geração de empregos formais neste ano, diz Romão, se baseia na perspectiva de que a construção civil terá um ano um pouco mais favorável, em função da realização da Copa do Mundo e das eleições, que devem aquecer o segmento de infraestrutura.
Ao mesmo tempo, o comércio e o setor de serviços vão continuar sustentando o mercado de trabalho formal por causa da expectativa de manutenção do crescimento da renda real. A LCA estima que a renda, que avançou 4,1% em 2012, tenha crescido 1,7% no ano passado e praticamente repita essa taxa em 2014, com expansão de 1,5%, de acordo com a PME do IBGE.
Menos otimista, Bacciotti, da Tendências, avalia que o mercado de trabalho formal em 2014 deve mostrar números bastante parecidos, possivelmente até mais fracos, do que o observado em 2013, por causa do baixo crescimento.